segunda-feira, 2 de abril de 2012

Desenredo (Trechos)

Do narrador a seus ouvintes:


- Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Com elas quem pode, porém? Foi Adão dormir, e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.


Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas muito tendo tudo de seu secreto, claro, coberto de sete capas.


Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinho de papel.


[..................................................................................................................................]




Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retornaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.


E pôs-se a fábula em ata.




João Guimarães Rosa, em Tutameia.

5 comentários:

  1. Vixe, nossa senhora! Esse cabra está na categoria de "Fundador de Língua".


    Sem mais. Gênio.

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    1. Genialíssimo! Lamentavelmente ainda pouco lido em nossas
      paragens...!?

      beijo

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  2. Cirandeira!

    Belíssimo! Assim como rudo que vem de Guimarães Rosa. Não conhecia "Tutameia". Vou correr atrás.

    Beijos

    Mirze

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  3. Sem comentários, porque nem precisa, né? Beijos, Ci!

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  4. Um gënio com as palavras, beijo Lisette.

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