quarta-feira, 18 de abril de 2012

Planetinha peludo



Quatro mil, oitocentos e sessenta e oito passos.
Duzentas e oitenta e sete calorias consumidas.
Exatos três quilômetros em caminhada acelerada no parque  que mora ao lado.
No parque que mora ao lado, correm pessoas, passeiam pessoas, vivem pessoas. 
No meio, há canteiros de flores. 
Em uma ponta,  há quem coma  miséria em latas.
Na outra, para compensar o que entra, há quem abaixe as calças e defeque sua humanidade virado de bunda pra vida.
No parque há também cães e donos.
Bípedes como eu e quadrúpedes como o meu Bono.
Duplas com um pé atrás do outro, com dois pares de patas uns atrás dos outros.
Quase todas com o  objetivo de entrar em forma, criar uma forma, manter a forma. 
O Bono perdeu a dele.
O Bono, com esse nome de bolacha, de uma hora para outra, ficou redondo e entrou em órbita. E, planetinha peludo sem satélite, colidiu com a preguiça e com a vontade de ser pantufa,  chinelo velho sem um pé torto, cão sem pulgas.
Então, fomos para o parque dar quatro mil, oitocentos e sessenta e oito passos.
Perder duzentas e oitenta e sete calorias.
Andar exatos três quilômetros. 
Fomos.
Perdemos.
Andamos. 
E voltamos para casa, pé depois de pé, pata depois de pata, derrubados por um certo cansaço e,
estranhamente, muito, muito mais pesados.

2 comentários:

  1. Grande bípede,




    Gostei muito do ritmo do texto.




    Um beijo, moça.

    ResponderExcluir
  2. daqui a nada também saio para correr, se a chuva me permitir [eu espero que continue a chover]
    beijinho

    ResponderExcluir