sexta-feira, 6 de abril de 2012

La Poesia terminó conmigo






Yo no digo que ponga fin a nada
no me hago ilusiones al respecto
yo quería seguir poetizando
pero se terminó la inspiración.
La poesía se ha portado bien
yo me he portado horriblemente mal.

Qué gano con decir
yo me he portado bien
la poesía se ha portado mal
cuando saben que yo soy el culpable.

¡Está bien que me pase por imbécil!

La poesía se ha portado bien
yo me he portado horriblemente mal
la poesía terminó conmigo.

Nicanor Parra, nasceu em San Fabian de Alico(Chile), em 1914. Recebeu em 2011 o Prêmio Cervantes pelo conjunto de sua obra. É considerado o criador do antipoema.

8 comentários:

  1. Cirandeira,


    Há muita "poesia" sobre a dificuldade em se poetizar. Poderíamos chamar a todo esse conjunto de "Variações sobre a Página em Branco".

    Pergunta singela: qual o problema de se deixar a página em branco?


    Não se coage a palavra a vir/estar presente, como não se coage qualquer afeto alheio. Conquista-se, ou não. Jamais se impinge.

    Poesia é estado de alma. Eventualmente, "evocação de um estado de alma" [sim, há quem saiba evocar estados de alma]. Não mimese, nem "forçar a barra", nem dizer, ad infinitum, "que quereria dizer algo, mas não encontro como dizê-lo".


    Quando alguém se afasta, deixa-se-o livre para escolher. Ou não? [Os homens estilo "Linha Direta", aqueles do "se não for minha não vai ser de ninguém" - um dos mantras mais tacanhos do vocabulário afetivo humano - não concordariam com essa assertiva...]. Nicanor Parra entrevê essa liberdade da palavra ir-se, como um amor não correspondido. Ainda que esperneie um pouco, alega não aderir à "caça predatória" da palavra perdida. Nem sei se ele pensa sobre a afirmação que faz. Talvez haja menos de ideologia do que só "mais um poema sobre o não-poema". [Coisa que eu, particularmente, não considero poema, de forma alguma, seja na pena de quem for]. Só estudando o conjunto da obra do escritor em questão [que sabe escrever, of course, é mais do que óbvio], biografia, e o significado de "antipoema" pra ele. Se for falar sobre a ausência de poema, não daria este título a seu [não-]"movimento". Mas a obra é mais vasta do que este poema. Não se ganha Prêmio Cervantes sem méritos indiscutíveis. Entonces, restrinjo-me, aqui, a falar deste tema específico: do poema "se comportar bem ou mal", "fugir ou não", e de variados modos de (não) se lidar com tal "infortúnio".









    Um beijo!

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    1. É, Marcelo, um poema só não faz verão :) , e, além disso,
      um poema pode ter várias interpretações, não é mesmo?
      Encaminhei pra ti aluns poemas dele para que o conheça melhor.

      um beijo

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  2. Claro.

    Nada sei do Nicanor, e só me ative ao tema do "quero tanto poetar, mas agora me escapam as letras" [vc já deve ter ouvido esta canção, não?!]. ;)


    Um beijo, amiga!

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  3. Falando em poetas e/ou "cortejadores amorosos": julgamos o "artista" pelo conjunto da obra, e não por um verso isolado. Afinal, até os caras "Linha Direta" um dia dançaram as músicas que suas damas gostavam, e se comportaram melhor diante das famílias de suas futuras reféns.

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  4. Gostei muitíssimo dos poemas enviados!

    :)

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  5. Está claro o que significa "antipoema" para Nicanor. Tal qual a ruptura dos modernistas com os "cânones" do que seria poético antes deles. Vou colocar um dos poemas que vc me passou aqui, pois ele evidencia bastante o espírito "poético-antipoético" do poeta:



    ADVERTÊNCIA AO LEITOR

    O autor não responde pelos incômodos que possam causar seus escritos.
    Apesar dos pesares
    o leitor deverá dar-se sempre por satisfeito.
    Salebius, que além de teólogo foi um humorista consumado,
    depois de ter reduzido a pó o dogma da Santíssima Trindade
    será que respondeu por sua heresia?
    E se chegou a responder, como é que fez!
    Em que forma desbaratada!
    Apoiando-se em que cúmulo de contradições!

    Segundo os doutores da lei este livro não deveria publicar-se:
    a palavra arco-íris não aparece nele em parte alguma,
    menos ainda a palavra dor,
    a palavra torquato.
    Cadeiras e mesas é que aparecem a granel,
    Ataúdes!, utensílios de escritório!
    o que me enche de orgulho
    porque, no meu modo de ver, o céu está caindo aos pedaços.

    Os mortais que leram o Tractus de Wittgenstein
    podem bater com uma pedra no peito
    porque é uma obra difícil de encontrar-se:
    mas o Círculo de Viena foi dissolvido faz tempo,
    seus membros dispersaram sem deixar rastro
    e eu decidi declarar guerra aos cavalieri della luna.

    Minha poesia pode perfeitamente não levar a parte alguma:
    “os risos deste livro são falsos!”, argumentam meus detratores,
    “suas lágrimas, artificiais!”

    “Em vez de suspirar, nestas páginas a gente boceja”.
    “Dá patadas como criança de colo”.
    “O autor faz-se entender pelos espirros.”
    De acordo: convido-os a queimar vossas naves,
    como os fenícios pretendo criar meu próprio alfabeto.

    Então, por que molestar o público?, perguntarão os amigos leitores:
    “Se o próprio autor começa desprestigiando seus escritos,
    que se pode esperar deles!”
    Cuidado, eu não desprestigio nada
    ou, melhor dizendo, exalto meu ponto de vista,
    vanglorio as minhas limitações
    ponho nas nuvens minhas criações.

    Os pássaros de Aristófanes
    enterravam suas próprias cabeças
    os cadáveres de seus pais
    (cada pássaro era um verdadeiro cemitério voador).

    No meu modo de ver
    chegou a hora de modernizar esta cerimônia
    e eu enterro minhas plumas na cabeça dos senhores leitores!






    Nicanor Parra

    Extraído de Poemas y antipoemas. 1954.

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  6. Miguel, seja bem-vindo!
    Obrigada pela visita.

    abrçs

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