quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lembras-te?




Lembras-te daquelas coisas que se perderam no dia anterior?
Por uma última vez, elas imploram em vão
para ficar ainda um pouco perto de ti.
Mas o anjo da Perda roçou-as com uma asa distraída:
não mais se prendem, nada as faz parar.
Receberam, sem que saibamos quando,
os estigmas da ausência.
Apesar das janelas fechadas, um vento
sutil avança em sua direção.
Abandonam a ordem precisa
da posse que as nomeia;
logo mais, qual será a vida que terão,
a vida que não será mais a vida do homem
que as amara? Sentirão, elas também,
saudades em meio ao moroso pó?
Ou será que as coisas se ajudam mutuamente
em favor de um mais pronto olvido?
O vago contentamento de ser matéria
retoma-as, devolvendo-as à cega mãe que as toca,
e mal as recrimina
por terem consentido a passar pelo pensamento humano.

Rainer-Maria Rilke, Praga(República Tcheca) - 1875-1926

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