terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um conto passado que parece presente....

(Imagem: Marcantonio com uma interferência de Cris de Souza permitida pelo autor)


Noturna mente 


Noite de verão e o clima é de invasão. De atenção. De audição. A ausência reveste o cenário na arte dos negros ensaios. Tablado de emblemas, vultuosas cenas sustetam as superfícies porosas, dão sombra às sobras. Noite sem elo. Sem castelo. Sem paralelo. Ruídos fazem frente ao roteiro das perdas - que desmontam nas mãos esquerdas. Corre o grito no corredor, num gesto exasperado de dor. O ato aflige até as falanges do timbre. Noite dos tamancos. Dos barrancos. Dos trancos. Caveiras arrastam cadeiras - zombando de mil maneiras – sobre o drama que se encena na alma e a mente que apresenta seus ossos. Já pelas tantas, o nó que embarga a garganta -faz sala- se esgarça no seio da vala. Noite sem rua. Sem grua. Sem lua. De calo em calo vultos cortam os passos, encarnam o negrume dos cacos oportunos que se rasgam na pele dos cantos soturnos. Noite de fundo. De bumbo. De chumbo. Desfigurando as cortinas das faces, no pseudo silêncio do mundo. 


(Cris de Souza)



11 comentários:

  1. Belas imagens, Cris. Pra mim, a solidão de um pianista num teatro vazio depois do ensaio. Um paralelo entre o vazio do teatro e da alma. Solidão. Um beijo.

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  2. Descrição lírica maravilhosa...

    imaginei a noite

    Beijinho carinhoso, moça poeta!

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  3. ImpressionanImpressionante como conseguimos, através da imaginação, transfigurar o real. Gostei
    Bj

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  4. desfilas em cascatas, saltas, altas elucubrações


    beijo

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  5. Imagens incríveis, poema em prosa.
    Não sei por que exatamente,mas me fez lembrar da tragédia aqui no Rio de Janeiro.

    Beijo beijo.

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  6. que belo, Cris! a fluência do texto e as imagens, tornam a leitura deliciosa, a transfigurar negrumes e transfixar imagens na imaginação do leitor.

    um beijo.

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  7. A oposição entre a noite de verão e as imagens seguintes dão um efeito inesperado pro texto.
    Abraços!

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  8. Se é noite dos tamancos e caveiras arrastam cadeiras... só boas surpresas podem aguardar nessa leitura de Cris Souza!... prosapoética/poéticaprosa! beijo.

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  9. Que texto maravilhoso, Cris!
    Sombrio, poéticamente perturbador, com belas imagens.
    Grande abraço e sucesso!

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  10. Cris, que diferente! Leio quase como quem encontra um segredo ou cai dentro de um sonho de outro alguém. Há mistério, há busca e há fuga.
    Gostei :)
    beijoss

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