segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Sob uma estrela pequenina
Poema de Wislawa SZYMBORKA:
Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco dos minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes devo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredos do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não poder estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgue má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
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essa mulher...
ResponderExcluirveja que artigo ótimo:
ResponderExcluirhttp://www.substantivoplural.com.br/poesia-em-fogo-baixo/
Nao consigo imaginar outra coisa pra dizer,a não ser..MUITO LINDO
ResponderExcluirLê, que poema forte!
ResponderExcluirNão conhecia essa poeta, fiquei tão impactada que fui atrás de mais dados sobre ela e fiquei sabendo que ela é polonesa e já foi premiada com um Nobel de Literatura em 1996. Vou atrás de mais poemas dela; fico impressionada com a capacidade de alguns poetas
para expressar o que sentimos, o que vive preso em nossa garganta e flui tão naturalmente na voz deles!!!
Agradeço por compartilhares conosco!!!
beijoss
Magnífico poema!!!
ResponderExcluirAbraços meus
Jorge Vicente
Bom quando não há ruído no poema, parece um sopro, leve, uma respiração. Uma expiação. E o silêncio, que pesa.
ResponderExcluirbeijoss,
José Carlos
Lelena, Lelena...
ResponderExcluirQue poema espetacular!
Eu, que levo às costas um carregamento imenso de culpas, todas as culpas do mundo inteiro, identifiquei-me sobremaneira...
Abraço, querida!
Fortíssimo poema, Lelena! Enquanto eu viver nada me justifica...barro o caminho para mim mesma: nossa!
ResponderExcluirBeijos,
Wislawa Szymborska é estupenda. Adoro a maneira absolutamente limpa, desadjetivada com que escreve. Seu texto tem tanta ou até mais sobriedade quanto um João Cabral de Mello Neto, mas com uma sensibilidade feminina Amo!
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