Tudo o que você queria era o solo de
guitarra do escocês de Glasgow, tirando
aqueles gemidos longos, fazendo a guitarra
ganir. Você queria a música ganindo saindo
da porta de uma taberna escura, e você na rua,
à procura de amigos. É assim agora, por aqui
e por toda Escócia.
Não há companhia que se descubra numa fila.
Os amigos que se fazem, junto à bebida, duram
por um dia. À noite, só a lua não faz ruído. E o
que te resta é compor canções na madrugada,
acender castiçais que tragam a luz morna e
que ela afugente o frio, até de manhãzinha.
Não há companhia que se descubra numa
fila, num trem, numa rodovia, quando os
pedágios avisam que não há ninguém nos
carros nem nos caminhões. Só há vinténs.
E é bom ouvir a gaita de fole insuflando os
passos que ainda te fazem seguir. Eia! Eia!
E há os gemidos longos, transalpinos, como
há gelo nos túmulos, marcando as dores do
caminho. Essa é a música que chora quando
dorme a luz da torre da prefeitura, que a
todos ignora. É assim aqui e agora, e
também por toda a Escócia.
As noites são mais longas. Há um certo
canibalismo do tempo, que devora as
orações das viúvas e mina os seus
sustentos. E isso é claro agora,
como nunca fora. Desde Cronos,
devorando a Aurora. E até se
pensa se, nesse contexto,
aliviaria, um tanto, o
toque de uma pessoa.
Talvez, nem isso.
Uma dessas que não saem às ruas, com medo.
Dessas que estão nas tabernas se refugiando
de si mesmas. A música da rua é mais sonora,
é sua, a que você carrega agora, desviando de
bêbados nas esquinas. Assim é aqui, e por
toda a Escócia. Aprenda a rezar, enquanto
segue a pé. É uma oportunidade ótima.
As canções melhores se farão no passo a
passo. Longe dos candelabros. Longe dos
párocos e dos bêbados. Dê os teus centavos
e um bom café à menina, deitada no chão da
rua fria. E assobie uma melodia uma canção
que faça na hora. Esteja você aqui, ou na
Escócia. É assim agora.
(Marcelo Novaes)
Tão difícil saber tudo o que se queria ou não se queria e começou a querer ou deixou de. Sei lá. Difícil é saber, se é que um dia se sabe!
ResponderExcluirbeijosss
BF
Simpática BF, leia o texto ouvindo Mark Knopfler, o guitarrista de Glasgow.
ResponderExcluirE obrigado pela visita!
:)
E há os gemidos longos,transalpinos,como há gelos nos túmulos,marcando as dores do caminho.
ResponderExcluirEssa é a música que chora quando dorme a luz da torre...
As canções melhores se farão passo a passo...
longe
dos párocos,dos bêbados,e dos candelabros...
Não há ninguém nos carros,nos caminhões,
Nem amigos nas filas,nem nos trens,nem nas rodovias...
Só há vinténs...
É assim agora,esteja você aqui,ou na Escócia.
Puxa Marcelo,este assobio tocou,percorreu,atravessou oceanos e fronteiras,chegou forte e bonito aqui por estes campos gerais!
Eia! Eia!
Um beijo!
Cara,como não ter bons ouvidos com esta canção
ResponderExcluirD++++,na Escócia e aqui.
Abs, meu camarada.
No primeiro acorde do gemido longo já bate.............................é Marcelo na cabeça;ae com a sugestão de ler ouvindo Mark Knopfler parti pra Glasgow.............................................ae companheiro veio de canhota de direita,bateu na Escócia e aqui............................bateu!!!!!!!!! Genial;Marcelo na cabeça .eia! abss
ResponderExcluirPerfeita sonoridade!
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