terça-feira, 31 de maio de 2011

ELA OU ELA MESMA

Ela não é
exatamente assim
como a descrevo,
posto que à sua discrição
circunscrevo-me.

E eu, que apenas sou,
oitenta vezes oito,
carne,
na insaciedade
deste desejo afoito,
hei de deixá-la se entranhar,
sem pressa, lenta,
na paisagem verídica
que a escrita inventa.

Definições definitivas...

Sabe o que eu acho? Coisas perdidas!

segunda-feira, 30 de maio de 2011



Muitos anos atrás, mas muitos mesmo, eu fazia essas rampas para carrinhos de ferro, avós do Hot Wheels voarem dez, às vezes doze metros. Esses malucos cresceram e fizeram um carro voar mais de cem metros. E eu achava Evel Knievel o máximo... mas isso fica pra outro dia.

domingo, 29 de maio de 2011

Poesia uruguaia

De Mario Benedetti::

Você de qualquer jeito
não sabe nem imagina
como vai ficar só
minha morte
sem
sua
vi
da.

Cat mom hugs baby kitten



Poucas coisas salvam o final de domingo.
Dá vontade de voltar pro útero.

Definições definitivas...

O mundo só é bom porque é uma bola. Se fossem duas, ele seria um saco.

sábado, 28 de maio de 2011

Definições definitivas...

Quando estamos fora, Portugal dói na alma; quando estamos dentro, dói na pele e no bolso.

Da arte das nuvens VI


                                            Descortinado o céu, tu fechas os olhos para não me perder de vista. Fecha os olhos, e os meus se abrem em nuvens demarcadas pelo fio das tuas chuvas, rastros de mágoas e gente sem névoas, suspensas no caderno da tua atmosfera  e indiferentes ao arco-íris de gotas com que tu te desenhas sobre as lágrimas das minhas ventanias.

"Dancin' The Boogie" - by Silvan Zingg Boogie Woogie Piano ♫ ♪ ♫ Will & ...

Presente de sexta feira de uma amiga com o seguinte texto:


Cara!
"Quer emagrecer?
Me pergunte como": veja o video.
Hahahahahahahaha!

Um beijo,
Tânia

Adoraria que só assistir já bastasse para emagrecer. Não consigo parar.Fiquei viciada.
Compartilho:
"Dancin' The Boogie" - by Silvan Zingg Boogie Woogie Piano ♫ ♪ ♫ Will & ...

Saudades dos velhos tempos!!!! ????

This is a pianist from Switzerland who plays some of the best Boogie
Woogie anywhere. He is so BIG over there, they hold a week-long Boogie
Woogie contest every year and all the best players in the world are
invited. In this video he is joined by 2 amazing dancers.... The
male dancer even has a haircut from the forties.

If you can take your eyes off her, the male dancer is super . . .
never moves his shoulders relative to what his feet and knees are
doing. And the top of his head stays at the same height no matter
what.

Turn up the volume, watch, and give it a listen! If you experience any
trouble tapping your foot to the beat, you had better hurry and
schedule an appointment with your physician.

FOR THOSE WHO DON'T REMEMBER, THIS IS HOW THE BOOGIE WOOGIE WAS DONE!


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Crise PaloFFi

Da série poemas latino-americanos

Enigmas

Todos temos um enigma
e como é lógico ignoramos
qual é sua chave seu sigilo
raspamos a proximidade
colecionamos os despojos
nos extraviamos nos ecos
e o perdemos no sonho
justo quando ia se decifrar
e tu também tens o teu
um enigma tão simples
que os postigos não o escodem
nem o descartam os presságios
está em teus olhos e os fechas
está em tuas mãos e as retiras
está entre teus peitos e os cobres
está em meu enigma e o abandonas

Do livro O amor, as mulheres e a vida, de Mario Benedetti (escritor uruguaio).

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Kit Anti-Homofóbico"



Esse vídeo pesquei do Youtube, ele faz parte do chamado Kit Anti-homofobia ou Programa Escola Sem Homofobia. A Dilma viu e vetou esse vídeo.


Na mesma página do Yotube aparece o texto abaixo e os comentários a seguir:

PROBABILIDADE, é um dos vídeos do programa ESCOLA SEM HOMOFOBIA, ele faz parte do Kit Anti-Homofobia destinado aos adolescentes do ENSINO MÉDIO das escolas públicas brasileiras.

Os vídeos foram alvos de ataques caluniosos de políticos e fundamentalistas religiosos que acusam o kit de "estimular" a homossexualidade. Como podem conferir, o vídeo é informativo e trata a questão da homofobia dentro das escolas de forma leve e didática.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Unesco em 2004 a homofobia é um comportamento presente nas escolas, principalmente no ensino médio. Em 14 capitais brasileiras pesquisadas 39,6% dos estudantes do sexo masculino não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, enquanto 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento suficiente para lidar com essa questão em sala de aula.

Comentários:

Este video é uma apologia ao homossexualismo sim. Ele fala que o bissexual tem 50% a mais de change de arrumar um parceiro. Isso não é um incentivo à ser bissexual? Mais uma política equivocada daqueles que defendem os homossexuais. O melhor seria mostrar que os homossexuais são pessoas que devem ser respeitadas, não que um jovem que gosta de meninas devem também experimentar os meninos...

ALIENADOS! Esses vídeos não estão incitando ninguém a nada. Estão TENTANDO mostrar uma situação que faz parte da realidade. NINGUÉM VIRA GAY, LÉSBICA, BISSEXUAL. É um processo complexo que envolve também a genética. Se só a escolha fosse fator determinante, seria muito mais fácil seguir as regras sociais e não correr perigo de ser morto, atacado, vítima de preconceito. Acho engraçado tanta gente moralista por aqui. Será que essa gente moralista tem moral pra julgar o outro?

O outro vídeo é esse: Encontrando Bianca:

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Definições definitivas...

Mosquito - É uma pequena criação da natureza para nos fazer pensar melhor sobre as moscas.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Em tempo de reciclagem e reaproveitamento para matar minha saudade, do poeta, da poesia, da menina

O poeta no meio do caminho



A menina não conhecia poesia.
Sabia é claro recitar e cantar, samba le-lê e batatinha.
Sabia a canção das ondas chegando na praia.
Sabia o canto dos passarinhos na algazarra urbana.
Não tinha muitas idades.
Sabia porem, que o poeta morava em seu caminho.
Sentadinha no ônibus para a escola, sempre à janela,
levantava-se ao passar diante do prédio.
Sabia que era ali.
Ali morava o poeta.
Ela levantava em reverência, sem nada dizer.
Não sabia o que ele tinha escrito, sobre a pedra no caminho
sobre a máquina do mundo, sobre a morte do leiteiro.
Mal aprendera a ler.
Sabia por saber.
No seu coração a poesia teve letras depois.
Um dia no seu caminho, passando na frente do prédio do poeta
viu-o saindo no portão.
Passo certo, como que tímido. O homem por detrás dos óculos e do bigode.
Ela gritou para os amigos, como se visse um carrossel:
Olha lá, é o poeta, é o poeta.
Seus olhos brilhavam contentes.
Seu coração não perguntou nada.
Ela sabia que ali morava a poesia.
Continuou nos outros dias a levantar ao passar.
As pernas no ônibus não eram vistas.

Hoje ela toma vinho
E fica comovida como o diabo quando lembra
do dia em que tinha um poeta no meio do seu caminho.

Foto de Dauro Veras - carrossel no parque da cidade - Brasília

domingo, 22 de maio de 2011

Definições definitivas...

Meia-idade é quando se para de criticar os mais velhos e se começa a criticar os mais novos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Corpo inacabado em Rodin


É que nunca houve um lugar mais adequado para a coisa, e o corpo inacabado da escultura pode ganhar vida densa e forte, assim como no bronze e gesso, quando dança.

O Corpo Perturbador integra a programação da 9ª Semana Nacional de Museus, com apresentações dias 21 e 22 de Maio, as 17:30h, no Palacete das Artes Rodin Bahia, entrada franca.

Juan Diego Miguel

Da série Posta Restante II


       Devagar. O envelope está encharcado. Quase vejo um coágulo. O envelope era colorido antes de partir. O papel era puro, havia uma leve textura e um perfume, o meu perfume. Quando eu o comprei, como me é de costume, alisei-o com a mão e depois o levei até o rosto, esse rosto de prosa, carta branca na superfície do afeto, submerso, perdido, sem gestos, sem lar e sem ninho.

Da série Posta Restante I


     Hoje acordei lerda nesse mar sem ondas, como nos sonhos em que sou invisível, aqueles sonhos em que flutuo pela sua casa e espio os gestos escondidos por detrás de suas palavras, as suas palavras derramadas em letras, em poemas desafinados de amor e rabiscados de verdades, meias verdades e inteiras mentiras, existem mentiras pela metade? E acordei decidida a trocar a xícara de café por uma de chá, uma de chá de frutas tão desambientado dessa água fria e frágil quanto eu, eu que preciso de camadas e camadas de roupa do mesmo jeito que preciso de camadas e camadas de zelo para suportar esse balanço, sensação de queda e desamparo em madeira firme, desamparo grudado às relíquias do afeto, capaz de alquebrar-se diante da natureza do que é inegável e que eu, a sua covarde, sei até quando mergulho, mas teimo, insisto, prometo nunca nada dizer.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ringo Starr, Fastest Growing Heartache In The West

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que sou triste...

De Viniciu de Moraes, o poeta branco mais preto do Brasil.

O africano

O primeiro parágrafo:

"Todo ser humano é um resultado de pai e mãe. Pode-se não reconhecê-los, não amá-los, pode-se duvidar deles. Mas eles aí estão: seu rosto, suas atitudes, suas maneiras e manias, suas ilusões e esperanças, a forma de suas mãos e de seus dedos do pé, a cor dos olhos e dos cabelos, seu modo de falar, suas idéias, provavelmente a idade de sua morte, tudo isso passou para nós. Por muito tempo sonhei que minha mãe era negra. Inventei-me uma história, um passado, para escapar da realidade em meu retorno da África, neste país, nesta cidade onde eu não conhecia ninguém, onde me tornara um estrangeiro. Depois descobri, quando meu pai, na idade da aposentadoria, retornou para viver conosco na França, que o Africano era ele. Foi difícil admitir isso. Tive de voltar atrás, de recomeçar, de tentar compreender. Em memória disso escrevi este pequeno livro. "

O segundo parágrafo:

"O corpo
Tenho coisas a dizer deste rosto que recebi em meu nascimento. Primeiro, foi preciso aceitá-lo. Afirmar que não me agradava seria dar-lhe uma importância que ele não tinha quando eu era criança. Eu não o odiava: ignorava-o, evitava-o. Não o olhava nos espelhos. Durante anos, creio que nunca o vi. Desviava os olhos das fotos, como se alguma outra pessoa tivesse se posto em meu lugar. Aos oito anos de idade, mais ou menos, vivi na África ocidental, na Nigéria, numa região muito isolada onde não havia europeus, à exceção de meu pai e minha mãe, e onde a humanidade, para a criança que eu era, se constituía unicamente de iorubás e ibos. Na choupana em que nós morávamos (a palavra choupana tem algo de colonial que hoje em dia pode chocar, mas que descreve bem a residência funcional prevista pelo governo inglês para os médicos militares, uma laje de cimento por piso, quatro paredes de blocos sem emboço, um telhado de chapas onduladas recoberto de folhas, nenhuma decoração, redes penduradas nas paredes para servir de camas e, única concessão ao luxo, um chuveiro ligado por canos de ferro a uma caixa d'água no telhado, que esquentava ao sol), nessa choupana portanto não havia espelhos, nem quadros, nada que pudesse lembrar-nos do mundo em que tínhamos até então vivido. Um crucifixo que meu pai pendurara na parede, mas sem representação humana. Foi aí que eu aprendi a esquecer. Parece-me que da entrada nessa choupana, em Ogoja, é que data o apagamento de meu rosto e dos rostos daqueles, todos eles, que me rodeavam. "

Definições definitivas...

Se Deus soubesse que nós beberíamos cerveja, nos ter-nos-ia dado dois estômagos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

domingo, 15 de maio de 2011

Definições definitivas...


Desesperado é o cara que descobre que casou com mulher que tem TPM até na menopausa.

Da arte das nuvens alcançáveis I


                          Fia os traços com histórias sem tempo. Ouve as bogagens que escapam da própria boca para encher-se de risos e acumular, na incerteza do ar, as fragrâncias de seu desejo de quebrar o céu enquanto há força e de ancorar, no corpo, a inviolável nudez de suas nuvens.

sábado, 14 de maio de 2011

Horácio Fiebelkorn, Sobre o tempo que se perde em buscar o tempo perdido, com tradução de Virna Teixeira





















Sobre el tiempo que se pierde en buscar el tiempo perdido


Los discos de vinilo decían
“33 ½ r.p.m” aunque las bandejas
andaban siempre un poco más lento
o un poco más rápido. De modo tal
que la música nunca fue
lo que nuestro oído creía percibir. Y así
de las miles de veces que escuchamos
“A day in the life”, “Las cuatro estaciones”,
“Lady Jane”, “Los mareados” o
“Visions of Johanna” resultan
largas horas robadas por el tocadiscos
a la pieza original, o en su defecto
versiones prolongadas que agregaban
minutos a la música, voces más gruesas,
bajos más bajos, largos pasillos entre notas.
Acaso la única opción a mano para que vuelva
la música perdida sea girar el disco en sentido inverso
lo que permitirá escuchar,
encriptada y secreta,
la vieja canción del pelotudo.

Sobre o tempo que se perde em buscar o tempo perdido


Os discos de vinil diziam
“33 ½ r.p.m” mesmo que as bandejas
andassem sempre um pouco mais lento
ou um pouco mais rápido. De tal modo
que a música nunca foi
o que nosso ouvido imaginava perceber. E assim
das milhares de vezes que escutamos
“A day in the life”, “Las cuatro estaciones”,
“Lady Jane”, “Los mareados” ou
“Visions of Johanna” restam
longas horas roubadas pelo toca-discos
à peça original, ou na falta
versões prolongadas que agregavam
minutos à música, vozes mais grossas,
baixos mais baixos, longos corredores entre notas.
Por acaso a única opção à mão para que volte
a música perdida seja girar o disco em sentido inverso
o que permitirá escutar,
criptografada e secreta,
a velha canção do babaca.

Fuente: http://festipoaliteraria.blogspot.com/2011 + Virna Teixeira no seu FB.

Romero Brito

Arte ou decoração?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Definições definitivas...


Não se pode beijar uma mulher inesperadamente, mas apenas mais cedo do que ela esperava.

Eu-mulher

mulher da tribo dos bosquímanos

Uma gota de leite

me escorre entre os seios.

Uma mancha de sangue

me enfeita entre as pernas.

Meia palavra mordida

me foge da boca.

Vagos desejos insinuam esperanças.

Eu-mulher em rios vermelhos

inauguro a vida.

Em baixa voz

violento os tímpanos do mundo.

Antevejo.

Antecipo.

Antes-vivo.

Antes-agora - o que há de vir.

Eu fêmea-matriz.

Eu força-motriz.

Eu-mulher

abrigo da semente

motocontínuo

do mundo.


Conceição Evaristo, poeta e escritora, nasceu em Belo Horizonte(MG); é mestra em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada. Atualmente reside no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

NOITE

É tarde na minha noite, no hemisfério norte, ao qual não pertenço.
Sempre vivi a sul, até que numa das tantas voltas que o mundo dá, desaguei eu e os meus rios aqui. Ainda assim , não é aqui, nunca será aqui a minha foz.

Aqui, neste blog como noutros, tecem-se palavras, com mais ou menos jeito, mas tecem-se e cada ponto pode trazer alegria ou dor, dependendo do momento de cada um.
E as palavras, são sempre um bom refúgio. Depois de moldadas no mais intimo de nós, saem para a luz do dia e a partir daí nada as pode modificar.
O que está dito, está dito.
Mas, com o jeito de cada um, a clareza das mesmas pode ser modificada, cada palavra pode ser retocada, enviezada, tornar-se mais opaca, ou mais cristalina, pode transmitir afecto ainda que dissimulado, ou pode magoar.
A verdadeira sensibilidade está em ver para lá das palavras, perceber o seu sentido único sem margem para dúvidas e, isso é sempre muito difícil.
Quem o consegue, pode mesmo chegar a ser feliz.
Mas isso é tão raro.
Por isso é que os amores verdadeiros são raros, raríssimos.
E quando os queremos enumerar, é que vemos a sua raridade. António e Cleopatra, Pedro e Inês, José e Pilar e não me lembro de mais.
Se se lembrarem, ajudem-me.
Abraços.

APNEIA

Em vidas anteriores, há muito, muito tempo vivi junto do mar. O grande mar que tudo me deu e tirou.
Desde aí ficou-me o vício de, ainda que de modo errático fazer mergulho em apneia, apenas com "snorkel" e barbatanas.
Quem o faz, sabe tão bem como eu, que se fica no fundo até ao limite das nossas forças, às vezes até um pouco mais, e depois é a disparada vertical, em busca de um bocadinho que seja, de ar. E nessa altura os pulmões queimam.
Também, toda a gente que pratica sabe que há um momento de ilusão pura, no meio de tanta solidão e paz, que com um pequeno esforço até nos deixariamos ir e ficariamos ali para sempre. É apenas um fugaz momento, mas a vida de imediato reclama o seu preço.
Mas, eu sei que um dia, num mergulho qualquer da vida, me vou deixar vencer pela ilusão. A busca da paz derradeira pode ser uma obsessão, neste grande esforço que é viver.

Rio

Foto de Helio Borges Matos

terça-feira, 10 de maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

MÍNIMO AJUSTE: Titanic II -- Pobre rica alma

MÍNIMO AJUSTE: Titanic II -- Pobre rica alma

Titanic II -- Pobre rica alma



         Ei, bípede, minha alma também precisa da sua atenção. Ontem, vi quando você e o seu pequeno bípede chegaram à exposição dos nossos destroços. Eu estava conversando com a Alma, dizendo a ela para educar melhor os filhos, que assim não é possível, que eles estão se transformando em verdadeiros tubarões no instante em que os seus olhos escuros como esse fundo de morte em que vivo, passaram por mim e, inquietos, me fizeram entender: eis a criatura que há de se importar conosco, comigo, mais do que com as coisas, então, corri em sua direção para que você comprasse o meu boarding pass e falasse de mim, mas o Torburg, o menino mais velho da Alma, esse pequeno viking, colocou-se no meu caminho, barrou-me com seu corpinho forte, e gritou: vai, mãe. E a Alma foi. Por um segundo, fiquei desolado. Eu e esse meu marítimo destino nos sentimentos, de novo, afogados. Sabe, bípede, aqui não interessa quem é de primeira ou de terceira ou sem classe. Aqui o que conta é o humano de cada um. E o meu anda tão calado, precisando de um pouco de letras, de memórias para não se diluir. O meu cachorro, você sabe, eu tinha uma cadela airedale, a Kitty, sempre comigo antes da água nos separar, perdeu-se de mim quando o barco se partiu. Eu corri até o canil do navio, libertei a ela e a todos os cães para que morressem sem coleiras e fiz isso em um gesto de lealdade de homem, porque um homem deve também lealdade ao seu animal e deve estar ao seu lado até o fim. Mas foi inútil. A vida sempre perde na última batalha, não importa a coragem e o afeto do seu exército. Aprendi isso em segundos, escapando fumacinha da minha boca, quando levantei-me do bote número 4, eu estava no bote número 4 porque sou, fui um senhor muito rico, na verdade, o passageiro mais afortunado, veja só quanta ironia, daquele enorme navio, e dei o meu par de luvas para a Madeleine, a minha jovem esposa grávida, porque se não haveria botes salva-vidas para todos, não haveria também para mim. E levantei-me porque falou o som da minha honra, um som mais profundo que o das minhas abotoaduras de ouro e de ocenaos. A honra é um diamante à prova de tempo. De tão genuína e sólida como uma força da natureza, resiste até a um iceberg maior que um sonho. A honra é um eco maior que a esperança e que a fé. Mas não a que uma criança, um menino como o seu pequeno bípede, um menino, talvez parecido com o que minha mulher gerava, um menino capaz de dar pulos e gritos por comprar o boarding pass do cavalheiro mais rico a bordo, gritando, mãe, olha só quem eu sou, eu sou o Jonh Jacob Astor IV, o milionário dos milioários, sem dar-se conta, ainda, do quanto o dinheiro, às vezes, não vale mesmo nada.

Definições definitivas...


Quarenta anos é a velhice dos jovens. Cinquenta anos é a juventude dos velhos.

Feliz dia das Mães



PARA NÓS MÃES, PARA NOSSAS MÃES, PARA TODAS AS MÃES



Existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha - nem mesmo a do pai -, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.
(Danuza Leão)

Imagem:Agnieszka D. - Pe... 's Public Gallery Picasa Web Albuns

sábado, 7 de maio de 2011

Titanic I - Pobre alma



        Então, tá. Falei com a bípede e pedi a ela para dizer quem sou. Eu sou uma alma afundada. Alma Cornelia Berglund  e já tive 29 anos e quatro filhos, o menor de todos teve dois anos, e o mais velho, oito. Somos, digo, fomos,  suecos. A bípede disse que não se importaria de contar a história de uma loira alva como eu porque nem todas preferem um cubo mágico inteiramente rosa a um com cores. Para ser sincera, não entendi uma palavra sobre o tal cubo. Mas ela disse, deixa pra lá, Alma, que isso agora não interessa. O que importa é que, por um acaso de fichas, comprei o seu boarding pass na exposição do shopping Barra e caí no seu espírito, já que corpo você não tem mais.  Perguntei a ela: ei, bípede, você é algum tipo de bruxa ? Ela me olhou um pouco com os seus olhos de cor de fundo do mar e disse: nem morta e mudou logo de assunto, pedindo que eu falasse sobre o meu marido. O meu marido, oh, Nils,   não morreu para nos ver, tornou-se uma alma aterrada na América perto do tia Sam longe de nós. Quando? Não sei. Não vivi para contar. Nem eu nem as crianças. E não vivi para contar, naturligtvis (of course em sueco), porque embarquei em um navio para ir encontrá-lo na América do Obama, seja lá quem ele for, e subi a bordo, na terceira classe, porque apesar do trabalho do meu inafundável man (husband em sueco), nunca, nem por um minuto,  deixei de ser pobre e de ser um tanto atordoada apesar da coragem. Foi a bípede quem disse que só posso ter sido uma grande atordoada, seja lá o que isso for. Se eu fosse desatordoada, não teria embarcado, em 1912, antes de inventarem as  fraldas descartáveis, sem ter uma outra mão para balançar um berço e uma para afagar a minha em um enorme barco à carvão para ir encontrar o que acabaria me levando para baixo, para baixo, para baixo com meus filhos tão como eu, gente sem nós e sempre tão, tão sós.

Definições definitivas...


Na medida em que envelhecemos, não temos mais que evitar a tentação. Ela mesma nos evita.

Mostra sobre Grace Kelly em SP é descuidada nas informações


POR ANTONIO FARINACI

Está em cartaz em São Paulo até o dia 10 de julho a exposição “Os Anos Grace Kelly, Princesa de Mônaco”. Com 900 peças, entre roupas, joias, fotos, filmes, documentos e outros objetos, a exposição traz um acervo rico sobre a trajetória dessa atriz que se tornou princesa de vida intensa e morte trágica. Extensa e abrangente, a mostra peca pelo descuido nos textos informativos e por fazer retrato “oficioso” de Kelly, uma personagem envolta em controvérsia.
A coleção traz dezenas de vestidos e joias usados por Grace Kelly, em filmes, festas hollywoodianas e bailes de gala das cortes europeias. Ela, como nenhuma outra personagem do século 20, teve ocasiões para usar esse acervo, no centro da alta-roda internacional, por pelo menos três décadas. Como atriz, ganhou um Oscar, foi a favorita de Hitchcock, fez parte da realeza do cinema norte-americano, colecionou namorados e se jogou em baladas cinematográficas.
Depois que entrou para uma família real de verdade, teve acesso ao grand monde reservado aos nobres europeus, festas da Cruz Vermelha, recepções de chefes de estado e bailes da corte, onde impressionava a todos com sua beleza e resistência ao álcool (segundo informa a biógrafa Wendy Leigh)
Sua coleção de vestidos de festa é de cair o queixo, um ponto alto da mostra, com criações de Christian Dior, Balenciaga, Madame Grès, Hanae Mori e outros nomes do panteão da alta-costura. Está na exposição também uma réplica de seu vestido de noiva, criado por Helen Rose, ganhadora de dois Oscar de melhor figurino (por “Assim Estava Escrito” e “Eu Chorarei Amanhã”). O modelo é até hoje um dos mais copiados por noivas do mundo todo, seja pela recém-princesa Kate Middleton ou a cantora de axé Claudia Leitte.
A documentação fotográfica é extensa. São fotos de família, da infância na Filadélfia à corte de Mônaco, fotos da carreira de modelo, imagens promocionais para filmes, registros do casamento e fotos oficiais para o principado. Os filmes caseiros dão um vislumbre de Grace entre amigos, com os filhos e pessoas próximas. Lá estão, capturados em momentos de descontração familiar, seu irmão Kell, o bailarino Rudolf Nureyev, o ator David Niven, o príncipe seu marido, e outras personalidades do jet set da época (veja imagens na galeria acima).
Por ser organizada pelo Forum Grimaldi, sob os olhos do príncipe Albert, filho de Grace, a exposição tem um que de “chapa branca”. Nada é mencionado sobre seu affair com Frank Sinatra, com quem dividia um ninho de amor no balneário francês de Cap Ferrat, nem sobre as circunstâncias controversas que envolveram o acidente de carro que a matou.
A relação com o príncipe Rainier é igualada a um conto de fadas, embora biografias não autorizadas garantam que ela se ressentia pelo fato do príncipe ter vetado a exibição de seus filmes em Mônaco e ter podado suas pretensões de voltar às telas.
Além disso, a montagem da mostra é um tanto confusa. Misturam-se peças originais, réplicas, cenografia e merchandising, sem que seja propriamente sinalizado o que é o que.
Afinal, a cadeira de rodas na sessão dedicada ao filme “Janela Indiscreta” é original? Por que o retrato creditado à atriz Gina Lollobrigida está invertido e teve o fundo alterado? Quem desenhou os sapatos? E a extensa coleção de chapéus? Precisava dedicar uma sala inteira a um merchandising da Hermès? Por que a legenda não informa que o vestido de casamento é uma réplica? O que representa a mesa de jantar com vídeos instalados dentro dos pratos? Aquela é a louça original da família Grimaldi? É uma réplica ou cenografia pura?
Essas são perguntas para as quais o visitante sai sem obter resposta. Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do Museu de Arte Brasileira da Faap, onde acontece a exposição, diz que as informações disponíveis são de responsabilidade do Fórum Grimaldi, centro cultural monegasco que controla o acervo de Grace Kelly. “Nós ainda traduzimos mais material para complementar o que eles nos forneceram”, informou Ribeiro ao UOL. “Provavelmente, nem eles sabem (responder essas perguntas)”.
Pode ser. Mas essa explicação é uma evasiva. Quem vai a uma exposição deve receber informações precisas sobre o que está vendo. Onde elas não existem, é preciso ser transparente. Não custa informar, por exemplo, que os designers dos sapatos são desconhecidos, se for esse o caso. O que não vale é confiar que os visitantes tenham antes pesquisado na internet quem foi Grace Kelly e o que representam as peças expostas.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

União estável

"Casamento civil e união estável são distintos, mas os dois resultam na mesma coisa: a constituição de uma família". - ministro Ayres Britto
 
Estou muito emocionado com essa votação do STF aprovando a união estável homoafetiva. Vou poder garantir o pé de meia junto com o amado, cuidarmos um do outro com plano de saúde, termos direitos, constituir uma família.
 
Que dia fantástico para a militância e para quem não está nem aí para isso também, afinal cidadania é conquista de todo mundo. Com a conquista de mais um direito na sociedade, todos são beneficiados. Precisamos compreender direito a importância desse dia. Se faz necessária também a votação que criminaliza a homofobia. URGENTE!
 
Isso mesmo, comemorando uma grande vitória, mas não esquecendo de outras lutas urgentes e importantes.
 

Definições definitivas...


A menina que passava dos 8 aos 9 anos cresceu, e agora está passando dos 29 para os 28.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A liberdade de presente

Recentemente a França decidiu proibir a burca, vestimenta que cobre inteiramente rosto e corpo das muçulmanas. Não pela razão certa, creio eu: que seria a das dificuldades que tal disfarce impõe às autoridades policiais. Mas sim pela razão errada, a de que a mortalha islâmica é um instrumento de opressão para as mulheres religiosas.
Posso imaginar muitas situações em que a burca pode ser um instrumento de liberdade, não de opressão. A mulher adúltera, o jovem homossexual, o fugitivo da polícia, não teriam roupa melhor a usar em seus escapes do que o suposto uniforme da violência patriarcal.
O problema dessa lei, entretanto, está em outro ponto, que contradiz tudo o que a bela tradição revolucionária francesa sempre afirmou. A saber, o fato de que a liberdade deve ser uma conquista, não um direito concedido pelo Estado.
Não é o mesmo fenômeno que vemos no caso da Líbia e do Iraque?
Acredita-se, no Ocidente, que se pode dar a democracia a quem a deseja. Uma pequena ajuda, como ocorreu na África do Sul, e em certa medida a partir da visita de Jimmy Carter ao Brasil, pode ser naturalmente bem-vinda. Mas, de duas, uma: ou o próprio oprimido conquista sua liberdade, ou a liberdade conquistada será uma mentira.


Escrito por Marcelo Coelho

segunda-feira, 2 de maio de 2011

sympathy for grace van cutsem


Pescado do Taquilalia .

Definições definitivas...


Algumas mulheres não gostam de revelar a idade. Temem que seja confundida com o seu número de telefone.

Ringo Starr, Love Don't Last Long



HER MOTHER WROTE A LETTER,
SAID SHE THOUGHT IT WOULD BE BETTER
IF SHE WOULD JUST STAY GONE.
SHE KNEW OF HER CONDITION,
BUT SHE WOULDN'T GIVE PERMISSION
FOR HER TO COME BACK HOME.
SO SHE CALLED THE BOY WHO LOVED HER
BUT ALL HE DID WAS SNUB HER,
SAID, "FACE IT ON YOUR OWN."
MM-MM, LOVE DON'T LAST LONG.

A YOUNG MAN GOT UNLUCKY
AND GOT BUSTED IN KENTUCKY,
ASKED HIS DAD TO GO HIS BAIL.
BUT HIS DAD HAD BIG AMBITIONS
WITH THE LOCAL POLITICIANS,
TOLD HIS SON TO GO TO HELL.
HE HUNG HIMSELF THAT MORNING
AND THE NOTE THAT THEY FOUND ON HIM
SAID, "DAD, PLEASE TAKE ME HOME."
MM-MM, LOVE DON'T LAST LONG.

A WOMAN TOLD HER HUSBAND,
SHE LIVED EV'RY DAY TO LOVE HIM,
NOTHING ELSE FITS IN HER PLANS.
THEN WITHOUT A WARNING,
HE CAME HOME FROM WORK ONE MORNING,
FOUND HER THERE WITH ANOTHER MAN.
IN A FIT OF ANGER
HE TOOK HER LIFE AND THE STRANGER'S,
THEN HE TOOK HIS OWN.
MM-MM, LOVE DON'T LAST LONG.