sexta-feira, 27 de maio de 2011

Da série poemas latino-americanos

Enigmas

Todos temos um enigma
e como é lógico ignoramos
qual é sua chave seu sigilo
raspamos a proximidade
colecionamos os despojos
nos extraviamos nos ecos
e o perdemos no sonho
justo quando ia se decifrar
e tu também tens o teu
um enigma tão simples
que os postigos não o escodem
nem o descartam os presságios
está em teus olhos e os fechas
está em tuas mãos e as retiras
está entre teus peitos e os cobres
está em meu enigma e o abandonas

Do livro O amor, as mulheres e a vida, de Mario Benedetti (escritor uruguaio).

2 comentários:

  1. [que fazer? saborear cada palavra como uma chave para o universo, de cada vez que a vida nessa palavra se transborda? elevar a voz, desafinando cada letra, de cada palavra, como se fosse um rascunho de murmúrio, o possível diante do grande poema? que fazer, senão cerrar o olhos e sentir dentro, cada palavra como cada segundo se recolhe no tempo?...]

    um imenso abraço,

    Leonardo B.

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  2. Wow! Post e comentário maravilhosos.
    Meu enigma me devora.
    Bj Bípede.

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