terça-feira, 3 de maio de 2011

A liberdade de presente

Recentemente a França decidiu proibir a burca, vestimenta que cobre inteiramente rosto e corpo das muçulmanas. Não pela razão certa, creio eu: que seria a das dificuldades que tal disfarce impõe às autoridades policiais. Mas sim pela razão errada, a de que a mortalha islâmica é um instrumento de opressão para as mulheres religiosas.
Posso imaginar muitas situações em que a burca pode ser um instrumento de liberdade, não de opressão. A mulher adúltera, o jovem homossexual, o fugitivo da polícia, não teriam roupa melhor a usar em seus escapes do que o suposto uniforme da violência patriarcal.
O problema dessa lei, entretanto, está em outro ponto, que contradiz tudo o que a bela tradição revolucionária francesa sempre afirmou. A saber, o fato de que a liberdade deve ser uma conquista, não um direito concedido pelo Estado.
Não é o mesmo fenômeno que vemos no caso da Líbia e do Iraque?
Acredita-se, no Ocidente, que se pode dar a democracia a quem a deseja. Uma pequena ajuda, como ocorreu na África do Sul, e em certa medida a partir da visita de Jimmy Carter ao Brasil, pode ser naturalmente bem-vinda. Mas, de duas, uma: ou o próprio oprimido conquista sua liberdade, ou a liberdade conquistada será uma mentira.


Escrito por Marcelo Coelho

4 comentários:

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  2. realmente uma situaçao muito complicada.
    muito interessante a ultima frase
    "ou o próprio oprimido conquista sua liberdade, ou a liberdade conquistada será uma mentira"
    abraço
    Milton

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  3. Creio que há muitas opressões, que não são notadas facilmente face à sua forma concisa, mas que no conjunto destroçam com seu poder de silêncio os âmagos desprovidos de sentinelas. Concordo com sua assertiva sobre a proibição da burka: uma limitação não deve ser remédio para as outras.

    Forte abraço!

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  4. Até que ponto proibir alguém de fazer algo é dar-lhe realmente liberdade? Porque se a estamos a proibir de algo, estamos desde já a condicionar a sua liberdade ou não?...

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