O poeta no meio do caminho
A menina não conhecia poesia.
Sabia é claro recitar e cantar, samba le-lê e batatinha.
Sabia a canção das ondas chegando na praia.
Sabia o canto dos passarinhos na algazarra urbana.
Não tinha muitas idades.
Sabia porem, que o poeta morava em seu caminho.
Sentadinha no ônibus para a escola, sempre à janela,
levantava-se ao passar diante do prédio.
Sabia que era ali.
Ali morava o poeta.
Ela levantava em reverência, sem nada dizer.
Não sabia o que ele tinha escrito, sobre a pedra no caminho
sobre a máquina do mundo, sobre a morte do leiteiro.
Mal aprendera a ler.
Sabia por saber.
No seu coração a poesia teve letras depois.
Um dia no seu caminho, passando na frente do prédio do poeta
viu-o saindo no portão.
Passo certo, como que tímido. O homem por detrás dos óculos e do bigode.
Ela gritou para os amigos, como se visse um carrossel:
Olha lá, é o poeta, é o poeta.
Seus olhos brilhavam contentes.
Seu coração não perguntou nada.
Ela sabia que ali morava a poesia.
Continuou nos outros dias a levantar ao passar.
As pernas no ônibus não eram vistas.
Hoje ela toma vinho
E fica comovida como o diabo quando lembra
do dia em que tinha um poeta no meio do seu caminho.
Foto de Dauro Veras - carrossel no parque da cidade - Brasília
Que linda homenagem ao nosso poeta maior!
ResponderExcluirE que privilégio daquela menina que encontrou o
poeta no meio de seu caminho e acabou tornando-se poeta também!!!
beijos
Oh Cirandeira, obrigada pelo elogio.
ResponderExcluirA menina tornou-se de certa forma poeta também, mas de outras plagas.
Com toda licença poética, esta historinha que publiquei há um tempo atrás no meu blog, aconteceu realmento com uma grande amiga minha, médica, mulher maravilhosa, quando ela tinha 7 ou 8 anos de idade e morava no Rio de Janeiro. Quando ela me contou eu vi a cena, as estrelas, o carrossel e a poesia.
Ontem, vi num outro blog um texto sobre um poeta que me emocionou muito. Lembrei deste que catei e trouxe para cá.
Não estou conseguindo comentar :(Tomara que esse vá, nem que seja com essa queixa, porque o que eu queria dizer é que eu adorei a ideia de um poeta e não de uma pedra no meio do caminho!!
ResponderExcluirÉ mesmo Anônimo.
ResponderExcluirA menina sem dúvida nenhuma também achou. Até porque pra ela a pedra só veio muito depois.