sábado, 25 de setembro de 2010

Uma poesia

"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
que muitas filhas te deu, casou donzela
e à noite se prepara  e se adivinha
objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
e ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."

Hilda Hilst

2 comentários:

  1. Acho que viver implica em afligir-se... Bom, pelo menos eu faço isso desde criança hehe.

    Linda poesia.

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  2. Amo Hilda Hilst...

    Obrigada por lembrar-me... "não saber se se ausenta ou se te espera.
    Aflição de te amar, se te comove.
    E sendo água, amor, querer ser terra."

    Beijos

    Carla

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