Era uma vez uma jovem cheia de vida. Leve, feliz. Apreciava a liberdade. Pensava no dia de hoje. Era uma apaixonada. Por pessoas, lugares, momentos. Ela era a primavera, era o sol, era um pássaro. O tipo de pessoa que todos gostavam de ter por perto. Era agradável, e se importava verdadeiramente com os outros. Via-se muito pouca tristeza em seu olhar. Um dia encontraram-se, eram opostos. Apaixonaram-se. Os anos passaram, e as diferenças foram perdendo o encanto. Tanta segurança a sufocou. Aquele ar sério, antes charmoso, passou a irritá-la. Seu olhar, que antes era protetor, agora a condenava. Ainda o amava, mas o deixou porque sentia que a vida estava acontecendo longe dali. Ele, centrado, fez questão de esquecer as mágoas, de reconstruir sua vida da forma mais normal possível. E mais uma vez o tempo passou. E ela viu-se sozinha, porque perdida por vontade própria em seus sonhos, esqueceu de construir. Não tinha ninguém para compartilhar sua história, pois sua trajetória até agora fora feita de começos, e finais dispersos. Sentiu medo. E lembrou-se do amor que teve. Que teria até hoje se tivesse aprendido a voar, e voltar. Somente agora ela conseguia perceber que não vivera aqueles anos em uma gaiola, mas em um ninho. Mas era tarde, muito tarde. E sabe, amor inacabado, com final apenas pressuposto, dura muito tempo. Às vezes uma vida inteira. Aquela sua escolha de anos atrás, na época um grito de liberdade, passou a ser a culpada por todo o vazio que agora experimentava. A impossibilidade de ter novamente o amor daquele homem imperfeito e que tinha os pés tão no chão a paralisou. Ela já não existia mais. Ela era apenas uma lembrança do que havia sido naqueles anos. Uma lembrança, tão remota e esmaecida, quando posta ao lado do arrependimento que sentia. Era uma vez uma senhora no fim da vida. Que tinha sido feliz apenas uma vez. A liberdade agora era inútil. Pensava demais no passado. A paixão exauriu-se de sua alma. Ela era o outono, era o sol fraco de um dia frio, era um pássaro que não mais cantava, e voava somente ao redor de um lugar conhecido. Naquele dia, viu-se muito pouca tristeza em seu olhar. Viu-se apenas um bilhete “Eu sempre vou te amar.” Banhado em sangue.
Verosímil, muito verosímil...
ResponderExcluir(Sei de algumas vidas assim)
Beijo :)
muito sentido..tem horas que as palavras são dizem Silêncio...
ResponderExcluirRê.............
ResponderExcluirNão posso dizer que vc se superou porque vc sempre se supera... A cada frase... A cada novo texto...
Mas este seu texto, por si só, já merecia um livro inteiro...
Coisa linda, gostosa e doida de ler...
Um beijo,
Kayana
Rê.............
ResponderExcluirNão posso dizer que vc se superou porque vc sempre se supera... A cada frase... A cada novo texto...
Mas este seu texto, por si só, já merecia um livro inteiro...
Coisa linda, gostosa e doida de ler...
Um beijo,
Kayana
Renata... sua escrita é lindamente poética.
ResponderExcluirAdoro...
A gente "enxerga" o que lê!
"Mas era tarde, muito tarde. E sabe, amor inacabado, com final apenas pressuposto, dura muito tempo."
Com certeza. Dura muito tempo, eu sei.
Um grande beijo
Carla Farinazzi