Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que sobrar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados
entre um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebra dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
João Cabral de Melo Neto, Recife (1920-1999)
Tenho a obra completa dele. Um gênio. Está lindo o cabeçalho. Que lugar!
ResponderExcluirbj.
Muitas palavras bóiam...
ResponderExcluiro duro...do exercício de escrever...
é quando tudo bóia...
Beijos
Leca
poesia é arte de adimirar a vida com os olhos secretos da alma
ResponderExcluircatar feijão é colocado em nossa vida como viver construindo um sonho sem medir nossos medos
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