terça-feira, 13 de julho de 2010

Drummond poeta intransitivo




             AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

5 comentários:

  1. Ah, com o Drummod sou sempre suspeita: AMO!
    Abraços,
    Tânia

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  2. Meu querido Drummond, Poeta Completo!
    E inesquecível...

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  3. gurias, como ele não tem melhor, pode ter igual.

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  4. Drummmond...
    me faz flutuar...
    me faz lembrar...do amor incondicional...
    o tal... Amo e ponto...
    beijos
    Leca

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  5. Amoo esse poema! Amo a poesia toda de Drummond!

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