quinta-feira, 15 de julho de 2010

A DESELEGÂNCIA DO INVERNO


Moro em um apartamento. Tenho chuveiro quente e roupas de inverno. Tenho comida em casa. Uma estufa a gás, tapetes, muitas cobertas na cama. Mesmo assim, essa noite custei a dormir por causa do frio. Sair da cama agora foi igualmente difícil, pois mesmo dentro de casa, é muito frio. Acordei reclamando do inverno e liguei a televisão. Uma pessoa encontrada morta dentro de sua casa. Provavelmente entrou em hipotermia. O cubículo não tinha portas e janelas, faltava parte do telhado. Na cama, somente um estrado de madeira. Ele não tinha o que comer. Uma chaleira velha sobre um extinto fogo de chão. Vendo aquilo, senti vergonha de mim mesma. Por não conhecer nada da vida. Por estar aqui fechadinha nesse meu mundo morno.

6 comentários:

  1. Também acordei chutando o balde... há dias assim. Bom, que o fim de semana se aproxima.

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  2. Olá Renata,
    Talvez, se apenas abríssemos os olhos para os que estão " do lado de fora ", de alguma forma já os acalentaríamos.
    Com um abraço,
    Alexandre

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  3. Oi Alexandre, seja muito benvindo aqui no Mínimo! Concordo contigo. Perceber ainda não é suficiente, mas já é um pouco melhor do que fechar os olhos.

    Abraço pra ti.

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  4. obrigado pela recepção, Renata. Já me sinto em casa....rs.
    abraço

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  5. Renata, venho dos campos de cima da serra. Minha escola ficava na mesma praça em que estava a catedral. De manhã cedo, a caminho, saía fumaçinha pela boca. Mas eu ia de botas, poncho, luvas e gorro. No auge do inverno, na porta da igreja, a tal casa de deus, sempre havia um morto, ou mortos. Mortos de frio e de desamparo. Não é o inverno que é cruel. Nós é que somos.

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  6. Texto maravilhoso que flui. Bom de ler. Parabéns, Renata!

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