quarta-feira, 16 de maio de 2012

SOBRE COLIGAÇÕES

Somente com um pouco mais de idade a gente começa realmente a perceber o raciocínio dos políticos em geral, e este aprendizado se dá em especial nas proximidades das eleições, quando eles costuram coligações as mais esdrúxulas imagináveis, unindo a extrema direita e a extrema esquerda, por exemplo. Ideologia para quê ? E depois que são eleitos, deixam de cumprir não só as promessas de campanha, mas também os compromissos futuros assumidos sob juras de amor com seus parceiros de chapa, apenas visando ao próximo pleito dali a dois anos. Casamento para quê ? E com esta idade que a gente só adquire com o tempo ( que é o óbvio ululante ), produz-se simultaneamente um grande milagre que nos faz um misto de sábios e condescendentes com essas coisas da política, milagre este que instilado em anos e anos de surdas decepções terminam por nos tornar refratários a elas, pois os assuntos mais relevantes para nós passam a ser nossa saúde e nossos remédios, nossos netos e o futuro deles, a sobrevivência do planeta para que eles possam desfrutá-lo -, enfim, todas essas coisas que remetem a um futuro em que já não estaremos por aqui, mas que será o tempo de nossos legados genéticos, os quais, restando em nosso lugar, viverão as mesmas coisas que vivemos, pois tudo se repetirá, e que assim seja. Só por isso eu diria que acredito em Deus. Tenho certa pena de meus descendentes, mas a vida prova ser um milagre constante em cada um de nós. Um dia sempre conheceremos a razão de cada acontecimento. À medida que escrevo isso, confesso que me sinto um pouco inútil, para não dizer um redundante boring em relação ao leitor que me lê, independentemente da idade que ele possa ter. Mas esta sensação de impotência - e aqui está o número mais interessante do circo -, não se produz mais a cada notícia dessas coligações absurdas (para não dizer espúrias, em alguns casos), por exemplo. Na verdade ela constitui já um fóssil que passou a construir-se de forma velada e gradativa em minha memória de eleitor desde os dezoito anos até hoje. Não sei quantos foram os pleitos desde então, mas lembro que sempre votei acreditando em dias melhores, e que a cada vez formei minha opinião sobre políticos a partir de suas atitudes de vida pública, antes e depois das eleições, sempre - e principalmente - focando em suas manifestações externas de coerência. E nunca deixarei de votar. Direi que, malgrado a abertura deste texto, não estou decepcionado com a política, pois conheço gente muito séria nesta área, muita gente digna de respeito e admiração. Admiro profundamente políticos em quem não votaria apenas por suas opções ideológicas, diversas da minha, mas que apresentam uma postura exemplar, com início, meio e fim, não importa a bandeira que defendam e a forma como o fazem. Por vezes deparo com algum deles nas ruas, nos parques ou em recepções, e digo-lhes exatamente isso, sem nenhum constrangimento. Acho que aprendi a exercer uma sábia serenidade neste campo, inclusive sobre as coligações de que falo, porque em matéria de política, nada neste mundo vai mudar como eu gostaria. Se nem na Europa e nos Estados Unidos acontece, por que seria diferente aqui ? O apetite do poder político é um tema mundialmente conhecido, em alguns países mais do que em outros, e no Brasil, de forma muito especial. Deus e o diabo andam sempre juntos nessas horas.

4 comentários:

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  2. Paulo,
    Acho muito estranho esse casa e descasa dos partidos.
    Parece tudo tão sem "amor" rsrs
    Mas, enfim, é como você disse. Se acontece lá e lá como seria diferente aqui?
    Sei lá.
    Eu gostaria que fosse. Que a gente votasse com vontade e não porque segue os dados de quem tem as melhores cartas no jogo.
    beijoss

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  3. Obrigado, querida bípede. Bj. grande.

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  4. Coalizões, "colisões" [as colisões de ontem viram coalizões de hoje], conchavos, coligações. Quando não há "sustância", as coisas acabam se intercambiando. E a indi$tinção prepondera.





    Um abraço, Paulo.

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