sexta-feira, 4 de maio de 2012

RENASCIMENTO

Perdi todas as letras do meu nome
que foram levadas por um vento anônimo
meu nome,
assim disperso e nômade,
longe de mim, mil países,
meu nome sem mim
trouxe a sentença
do silêncio.
E uma cegueira fulminante.

Perdi todas as luzes dos meus olhos
e os países deixaram de existir
e também todas as coisas
acopladas de cores,
e ainda,
fui perdendo o jeito
de andar pelos caminhos.

Perdi os caminhos, e então,
perdi o tempo,
e voz, tênue, quase ínfima,
nada dizia.

Perdi todas as letras do meu nome
e colho agora
letras emprestadas
dos nomes que me deram, depois que nasci.

6 comentários:

  1. Eliana, belíssimo poema.
    Raro poema.
    Estou emocionada.
    beijoss :)

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  2. O título abraça intimamente o poema, que é, de fato, belíssimo. Um renascimento é algo muito mais forte, talvez, do que o próprio nascimento.

    Beijos,

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  3. Eliana,


    Em algum momento [não muito cedo], nos renomeamos. Claro que os outros nos nomearão antes. Com nomes variados, diga-se de passagem. Este poema me remete à primeira metade de um rito de passagem xamânico: o índio "sábio" [um Sioux, por exemplo, um Dakota] "ouve o próprio nome" depois de um período de jejum, isolamento e confronto com os ancestrais; ou, se preferir, um confronto com "a memória e o legado dos ancestrais", ou seja: a soma dos nomes e hábitos herdados.





    Um beijo, moça.

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  4. Maria, Bípede, Tânia e Marcelo,

    só ganhei alegrias com os comentários.
    E Marcelo, me comoveu tua informação, porque estava hoje pensando muito em meu filho que passou por um ritual xamânico e fez um corte dos cabelos, um processo lindo, de uma busca dele mesmo.
    Grata.

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  5. Muito lindo,maravilhoso e neste renascimento a luz se faz..bjs
    GAGAU

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