domingo, 27 de fevereiro de 2011

Mania de deus


                                       Bebe o café quente sentada no sofá com os pés sobre a mesa de centro, os mesmos pés que tropeçaram na escada e desentortaram a sua visão de mundo até então descalça e macia como os pés de um bebê, ela que via em um par de sapatilhas o acetinado falso de um  rosa perfeito em outras meninas mais suaves mas menos decididas, talvez de modos mais impecáveis e cabelos mais alinhados que os seus, que sobre a sua cabeça passeava sempre um vento quando não um ventania, ventania explícita de seus tantos eus, mosaicos de seu inteiro um, um inteiro sem fé nos assuntos de fé, plenamente, convicto da presença maciça de suas artimanhas, convicto do horror camuflado de rezas, da preguiça e dos egocentrismos camuflados de rezas, orações em nome de um e outro santo, de santas mães e santas mulheres, uma santa ceia de santas, muitas, inúmeras, incontáveis santas feridas, iludidas e perdidas em nome de alguém incompetente e com eterna mania de deus.

2 comentários:

  1. Eita! que essa foto derruba qualquer santuário
    que se apresente pela frente, qualquer donzela
    de pés macios e cabelos alinhados :)
    "Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?"
    Acho que Rilke se referia a essa falta de sentido, quando invocou por Deus...

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  2. Há algumas pessoas que reclamam tanto, não conseguem enxergar o quão rico elas são.

    Triste!

    Uma ótima semana!

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