(A gente pode conferir a delicadeza da escrita de Susana Meirelles no seu blog, com esse nome delicioso: Gente com cara de vento - http://gentecomcaradevento.blogspot.com.br/)
Há muitos dias penso em Avâny.
Percebo sua presença marcante nos corredores do meu trabalho. Naquela troca
rápida de sorrisos, na minha caixa de mensagens ou na rede social de que
fazemos parte, quando leio - muitas vezes sem nem responder - suas mensagens
diferenciadas em letras que se repetem, para, enfaticamente, dizer o quanto
algo é lindo ou quanto ela adorou.
Longas palavras sempre amáveis e
delicadas.
Avâny é bela: aparece na foto e
na minha lembrança, com um sorriso aberto, o nariz mais bonito que já se viu (
ela sabe disso) e o cabelo em cachos.
Quando temos a alegria de parar e
conversar, Avâny conta suas histórias. Sempre se diz durona por falar o que
pensa. Ela conta que briga... vá lá... briga. Eu finjo acreditar, mas sempre
sorrio de suas discussões, absolutamente amorosas, quando a verdade é dita sem
subterfúgios. Verdade pura e por isso, verdade amorosa.
Sou daquelas que não sabem
brigar. Calo-me diante do que não gosto e sofro. Ah! como eu gostaria ser como
ela e ter a liberdade de usar as palavras para sempre dizer o que penso. Deve
ser por isso que eu escrevo e, por isso, eu goste tanto de escutar suas
histórias, rindo delas, pois tudo parece muito leve no seu jeito franco e
direto de ser.
Avâny briga para alertar, para
abrir os olhos, para dar uma boa sacudidela em quem precisa disso e para dizer
a verdade. Aliás, Verdade é a palavra mais parecida com ela, que tem V no nome
e um acento, que ela sempre ressalta para não ser confundida com alguma Avaní (
como se precisasse de acento para ser única).
Trabalho com Avâny e a observo.
Sempre tem uma palavra de conforto, um elogio, para uma a uma daquelas mães,
que ali vão em busca da Avâny terapeuta ocupacional de suas crianças. Crianças
que, com uma sabedoria especial e maior, sorriem para Avâny sentindo, como eu
sinto, seu calor, seu amor, seu desejo de que elas cresçam e se desenvolvam.
Outro dia, perto do fim do ano,
Avâny me encontrou chorando - coisa rara de acontecer. Quando acontece, porém,
tem sempre uma palavra na garganta que não foi dita e está fluindo nas lágrimas
como barco sem rumo, seguindo o fluxo do rio. Era por não saber brigar que eu
chorava. Chorava sim, como se estivesse perto do fim: da alegria, dos ideais,
da esperança.
Avâny não briga. Escuta. Acolhe.
Como bicho da seda, tece tudo, ajudando-me a ver o que me parecia tão
emaranhado. Ela sai e, sobre a mesa, deixa um pequeno pacote. Eram lenços de
papel e eu leio o nome : Kleenex com Extrato de Seda. Enxugo minhas lágrimas e
choro até perto do fim, deixando uma ultima folha para escrever a Avâny e celebrar.
Celebrar a vida. Celebrar os fins
e os inícios. Celebrar o viver que, com seus fios de seda, une as pessoas
aparentemente diferentes para nos mostrar que mesmo quando somos verso e
reverso, somos parecidos. Mostrar que, como as teias, há pontos que se cruzam e
entrelaçam em todos nós. Celebrar, porque viver talvez seja mesmo a arte de
entrelaçar delicadamente o que somos, em que acreditamos e o que fazemos, nos
macios fios de nossa verdade.
Naquela manhã eu disse a Avâny
que aquele pacote de lenços não seria esquecido. Não esqueci, escrevendo na última folha:
- Avâny você é amorosidade pura.
É bicho da seda que constrói com determinação seus fios, tecendo a vida em malha
macia onde acolhe delicadamente pessoas, amores, amigos. Você é amorosidade não
diluída pelas convenções ou preconceitos. Maciçamente amorosa, é tecedora da
verdade. Se dá como seda. É a mais pura delicadeza: é amor o que você tece e,
por isso, muito o merece, sem diluição.
- Avâny, você é o extrato da
seda: obrigada por enxugar as minhas lágrimas ...e por enxugá-las com a seda da
sua delicadeza.
Susana Meirelles
Tania, Muito obrigada!Fico feliz que tenha gostado.
ResponderExcluirGosto muito da sua escrita, Susana. E partilho para que outros conheçam.
ResponderExcluirBeijos,
Também gostei da Susana. Um vento sensível.
ResponderExcluirbejoss,
Obrigada José Carlos, gosto quando me chamam de vento...Susana
ExcluirSua sensibilidade, faz o texto correr de forma simples e gostosa de ler.Beijo de leitor frequente.:-BYJOTAN.
ResponderExcluirObrigada Byjotan! fico contente que vc sinta meu texto correndo simples ... Será como um vento?
Excluir