quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Joana



 Foto de Neda Agha.

É tarde.
Desencontrei-me dos outros
dos amigos
– tanta amizade desfeita pela estrada
e logo comprei roupas novas
mudei de casa, tive filhos
e viajei pelo mundo
sem nunca mais ouvir suas vozes.

Talvez seja tarde agora.

Mas penso em tantas faces
tantos nomes
e esta noite mesmo sonhei com a Joana
que há dez anos perdi de vista
: falava ao telefone
aquele mesmo jeito manso que lhe conheci
fitando o chão distraída.

Era ainda a mesma Joana
tímida, ingênua, contida e delicada

– e pensar que sempre vemos tanto os outros
sob suspeitas as mais variadas!

Joana continua
a existir dentro de cada um
até de mim
que muito bem conheço minha malícia.

Um bolinho para a aniversariante secreta!!


Parabéns a você
nessa data querida
muitas felicidades
muitos anos de vida!!!
Vivaaaaaaaa a aniversariante secreta :)

Sandy e os Americanos
























Esses americanos! Impressionante como eles sabem organizar super produções, mesmo que seja uma tragédia. Quem assistiu a CNN e a Fox na noite do dia 29 de outubro pode ter uma noção exata do que realmente é a sociedade americana. Tudo em tempo real, repórteres instalados nos locais estratégicos de bota, capa e boné, com água na cintura, informando a quantidade de chuva, a velocidade dos ventos,  as últimas perspectivas. E todos ficam ligados -- ou focados como dizem os americanos.

A vida -- mesmo sendo trágica -- é mesmo um espetáculo!

Até agora, 30 pessoas morreram.

Fotos, Boston Globe

Sandy no Caribe




Santo Domingo
Santiago de Cuba


Antes de passar pelos EUA, o furacão Sandy atravessou o Caribe. 60 pessoas morreram em Cuba, 50 e poucos no Haiti e desalojou milhares na República Dominicana.

Impressionante como é horripilante a tragédia em um cenário de miséria.
A CLASSE OPERÁRIA VAI AO MUSEU

Antonio Luiz Nilo
Diretor de Criação da Objectiva Comunicação

Acaba de ser inaugurada no Masp a exposição Luzes do Norte que reúne desenhos e gravuras do Renascimento alemão, obras que pertencem ao acervo do Museu do Louvre. Sim, mas... e daí?
Muitos diriam que esse é o tipo de notícia que só interessaria à crítica especializada ou ao insignificante nicho intelectual brasileiro. Ledo engano. O Brasil se tornou, nesses últimos anos,  um dos maiores centros expositores do mundo, trazendo, com uma frequencia cada vez maior, obras de mestres como Caravaggio, Escher e Modigliani para as principais capitais do país.
O CCBB no Rio de Janeiro, por exemplo, tem hoje a 18  maior audiencia de arte do planeta, com 2,8 milhões de visitantes/ano. E a cidade já é comparada a Paris, Tóquio e Nova York no cenário artístico mundial. Capitais como São Paulo, Brasília e Porto Alegre também se destacam como promotoras de grandes exposições.
E Salvador? Em Salvador, como todos sabem, o buraco é mais embaixo. E mais profundo. Aqui, excetuando a exposição de Rodin, que para os moldes baianos teve até uma boa repercussão, as artes plásticas ainda engatinham e sujam fraldas... assim como a música, o cinema e a literatura. Alguns reagiriam falando que, na verdade, quem não consome a cultura é o povão.
Ok, sou até da opinião que o povão tem limitações em qualquer lugar do mundo, basta observar o estrondoso sucesso de Paulo Coelho na França. Mas, na Bahia, a doença parece ser mais crítica. Aqui até a classe média alta, pretenso reduto da intelectualidade, cultiva hábitos, diríamos, culturalmente pouco saudáveis. O sucesso da literatura, por exemplo, não escapa da lista dos "10 mais" de autoajuda da Veja. O cinema, pièce de résistance da gastronomia cultural baiana, só consegue engordar as bilheterias de Mercenários e Crepúsculos. A música... bom, sobre música, é melhor a gente nem falar.
Mas esqueçamos Salvador como exceção e voltemos ao tema. As exposições artísticas estão sendo cada vez mais consumidas no país. E isso se deve à boa fase da economia brasileira, à Rouanet e à ascensão da classe C. Isso mesmo, a classe C descobriu que pode, sim, ter acesso às grandes exposições artísticas e finalmente compreender esse universo até então inalcançável. O tema começa a ser explorado por um público que não pertence nem à classe realmente intelectualizada. capaz de decifrar os textos incompreensíveis dos críticos de arte, nem à classe de alto poder aquisitivo, que emburrece galopantemente.
Essa nova classe economicamente ativa pode ter um novo olhar para a arte. Um olhar autêntico. Sem  compromisso. Afinal, um quadro é para ser admirado. A técnica, o estilo ou a escola podem não ser assim tão importantes para uma apreciação legítima, honesta. Quem sabe a classe "C" não se transforme, daqui a alguns anos, na classe "Cultural" brasileira. Quem sabe?
 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

um poema de Ferreira Gullar

Calço sob os pés sórdidos o mito
que os céus segura - e sobre um caos me assento.
Piso a manhã caída no cimento .
como flor violentada. Anjo maldito,
(pretendi devassar o nascimento
da terrível magia) agora hesito,
e queimo - e tudo é o desmoronamento
do mistério que sofro e necessito.
Hesito, é certo, mas aguardo o assombro
com que verei descer dos céus remotos
o raio que me fenderá no ombro.
Vinda a paz, rosa-após dos terremotos,
eu mesmo juntarei a estrela ou a pedra
que de mim reste sob os meus escombros.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

brincávamos a cair nos braços um do outro



brincávamos a cair
 nos braços um do outro, 
como faziam as actrizes nos filmes com o marlon 
brando, e depois suspirávamos e ríamos 
sem saber que habituávamos o coração à 
dor. queríamos o amor um pelo outro 
sem hesitações, como se a desgraça nos 
servisse bem e, a ver filmes, achávamos que 
o peito era todo em movimento e não 
sabíamos que a vida podia parar um 
dia. eu ainda te disse que me doíam os 
braços e que, mesmo sendo o rapaz, o 
cansaço chegava e instalava-se no meu 
poço de medo. tu rias e caías uma e outra 
vez à espera de acreditares apenas no que 
fosse mais imediato, quando os filmes acabavam, 
quando percebíamos que o mundo era 
feito de distância e tanto tempo vazio, tu 
ficavas muito feminina e abandonada e eu 
sofria mais ainda com isso. estavas tão 
diferente de mim como se já tivesses 
partido e eu fosse apenas um local esquecido 
sem significado maior no teu caminho. tu 
dizias que se morrêssemos juntos 
entraríamos juntos no paraíso e querias 
culpar-me por ser triste de outro modo, um 
modo mais perene, lento, covarde. Eu 
amava-te e julgava bem que amar era 
afeiçoar o corpo ao perigo. caía eu 
nos teus braços, fazias um 
bigode no teu rosto como se fosses o 
marlon brando. eu, que te descobria como se 
descobrem fantasias no inferno, não 
queria ser beijado pelo marlon brando e 
entrava numa combustão modesta que, às 
batidas do meu coração, iluminava o meu 
rosto como lâmpada falhando 

a minha mãe dizia-me, valter tem cuidado, não 
brinques assim, vais partir uma perna, vais 
partir a cabeça, vais partir o 
coração. e estava certa, foi tudo verdade 

valter hugo mãe, in 'contabilidade'

nenhum amor escapa impune



deixa-me perguntar se te 
pareço tão assustado assim. Não 
me sinto deslocado, talvez curioso, mas 
nem surpreso. algo em ti me puxa 
sempre ao sentimento, mesmo antes de 
te conhecer, lembras-te, uma propensão para 
te tratar bem, cuidar, vulnerabilizar os meus 
modos, recusar admitir que também eu sou 
capaz de crueldades quotidianas e 
impunes. queria conversar contigo 
sobre o nelson, que foi ver as coisas a 
arder fotografando a própria 
pele. queria falar-te da isabel e de como 
choramos juntos, muito maricas, quando 
nos correm mal estes amores ou, pior, a 
nossa amizade. esta noite sonhei contigo e 
achei graça dizer-te que cheirava mal 
na nossa cama. que me incomodou a luz a entrar 
pela persiana por fechar. que ouvi com dor o 
orgasmo da vizinha de baixo 

queria que soubesses que também eu 
poderia ter ardido para o nelson 
fotografar. queria que soubesses que 
também poderia parar de chorar pela 
isabel. queria que soubesses que o faria 
exclusivamente 
para arruinar o meu coração, se fosse a 
tua vontade e com isso te deixasse em 
paz. faria qualquer coisa, ainda que 
quisesse morrer a seguir, faria qualquer coisa que, 
por um instante, te pusesse 
a pensar em mim 

valter hugo mãe, in 'contabilidade'

domingo, 28 de outubro de 2012

Jaques Wagner elege ACM Neto o novo prefeito de Salvador






ACM Neto, o prefeito eleito em Salvador, do DEM, não precisou da máquina do estado para ser eleito. Na verdade, o grande responsável pela vitória do novo prefeito foi o senhor Jaques Wagner, a quem o novo prefeito deve agradecer.  Todos sabemos que os soteropolitanos não escolheram Neto para prefeito. Na verdade, o voto foi contra a incompetência, a prepotência e a arrogância do governo do estado. Há, sim, quem lamente o que chamam de “retrocesso”. Mas a sabedoria ensina que muitas vezes é preciso dar um passo para trás para que o salto seja dado com mais precisão no futuro. Os carlistas de carteirinha – não o povo soteropolitano – agradecem, efusivos, ao governador da Bahia.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Cantemos o medo para afastá-lo...!

 

 


Medo

 
 
 
 
Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo!
Mas se insistirem eu lhes digo.
O medo mora comigo.
Mas só o medo!
E cedo, porque me embala num vaivém de solidão.
É como um silêncio que fala,
com voz de móvel que estala
e nos perturba a razão.
Que farei quando deitado,
fitando o espaço vazio grita no espaço fitado
que está dormindo ao meu lado,
Lázaro frio?
Gritar?
 Quem pode salvar-me do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me,
mas sei que ele há de esperar-me
ao pé da ponte do fim.
 
 
Reinaldo Ferreira(Edgar de Azevedo e Silva), nasceu em Barcelona, Espanha, em 1922 e faleceu em Lourenço Marques(Moçambique), em 2003. Esse poema ficou celebrizado na voz da fadista portuguesa Amália Rodrigues, musicado por Alain Quilman.

Vivemos Tempos Malucos




Catarina, 20 anos, é virgem e vai "dar" para um japonês num avião, ele pagou 1,4 milhão de dólares pela aventura.
Estão a discutir se isso é prostituição.
O certo é que ela foi leiloada -- em pleno século XXI -- para a felicidade daquele que pagou caro para ter o "poder" de tirar sua virgindade.
Ao mesmo tempo, ela tem o "poder" de ser virgem e por conta disso pode vender seu corpo por milhões de dólares.
Como gostam de dizer nossos amigos americanos: money counts.
Como se virgindade -- tão importante na Ilhéus de 1920 como nos conta Jorge Amado em Gabriela -- fosse hoje algo importante. Não é.
Essa neurótica e histérica moda vai pegar, por um simples motivo: vivemos tempos malucos.

Milton Nascimento - 70 anos hoje

Lixo Maravilhoso







Talvez tenha sido o filme mais bonito que assisti este ano. Confesso que  lágrimas correram dos olhos. Em 2009, no Rio de Janeiro fui no Museu de Artes Modernas ver a exposição de Vik Muniz, fiquei impressionado. Naquele ano foi filmado o  documentário Lixo Extraordinário, indicado ao Oscar 2011, mas não levou.

Vik Muniz é paulista  que foi cedo aos EUA e hoje mora em Nova York, seu estúdio é no Brooklin.  Ele talvez seja hoje o artista plástico brasileiro mais conhecido no mundo.

O filme praticamente se passa no aterro do Jardim Gamacho, em Duque de Caxias, RJ, é o lixão do Rio,  ao lado está a  favela dos catadores do lixão. Vik convidou alguns catadores, tirou algumas fotos  e fez ao lado um pavilhão.

 As fotos refletidas no chão do pavilhão foram preenchidas pelo lixo. E a exposição foi um sucesso. O lucro auferido com o leilão, em Londres,  das fotografias originais foi destinado aos catadores. Tudo isso está no filme. Recomendo.

Produzido pelos diretores brasileiros João Jardim e Karen Harley e pela diretora britânica Lucy Walker, com participação na produção-executiva do diretor Fernando Meirelles e na trilha sonora do produtor de música eletrônicaMoby.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Pivô




Ninguém chama pivô de uma separação
mulher apaixonada por homem casado,
que olha infelizmente todo seu passado
sem sentir alegria nem fazer monção.
Sei bem que isso havia em tempo de avô,
quando os infelizes aprisionados
no anelo conjugal se viam amarrados,
sem chance de alçar asas, tentar novo voo.
Mas tem certa razão a mulher mais prudente,
com generosidade com a semelhante
ao não querer tirar esposo como amante.
Sair do jogo ilesa mostra seu caráter,
ninguém vai jogar pedra nem querer bater
naquela que esperar o amor em liberdade.

Stanislau Balner

Ruínas



Por onde quer que tenha começado,
pelo corpo ou pelo sentido,
ficou tudo por fazer, o feito e o não feito,
como num sono agitado interrompido.

O teu nome tinha alturas inacessíveis
e lugares mal iluminados onde
se escondiam animais tímidos que só à noite se mostravam
e deveria talvez ter começado por aí.

Agora é tarde, do que podia
ter sido restam ruínas;
sobre elas construirei a minha igreja
como quem, ao fim do dia, volta a uma casa.

Manuel António Pina

Tudo à minha volta




" Tudo à minha volta cumpre
   um destino silencioso e incompreensível
   a que algum deus fugaz preside.
   Fora de mim, nas costas da cadeira

   o casaco, por exemplo, pertence
   a uma ordem indistinta e inteira.
   Dava bem todo o meu sentido prático
   pela sua quieta permanência em si e na cadeira.

   A realidade dos livros em cima da mesa
   parece tão estritamente real!
   As filhas falam, barulhentas e reais,
   e eu próprio, em qualquer sítio, sou real.

   Sob este rio real
   o rio que me arrasta, de palavras,
   corre dentro de mim ou fora de mim?
   O que pensa? Estou lá, ou está lá alguém,

   como está nesse lugar (qual?),
   e como os livros na mesa?
   O que fala falta-me
   em que coração real?

   É duro sonhar e ser o sonho,
   falar e ser as palavras!
   E, no entanto, alguém fala enquanto fujo,
   e falo do que, em mim, foge.

   Sem que palavras alguma coisa é real?
   As filhas sabem-no não o sabendo
   e falam alto fora de mim
   sem falarem nem não falarem.

   Em mim tudo é em alguém
   em qualquer sítio escuro
   como se houvesse um muro
   entre o que fala (quem)? "

Manuel António Pina

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=MQVi5MFt5M8

O que é importante pra você?

Imperdível.
Tocante.
Bonito.
Honesto.




A cada fotografado de nosso Inside Out São Paulo, fizemos a pergunta: “O que é importante para você?”. A partir desta semana, confira as respostas de cada um deles
 — banais ou surpreendentes, elas dão uma dimensão ainda mais humana a esses retratos: http://da-blo.gs/iop-sp-fotos (imagem: área destruída pelo último incêndio na Favela do Moinho; ao fundo, Nilda Maria, em retrato de Mariana Resegue; foto: Visualfarm)

http://blogs.dharma.art.br/iop-sp-fotos/


Deficiências



 
 
 
Deficiente  é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
 
Louco  é que não procura ser feliz com o que possui.
 
Cego  é aquele que não vê seu  próximo morrer de frio, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
 
Surdo  é aquele que não tem tempo para ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão, pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
 
Mudo  é aquele que não consegue falar o que sente  e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
 
Paralítico  é quem  não  consegue andar na direção daqueles que precisam de ajuda.
 
Diabético  é quem não consegue ser doce.
 
Anão  é quem não sabe deixar o amor crescer.
 
 
 
Mário Quintana
 


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Entre o amarelo e o rosa...



 
 
 
Eu caminhava alegre entre os pastores
E tatuada de infância repetia
Que é melhor em verdade ter amores
E rima transitória para o verso
Para cantar mais alto é até preciso
Desdobrar-se em afetos e amar
Seja o que for, luares e desertos
E cantigas de roda e ditirambos.
 
 
Entre o amarelo e o rosa, a lua nova
Na vida também nova, ressurgia.
 
 
Hilda Hilst,  em  Exercícios.

Perigo

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Se não despencassem tanto as letras




Se...

Não despencassem tanto as letras
do olhar das palavras, 
seria ela capaz de juntar as frases
e de esquecer as linhas 
retas de réguas e de centímetros
imponderáveis em longas distâncias.

Se...

Não andassem tão velozes os dedos, 
poderia ela amaciar
o toque sobre o teclado
e diminuir o ruído da chuva 
e identificar os ruídos dementes do coração.

Se...

Não se quebrasse tanto a escrita
e dela não surgissem tantos trechos 
e tantas personagens,
tingiria ela de vermelho 
o que se esconde no preto no branco
da pele encharcada de amor.

domingo, 21 de outubro de 2012

Manuela de Freitas - António Botto / O Mais Importante na Vida (English ...



O mais importante na vida


É ser-se criador – criar beleza.



Para isso,

É necessário pressenti-la

Aonde os nossos olhos não a virem.



Eu creio que sonhar o impossível

É como que ouvir a voz de alguma coisa

Que pede existência e que nos chama de longe.



Sim, o mais importante na vida

É ser-se criador.



E para o impossível

Só devemos caminhar de olhos fechados

Como a fé e como o amor.


António Botto

De quatro







Procuro meus iguais
Desde que nasci.
Marcas invisíveis
Senhas adormecidas
Olhos de esquecimento.

Procuro pelos meus
Apurando o faro
Andando de quatro
Comendo placenta
Sem ter parido.

Procuro meus iguais
Desconstruindo palavras
Dilatando pupilas
Eriçando pêlos
E derramando seivas
A cada corte na pele.

Passaram-se anos
Para que eu compreendesse
Que era preciso encostar
O ouvido nos ventres
E escutar os tambores
No côncavo templo
Há tanto tempo esquecido.  

sábado, 20 de outubro de 2012

Em casa



Imagem sem nome de autor.

No interior da casa
o que está dentro de tudo ressuscita
e inicia um canto novo a cada instante.

Não é verdade que as coisas acontecem sempre iguais
porque as palavras mudam e a cor das folhas muda
o pássaro de cada dia
pousado no beiral.

Dentro da casa há mergulhos na noite
estradas imaginárias e o vazio
que às vezes se percorre como quem volta do exílio
e já não sabe onde deixou o livro interrompido
nem mais se lembra do instante decisivo
dos pontos religados pelos olhos
aquele que decide o que não pode se chamar destino.

Dentro das mãos
o tempo rasga o interior das coisas.