quarta-feira, 1 de agosto de 2012

(Dos sonhos IV): amar é morrer!

 
 
Não, amar não, que amor exige entrega e entregar-se é morrer.  Não é? Engano seu. Na entrega do amor – profunda, verdadeira – você deixa de existir enquanto ego, desata o laço que o prende com segurança e cai em vertigem interminável. Morre.

Quando ele me falou que sonhou com seu próprio velório e ressaltou que eu estava presente junto ao seu corpo, sorri por dentro, porque compreendi. Amar era o seu maior medo. Ele não sabia, porque esse quase terror estava mergulhado nas águas escuras do seu inconsciente e as feridas que o fizeram temer o amor vinham de muito tempo, da infância sofrida, quando lhe ensinaram a rimar amor com dor.

O corpo, ele entregava em êxtase. O coração jazia sob os escombros do passado. Um dia, desprevenido, afrouxou o laço que o mantinha seguro e sentiu um arrebatamento íntimo, como se lhe faltasse o chão, como se seu próprio corpo se fundisse com o outro corpo, e a respiração denunciou um algo desconhecido. À noite sonhou que morrera, e eu estava lá, acompanhando o corpo sereno, descansando na mesa, entre flores e lamentos.

Sim, amar e morrer são verbos que se irmanam. A metáfora do sonho escondia o começo de uma entrega, incipiente, a algo que parecia ser amor. Temeu, no entanto. Não à morte, mas ao amor. E recuou.

Um dia – assim desejo e espero – haverá de morrer sem medo.

16 comentários:

  1. Lindo, Tânia!

    Assim também penso. Particularmente, tenho mais medo de amar que de morrer.

    Beijos! Saudades!

    Mirze

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    1. Mirze, querida, amar verdadeiramente é uma morte. É um fundir-se totalmente e desaparecer, para resurgir inteiro...

      Beijos pra ti...

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  2. Oh, que coisa mais linda!
    Chorei.
    Vou levar lá pro face.
    Sinto saudades de você por lá, Taninha.
    Eu sou uma criatura destinada a saudade pelo jeito.
    Beijoss

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  3. Eu também sou dada a saudades, Lelena. E sinto saudades de você, de vocês.

    Beijos,

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  4. Ciao, i tuoi post sono molto belli, raccontano della vita. dei sentimenti, del senso vero o immaginario di ciò che ci circonda...
    Mi piacciono molto anche se non capisco tutto (la traduzione aiuta poco)...
    Mi piace moltissimo la tua foto di apertura...geniale, louis Armstrong e la sfinge ..che coppia!
    E ti ringrazio anche per aver trovato interessante e pubblicato il mio
    dipinto di "amore eterno" (bello anche il tuo titolo!)
    Ciao, ciao, Floriana

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Não necessariamente amiga. Amor exige alguma entrega, mas não pode ser uma entrega exacerbada, certo ?
    Beijo[ta] !

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  7. Pois eu também acho que o amor é VidA! Não acredito que duas pessoas possam fundir-se em uma, porque para se amar verdadeiramente
    é necessário que saibamos aceitar as pessoas como elas são, sem que para isso seja necessário que uma das partes desapareça. Que nos entreguemos, sim, mas sem perder a nossa individualidade. E olha que conseguir isso já é uma grande proeza. De mais a mais, o Amor é
    mesmo uma quimera, uma utopia...! É um constante vir a ser!

    beijoss, Tânia

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  8. Ci, meu texto é um texto de sonho. Trata deles, dos sonhos. E a antrega ao amor aparece muitas vezes nos sonhos como uma morte. É mais comum do que pensamos. Não morte real. Morte das couraças que colocamos por medo de amar. Tudo isso é símbolo. Sonhos falam simbolicamente. Não é uma linguagem literal. É preciso entender a linguagem do inconsciente, totalmente simbólica. E temos nossos símbolos pessoais, assim como há os símbolos arquetipais. Pra mar é preciso muitas vezes "morrer". Que morra o medo do amor. E da morte. Beijos. Acho que a Lelena entende do sonhar...rs Penso que captou o sentido do texto. O sonhador é real, não fictício. E cada sonhador tem suas simbologias próprias. Não há certo ou errado nos sonhos. Há símbolos. Beijos, Ci

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  9. Eu sei que é símbolo, Tânia, mas o símbolo não deixa de ser uma representação do que sentimos, do que pensamos; sei também que os sonhos são representações do que armazenamos em nosso inconsciente. Todos nós entendemos do sonhar, cada um à sua maneira, sem qualquer juízo de valor, de acordo com a história de cada indivíduo, mas também a partir de um arquétipo comum a todos. O Amor, o Amar é muito maior do que um sentimento que nutrimos (ou não) por uma pessoa, abarca tudo o que sentimos por nossos sememlhantes, por todos os seres vivos. Teu texto está muito interessante porque nos leva a repensar sobre esse sentimento tão controvertido e tão almejado por todos nós!

    beijoss

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  10. Belíssimo texto, muito bem escrito, inteligente, criativo!
    Grande abraço e sucesso!

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  11. Muito bom, aplaudo!! ótima escrita a sua!!

    []s e parabéns!

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  12. De extrema delicadeza o texto. Que bom que as palavras fluem com tanta facilidade das suas mãos (sei que você não escreve com as mãos)...
    Abraços,
    José Carlos

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