sábado, 18 de agosto de 2012

Baias da memória



                                                                    Imagem sem menção de autor.

As casas onde morei fizeram água
e as árvores do pomar perderam a sombra.
Só me restaram coisas sem valia
que envolvi em sedas coloridas.

Nas baias da memória
moram um alazão alado
e um baio esguio e bonito
que não consigo arrear.
Mora um gato almiscarado
numa urna de alabastro
e uma sereia de sol e tabaco
que em dias frios
desfaz as tranças na praia
e some em grutas de rio.

O sono rouba o sossego
e traz de volta faces do passado
acaricia traiçoeiro meus cabelos
e traça rumos ao céu dos quatro ventos
onde me perco.

O cerco da memória é como um sono
a devorar as portas do presente.

Mas onde deixarei minha bagagem
se a estância do presente não tem baias?
Para onde voarão minhas imagens
abandonadas sem asas neste chão
ainda que seja o único existente?

6 comentários:

  1. Lindíssimo dade amorin. Obrigada.
    Para você:
    http://youtu.be/2Mh5lDDpRmc

    Viagem
    Oh! Tristeza me desculpe...
    Estou de malas prontas
    Hoje a poesia veio ao meu encontro
    Já raiou o dia
    Vamos viajar

    Vamos indo de carona
    Na garupa leve
    Do vento macio
    Que vem caminhando
    Desde muito tempo
    Lá do fim do mar

    Vamos visitar a estrela
    Da manhã raiada
    Que pensei perdida pela madrugada
    Mas que está escondida
    Querendo brincar

    Senta nessa nuvem clara minha "poesia"
    Anda se prepara
    Traz uma cantiga
    Vamos espalhando música no ar

    Olha quantas aves brancas
    Minha "poesia"
    Dançam nossa valsa
    Pelo céu que um dia
    Fez todo bordado
    De raios de sol

    Oh! “poesia” me ajuda
    Vou colher avencas, lírios, rosas, dálias
    Pelos campos verdes
    Que você batiza
    De Jardim do céu

    Mas pode ficar tranquila
    Minha 'poesia'
    Pois nós voltaremos
    Numa estrela guia
    Num clarão de lua
    Quando serenar

    Ou talvez até quem sabe
    Nós só voltaremos num 'cavalo baio'
    No azalão da noite
    Cujo nome é raio,
    Raio de luar

    Com carinho
    Sílvia

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    1. Obrigada, Sílvia.
      Música e letra são lindas, velhas conhecidas.

      Beijo.

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  2. Há momentos que eu penso que seria bom poder apagar algumas memórias, os registros de alguns sofrimentos.
    Como de algumas mortes, por exemplo.
    Uma, pra mim, inexplicável.
    Mas se apagasse teria também de apagar a vida que havia antes.
    E aí seria aniquilar também a mim.
    Então, tento e tento e falho e tento de novo colocar cada memória no seu galho. Mas sabe como é a natureza: as árvores balançam e trocam tudo de lugar.
    Beijos, Dade.

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    1. Tem razão, Lelena. A natureza não nos deixa liberdade para tudo que desejaríamos fazer. E pela vida afora, as árvores balançam sem parar.
      Beijos.

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  3. Dade e Bípede sinto o mesmo mas creio que seja impossível enterrar o passado, impossível... Não devemos viver preso a ele, mas não podemos enterrá-lo jamais.
    Com carinho,

    Sílvia

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