quarta-feira, 21 de março de 2012

Soneto das metamorfoses

Carolina, a cansada, fez-se espera

e nunca se entregou ao mar antigo.

Não por temor ao mar, mas ao perigo

de com ela incendiar-se a primavera.

Carolina, a cansada que então era,

despiu humildemente as vestes pretas

e incendiou navios e corvetas

já cansada, por fim, de tanta espera.

E cinza fez-se. E teve o corpo implume

escandalosamente penetrado

de imprevistos azuis e claro lume.

Foi quando, se lembrou de ser esquife:

abandonou seu corpo incendiado

e adormeceu nas brumas do Recife.


Carlos Pena Filho, Recife(PE) - 1929-1960

4 comentários:

  1. Os belos rompantes também existem nas dicções mais antigas...


    Escandalosamente azul-incinerado.

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  2. Não conhecia este poeta, mas gostei do soneto.
    Um abraço e tudo de bom para si

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  3. Belo poema de Carlos Penna Jilho!

    Quando a vida nos faz "espera", ele sabe como dizer melhor que todos sobre o cansaço, o azul e a esquife.

    Amei!

    Mais um para minha coleção

    Beijos

    Mirze

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  4. Hermoso poema!!
    Besos, desde España, Marcela♥

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