segunda-feira, 26 de março de 2012

Mar Amarelo






Senta-te no trabalho
imputrescível. E olha:
as coisas amarelas. Nas
árvores, faltam folhas.
Nas solidões, medidas.


Teu irmão com câncer
na garganta, de chinelos.


Crianças ouvindo o mar
em conchas, envolvidas.


E o telegrama que não vem.
E o telegrama que não vem.
E o telegrama.


Frutífera é a cor que chega
como seta [como lança], vinda
do mar-de-antes [além de ouvida
concha].


O mar real que faz barulho e
salga.


O mar onde brincamos com os
vizinhos [te lembras disso?!],
com os pés molhados.


O mar transfigurado em
poça [ou poça em mar],
derramado ao chão [sem
sal], em jarros d’água.


Nossa sala de estar.


[Brincadeira de
criança].


Lembra-te das
Infâncias. O Mar
[também] ouvido
em concha.



Mas não amarelo,
como agora.

Marcelo Novaes

28 comentários:

  1. LINDO, MARCELO!

    Sei que é plronasmo, mas fazer o que. E lembro das mãos em conchas e de ouvir o som das conchas. Que tempo bom. Hoje realmente até existe mar, amarelo, vermelho de algas e existe as urgências que sçao primordiais à beleza do mar.

    Beijos, POETA!

    Mirze

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  2. Obrigado, Mirze.


    Outono d'água salgada. Ou da lembrança.



    Um beijo, amiga.

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  3. O mar transfigurado em
    poça [ou poça em mar],
    derramado ao chão [sem
    sal], em jarros d’água.

    Esse é o poeta Marcelo Novaes. Já no primeiro verso eu sei que ele e no primeiro verso me deito e escorrego até o fim, com respiração única, que é essa respiração que vem aos versos de Marcelo. Belo post, Ci. Beijos, Marcelo...

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    1. Tânia,


      É um pouco de influência da música, daquela coisa de pensar as interpolações em colchetes como "duas vozes". É o subtexto-explanatório como contraponto poético. Vc já se acostumou com essa leitura, é isso que aconteceu.





      Obrigado pelo carinho, Tânia!

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  4. Doces recordações...Lindos versos que nos fazem refletir sobre a efemeridade da vida!

    Bjussssss

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    1. Márcia,


      Também é a expressão de um certo carinho por essa efemeridade. Afinal, acarinhá-la, ainda que nostalgicamente [mas com zelo por cada imagem, pessoa, fracasso], é melhor do "espernear no mar a título de pretender aprender a nadar".





      Um beijo, moça. Seja bem vinda!

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  5. Poema simplesmente maravilhoso!!!
    Hoje, nem mar, nem concha, nem mais o verde-água, mas o amarelo, todo ele cdis=do por por Van Gogh, sobra de Arles...
    Grata, Cirandeira!
    Parabéns, Marcelo!
    Abraços para os dois

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    1. Zélia,


      Gostei de vc pensar em Van Gogh. O amarelo dele é vivíssimo: explosão emocional derramada sobre o mundo. Amarelo-visonário, anúncio de algum vórtice interno. Redemoinho mal-disfarçado. Um Mar Amarelo em Van Gogh seria assim como "um mar incendiando".

      Imagem paradoxal, mas plena de sentido no olho do pintor.



      Obrigado por conceber a cor, cedida por ele, neste meu texto.




      Um beijo, Zélia.

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  6. Nas árvores, faltam folhas...
    Nas solidões,medidas.

    Do mar-de-antes,frutífera é a cor que chega...

    como lança...

    pés molhados,brincadeiras de criança.

    Como não lembrar das Infâncias?!
    E dos telegramas...
    com este Mar...agora Amarel(ad)o...


    Marcelo,ver,ouvir e sentir...com a pele,mente e coração, pelo fio condutor do teu "Olhar"...ah,é mergulhar de "cabeça" pelo mar real que faz barulho e salga,sendo assim,(e só assim)...bonito, pois verdadeiro...
    leva dos sonhos aos socos,do susto ao despertar,do aconchego ao voo,
    voo livre...sim,só pode ser livre como é o "voo" único da tua assinatura!

    Então mais uma vez,de muitos que já foram,e de muitos que com certeza ainda virão...obrigada!

    Chegando agora neste espaço...prazer em conhecer e estar aqui.Parabéns!

    Mínimo Ajuste...Vida Longa!

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    1. Mary,


      Seja bem vinda, e obrigado por se debruçar sobre o texto.


      :)


      Um beijo!

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  7. Cara;tuas lanças são imputrescíveis.Vlw por mais esta.abraço forte

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  8. Valeu, Sérgio!


    Seja bem vindo, amigo.



    Abração.

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  9. Perdoem se aparecer diversos coments iguais,estou na quarta tentativa.
    Super válidas tentativas.

    Grde Marcelo;Deu pra ouvir a concha e sentir o sal.No ponto!
    um abraço.Paba

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  10. Paulo,


    Vc tem bons ouvidos, camarada.


    Abração!

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    1. Vlw camarada Zé Marcelo
      E nos rodopios,pasme vc;foi a camarada Zé Bukinha que deu suporte pra poder estar aqui. quem diria,não? :-)))
      Digo:por onde vou levo vcs :)

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  11. LINDO!!!!!
    Mesmo com o Mar de agora,amarelo...................Lembrar das Infâncias é novamente sentir os pés molhados !!!!!
    Beijos Marcelo;vc traz estes doces e salgados sentimentos!!!!

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    1. Maria Eduarda,



      Os salgados são comigo mesmo.


      Um beijo, amiga!

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  12. nossa que texto lindo.... infelizmente perdi as palavras pra descrever a beleza...


    lindo texto!

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  13. Que faz barulho e salga,real o mar amarelo de agora :( :)
    Sentei.............................Imputrescível
    Demais,cara.vlww

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  14. MARCELO, QUE DIFICULDADE CONCLUIR COMENTARIO AQUI E DE ONDE OPERO,ACENTOS E AFINS SAO COISAS DO PASSADO,SE NAO FOSSE O CAOS ATE IRIA RIR :)) BACANA ESTE ESPACO, PARABENS PESSOAL MINIMO AJUSTE. APORTO AQUI E NESTE MAR , EMTEMPOS DE TELEGRAMAS,QUE CHEGARAM. E NA COR DA SETA,LEMBRANCAS.................... E COM S FALTAS E MEDIDAS BALANCEADAS ABRACAO,AMIGO.SEMPRE O CARA VLw. BIRA

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    1. Bira,


      Os acentos estão caindo todos, nem se preocupe.



      Forte abraço!

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    2. Mto bom,Marcelo :)
      Bira vc é formidável com ou sem acento.Soube da sua mãe;força amigo.abraço

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  15. Tomei a liberdade de compartilhar na rede estas lembranças reavivadas das infâncias e do real no vivo mar de constante movimento.A liberdade foi mais além;qdo abri o texto e uma imagem de um foco apurado de uma impecável sensibilidade com um trecho arrebatador dele :
    " Nas árvores faltam folhas. Nas solidões,medidas.".
    Rendi-me :)
    Buko,grde foco,querida.
    Marcelo,BRAVO!

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  16. Thierry,



    Fique à vontade. Teu olho é calibrado para imagens!



    :)


    Abraços!

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