sexta-feira, 13 de julho de 2012

MIRA, para Sandro Ornellas


Eu fotografei a mala
Na volta da viagem impossível
fiz o inventário do que me pesava e
atravancava os passos e o caminho.

Eu fotografei a sala
não porque rima
mas porque foi neste cômodo
que olhei 
peça por peça
cada pérola 
do meu tesouro.

Eu fotografei a vala
a rima aqui é necessária
pois é o fim 
de quem transpõe a sala
cheia de malas
e seus piratas.


Eu fotografei a falha
o viés, a fruta podre, a sopa rala.
Pesei, ponto por ponto, 
a minha fala
e ouvindo,
de todos os sinos,
um chamado,
mirei exata a curva ladra.

Eu fotografei a data,
e fiz ensaios,
valsa emendada,
a dança torta,
a velha estaca,
o grito rendado 
furos no espaço.

Eu fotografei a bala,
seu movimento,
função datada,
a sua cor, seu peso e fardo,
cada centímetro do 
seu tamanho, ofício e prazo.
Até o momento
em que a bala
correu tão solta
e me fez:
nada.

3 comentários:

  1. Bípede,

    sempre que escrevo algo que me parece algo, talvez bem escrito, trago para cá. O Mínimo Ajuste é um blog que tenho muita alegria de fazer parte.
    Gracias.
    Beijinhos

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  2. Ótima obra, Eliana!
    Muito forte, bem escrita.
    Grande abraço e sucesso!

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