Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios.
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto
Porque eu não sou da informática
eu sou da invencionática
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de Barros, em "Memórias inventadas para crianças"
Sim.
ResponderExcluirBoa parte das crianças entende tudo isso aí.
Felizmente!
Um beijo, Cirandeira.
Manoel fala essa língua universal, que a criança continua morando em nós, para sempre, nalgum lugar.
ResponderExcluirBeijos, Ci!
Um doce esse poeta :)
ResponderExcluirbeijos, Ci!
dos textos dele que mais amo :)
ResponderExcluirbeijos, Ci!!
Muitos beijos para todos(as) vocês que ainda possuem em doçura!!!
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