domingo, 3 de outubro de 2010

DOIS POEMAS

ARBÍTRIO

Enquanto me abandono a uma sorte,
Filha do meu próprio esforço,
Meu artefato
(embora finja não criá-la, é certo),
Ludibrio o que não quero, e permaneço
Enquanto parto.

Viver é isso, então, tudo o que se adia;
O que se inaugura e não se sabia
Conspirado.
Aquilo que despenca das margens
E segue entre a pergunta e a escolha
Situado.

Por si mesmo conduzido, autárquico,
O movimento da vida atinge certeiro
O alvo.
Não é por auto-indulgência, decerto,
Que do afogamento, mesmo sem querer,
Me salvo.


TAÇAS COMUNICANTES

É perigosa a ausência
de vazios externos,
de desaguadouros,
ou reservatórios.
Se viver é transbordar,
que seja como o champanhe
sobre taças empilhadas,
em torre cristalina,
supostamente infinita.


Outros poemas AQUI ou ALI

Um comentário:

  1. Marcantonio,
    Adorei suas taças comunicantes. Que sejam resistentes aos desajeitados!!
    bjs

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