sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Cães


             Eles chegam em matilhas. Uns passam por mim tão rápido que mal sinto seus cheiros. Vão direto até ela e o seu par de sapatos de cetim azul-céu; outros, não. Sinto seus olhos farejando minhas pernas, meu sangue e esse casaco arco-íris florido. A princípio, um bem-estar me alegra, mas o momento não é para a festas; ela segue silenciosa no caixão, quase a me convecer de que não há entre nós uma relação feita de ossos. E, por isso, comemoro minha parcial vitória distribuindo sorrisos. Que desfrutem, os cães, de meus lábios e de meus dentes brancos antes que eu me entregue a criatura de personalidade sintética e anti-alérgica que, devagar, já me devora.

4 comentários:

  1. Qual deles será o mais feroz e devorador:

    a) o que nos habita?

    b) o que nos rodeia?
    ou
    c) ambos?

    ResponderExcluir
  2. Ci, um morde por dentro e outro por fora e no fim a carne rasga e a mordida vem de todos os lados!

    ResponderExcluir
  3. Uma verdadeira batalha carnal!(?) É o salve-se
    quem puder...Que cachorrada terrívelllll...!
    Só rindo muuuuuiiiitoooo...!

    P.S. "cachorradas" à parte, teu texto está muito bom, cada dia melhor!
    Beijos
    cirandeira

    ResponderExcluir
  4. Essa é a verdadeira batalha...
    carnal e antivirótica...
    de nós contra nós mesmos

    Beijos
    Leca

    ResponderExcluir