quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A CAIXA DE MADEIRA

Diante da minha árvore da febre
Abro a velha caixa de madeira
A minha velha caixa de alucinações
Ouço passos seguros, cadenciados
Soltam-se os murmúrios das fontes
Águas de engrossar rios e mares
Dançam nos ventos tão diferentes
Palavras suaves de escrever e contar
Cetins verdes recobrem as margens
Voam poemas de vestir e sonhar
Máscaras escondem rostos de mulher
Moi-se massambala na casa do meio
Contam-se rios de muita água passada
Imaginam-se outros que hão-de chegar
Certos que na foz todos são de ir e voltar
Grandes manadas empoeiram o sol
Meninos homens na circunsição esperada
Os mais velhos matam os bois sagrados
Mulheres de fitas brancas nos cabelos
Velhos gaviões flutuam no ar quente
Girassóis amarelos ensaiam valsas lentas
No horizonte o chão estremece de calor
O grande vermelho entra no rio maior
Polvilhando de faúlhas os céus negros
Hora de dragões sobrevoarem as fogueiras
Libertam-se os lobos de todas as memórias
Sonhos de boiar na superfície da vida
Embrulham-se cambriquitos e juras de amor
No ritmo dos batuques há muito ensaiados
Até que os corpos se diluam na madrugada.

GED

3 comentários:

  1. Bela "paisagem" africana!
    Não estive em África, não a conheço pessoalmente, mas este poema é mais um retrato para juntar aos que tenho dela.
    Por vezes vemos com os "olhos" da alma.
    A Luz A Sombra

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  2. Nunca estive na sua África, GED, mas, como também tenho uma caixa de alucinações, vivo passeando por ela.
    Gosto tanto do seu vocabulário e das suas imagens. Elas não são fechadas.
    beijo.
    BF

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  3. Parabéns...GED...
    uma bela viagem seu texto...

    adorei a frase...
    "Libertam-se os lobos de todas as memórias"...
    e estou pensando nela...nos lobos...nas memórias...

    Beijos
    Leca

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