sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cartas Exemplares

De Gustave Flaubert:

Que coisa desgraçada que é a prosa! Não termina nunca; tem-se que refazer sempre. Eu acredito no entanto que podemos dar-lhe a consistência do verso. Uma boa frase de prosa deve ser como um bom verso, imutável, tão ritmado quanto sonoro.

Mas não são as pérolas que fazem o colar; é o fio.

Sim, a tolice consiste em querer concluir. Nós somos um fio e queremos saber a trama.

Eu só acredito na eternidade de uma coisa, é na da ilusão, que é a verdadeira verdade. Todas as outras são apenas relativas.

A febre esvazia o espírito; a cólera não é força, é um colosso cujos joelhos vacilam e que fere mais a si próprio do que aos outros.

Todo o talento consiste em fazer que ele tome o jeito que se quer.

É perder tempo ler críticas. Eu faço questão de sustentar uma tese de que não há uma só que seja boa, que isto não serve para nada a não ser para imbecilizar os autores e para embrutecer o público, e, enfim, que se faz crítica quando não se pode fazer arte, assim como quem não pode ser soldado torna-se informante.

Quanto a mim, estou de fato muito bem, depois que aceitei estar sempre mal.

6 comentários:

  1. "que se faz crítica quando não se pode fazer arte, assim como quem não pode ser soldado torna-se informante"
    Forte e verdadeira!

    Passo por aqui, porque lá em tua casa a porta está trancada,
    beijos pra ti Bipede menina Falante!

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  2. Mariane, não tá, não. Está aberta :)
    BF

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  3. Esse texto é mesmo exemplar! Passados mais de cem anos e a história continua a mesma. E os críticos, salvo honrosas exceções. continuam os
    mesmos.
    Muito bom, Le :)
    beijo
    cirandeira

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