quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sozinho e de olhos abertos

Não vou procurar sentido para
jogar pérolas em desertos. Não quero.

Se acaso me dizes:vamos passear nestes
Parques, nesta névoa de pipoca doce, não vou.
Fico em vigília pela palavra que sangra a céu aberto,
e pela outra, já fria, estirada no cimento.
Ainda me comove a palavra que um dia
Falava de amor, e depois, sem serventia,
Foi encerrada no mais completo silêncio.

Outras palavras,coitadas,quando sobram,
são retalhos presos no arame farpado.
Sabe lá o que é consolar palavras torturadas?
Não, não sabe cavalheiro, senhores, senhoras.
Só quem sabe demais de mim, sabe, e mais eu,
filho de um parto malcalculado.
Da falência da matriz,(e de parteira).
Nasci sozinho, em silencio, de olhos abertos.

Ao dormir, enxergo mundos invisíveis,
com plantas humanas e gentis. E vejo pessoas imóveis,
como troncos,fossilizadas. Umas escapam,
mas outras, podres na raiz.
Vi seres estranhos exalar fragrâncias irresistíveis.
Quem as aspirasse, tombava de prazer,
convulsionado de prazer, enlouquecido.
de prazer, alarmado de prazer,
desesperado de prazer,
até morrer de prazer.

Vi gente deitada nos trilhos, desistidas.
Vi olhar dos santos maltrapilhos,
paralisados na mais cálida epifania. .

Se me dizes: venha sentar à mesa com esta
toalha de linho, esses cálices de cristal, agradecido.
Afasta de mim a ceia apostólica.
Vou beber em companhia mundana.
Nasci sozinho, de olhos abertos.
Sou o mais amado filho da utopia,
Aqui, eu, e mais eu,nesse convívio íntimo
com as mecânicas mais complexas.
Só vai saber quando eu surgir,
Incorporado na palavra saudade,
passar ao largo, mandar um beijo,
e partir.


Ofereço este poema em homenagem a Lelena,
que foi pontual em um momento crítico.
A autorizo sua reprodução
Paulo Tiaraju

3 comentários:

  1. Paulo,
    quando li, me emocionei.
    releio e me emociono.
    e fico feliz em te ler.
    beijossssssssssss

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  2. Brigadim Lelena, estranho isso, me dei conta que um poema, quando vem de enxurrada, até mal construído é uma confissão coletiva. beijos, obrigado pela homenagem também. Paulo Tiaraju

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  3. Eu adorei! Vai ter mais poema do Paulo? :-)

    beijos, Lelena, parabéns, Paulo.

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