Eu sou sua mãe, mas ela não sabe. A mulher que a acompanha passa por ser a mãe que eu não pude ser. Havia, sim, uma certa felicidade no rosto da menina, de modo que eu não me sentia culpada por tê-la posto em outros braços, um dia, quando ainda era um bebê.
Quando ela entrou sorrindo, uma ternura sedosa envolveu meu coração e uma voz sussurrou a mim que aquela era minha filha. Que era preciso oferecer-lhe o melhor de mim, ofertar o presente mais bonito do mundo, ainda que ela não soubesse exatamente por que o ganhara.
Estranhamente, nunca parei para pensar o que era, de fato, o melhor de mim, onde se encontrava. Mas no rosto da menina um olhar iluminou meus sentidos e reconheci a riqueza que iria deixar para minha filha: a poesia! Era mesmo estranho que eu soubesse, de repente, que o meu legado e a minha riqueza fossem a poesia.
Encorajei-me a chegar perto da criança e perguntei, sem jeito: “Você quer aprender poesia uma vez por semana?”. A resposta veio rápida e enfática: sim! E combinamos que nos veríamos na primeira aula, semana seguinte.
A criança do sonho era eu própria. O meu dom de criadora negado. A dimensão dos sonhos sedenta de vida. Começo de reconciliação entre a velha senhora saturnina que modelava minha face mundana e a criança asfixiada que buscava transformar estrelas em coroas douradas, metamorfoseando o mundo.
Era preciso criar sem medo, apelando para a espontaneidade infantil, imune aos julgamentos alheios.
E pari versos em contrações ritmadas.
Na poesia dormem filhos que não pude ter.
lindo texto :)
ResponderExcluirObrigada! :-) Bjos
Excluirque beleza
ResponderExcluirpoemar é dar à luz
sempre
abração
Fase de escrever sobre os sonhos, menino! rs
ExcluirAbraços,
Tânia!!!
ResponderExcluirQue belo!, que belíssimo texto!
E que bela poeta!!!
beijoss
Relatos de sonhos, Ci. É a vontade do momento. Beijão pra ti.
ExcluirPassei e passo a vida a me dar luz.
ResponderExcluirHá dias em que nasço de parto normal.
Há outros em que me enrolo no cordão umbilical.
Que raro, profundo e inquietante texto, Tania.
Você está em uma fase de esplendor literário.
beijoss
Ando atenta aos sonhos, Lelena. Essa linguagem sem filtro, voz direta do inconsciente. E aí essa fase de transformá-lo em escrita.
ResponderExcluirBeijão,