Ó ser humano! eis-te agora, nu como um verme, diante do meu gládio de diamante! Abandona teu método; passou o tempo de te fingires orgulhoso; lanço sobre ti minha oração, em atitude prosternada. Alguém observa os mínimos movimentos de tua vida criminosa; estás envolvido pelas malhas sutis da sua perspicácia encarniçada. Não confies nele quando vira as rédeas, pois te encara; não confies nele quando fecha os olhos, pois ainda te encara. É difícil supor que, por meio de artimanhas e maldades, tua temível resolução tenha sido ultrapassar o fruto de minha imaginação. Mesmo seus golpes mais fracos têm efeito. Com cuidado, é possível ensinar àqueles que fingem ignorá-lo que lobos e salteadores não se devoram mutuamente; talvez não seja hábito.
Isidore Ducasse ou Conde de Lautréamont, (1846-1870) nascido em Montevidéu, considerado o grande poeta maldito da segunda metade do século XIX, junto com o seu contemporâneo Arthur Rimbaud.
O espírito de Lautréamont: primeiro estetizar o feio, para melhor exorcizá-lo. É "maldito" com essa concepção, como Augusto dos Anjos: "Leitor, tenha asco do que somos [e do teu próprio asco de si mesmo e de mim] para, quiçá, poder ser outro".
ResponderExcluirNelson Rodrigues alegava ser exatamente o mesmo o seu propósito quando punha em dramaturgia os dilemas da "boa família burguesa de seu tempo", tentando evocar-lhe os demônios, para que o expectador lidasse com eles. E, talvez [esperança do puritano Nelson!] se redimisse, exorcizando-os, e transcendendo-os: pelo fastio, ou pelo nojo.
Boa postagem.
"Do seu tempo" e dele mesmo, como "bom' burguês que era!
Excluirbeijo
Eu gosto desses poetas "malditos". No começo me assusto, depois me acho e eles tem sempre razão. Adoro Nelson Rodrigues, e tenho um amigo que diz que pareço com ele. Nem um pouco, mas Marcelo Novaes tem um poema, "CHAPEUZINHO VERMELHO" que é um hottor, até se compreender. Assim deve ser Isidore Ducasse ou Conde de Lautréamont.
ResponderExcluirBom mesmo é ler coisas diferentes assim.
Beijos, CI!
Mirze
Mirze,
ExcluirEu tenho isso comigo: usar uma linguagem "encantatória" para atrair a atenção para o feio, para o dano, para aquilo que não se olharia normalmente. Isso é frequente em mim.
Cirandeira,
Nelson tinha a pretenssão que a catarse dramatúrgica "expurgasse" as aberrações em família. Talvez a dele não fosse tão mirabolante como seus enredos hiperbólicos, mas certamente ele "sabia do que falava". Por procuração, intuição, sondagem interna, pelas crônicas policiais levadas ao paroxismo, todas essas alternativas juntas e mais algumas outras.
Beijos, amigas.
É verdade, ele "sabia do que falava", e creio que os que conhecem seus textos também o sabem, mesmo que não
Excluiradmitam :) Só que ele "não dava nome aos bois", e etc.,
etc., etc....
:))
Essa troca de comentário realça o texto. Ah, si, atraio-me pelos "malditos" como a mariposa pela luz...rs
ResponderExcluirBeijos,
Taninha querida, pois entre nessa roda, dê-nos essa honra,
Excluira ciranda é enooorrme :)
beijos
\voltei para reler. E também para dizer que meu teclado enlouqueceu, queria dizer horror e saiu hottor, [desculpem-me]. relendo me prendi logo no início: " nu como um verme ". Que linda e lúcida audácia. Se bem que escrevi uma vez sobre morte e vermes, e veio uma bióloga brigar e bater pé, dizendo que os vermes precisam de um tratamento bonito. Não soube como responder.
ExcluirMas o texto ali em cima que também fala de carniça como Augusto dos Anjos, ADORO!
Beijos a todos e boa noite.
Mirze
VIVA!
ResponderExcluirLanço sobre ti;
Diante da tua alma
Nascido de um humano
Junte o seu melhor
Seu mundo é gigante
O teu espírito não é maldito
Se o porco está contigo
O encare e mande-o embora
Feche seus olhos
Viva a imaginação
O hábito de viver
Não morre com a ilusão.
Maurício Guterres Pozzebon
@emchaamas