quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O último poema

Jonathan Callan

Não sei quem me manda a poesia

nem se Quem disso chamaria.

Mas quem quer que seja, quem for

esse Quem (eu mesmo, meu suor?)

seja mulher, paisagem ou o não

de que há que preencher os vãos,

fazer por exemplo, a muleta

que faz andar minha alma esquerda,

ao Quem que se dá a inglóri pena

peço: que meu último poema

mande-o ainda em poema perverso,

de anti-lira, feito em antiverso.


João Cabral de Melo Neto

3 comentários:

  1. O poeta diante do objeto não vê, sente... sente com a alma em pedaços, senti com vontade de mudar, ou outras encantado sente que deve parar e olhar infinitamente o que não tem sentido. sentido que somente ele sente, e mais ninguém pode perceber.
    Você é um poeta!
    Parabéns
    Beth

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