terça-feira, 20 de setembro de 2011

“Eu escrevo para me ouvir em silêncio e para acalmar o que me fere, feriu ou poderá ferir...”






* Entrevista com a escritora Lelena Terra Camargo *



bipedefalante.blogspot.com/



minimoajuste.blogspot.com/




Delírio, efusão, precipitação e desalinho – nem sempre é fácil acompanhar a expressão vertiginosa de Lelena Terra Camargo, que muitas vezes parece revelar um lancinante desamparo através de sua escrita. Seu processo de criação é catártico, conforme revela nessa entrevista, e não raras vezes contagia o leitor, convidando-nos a vencer a distância que nos separa do misterioso mundo do inconsciente.


Seu blog pessoal, Bípede Falante, enche de curiosidade aqueles que chegam sem aviso e vão, pouco a pouco, ambientando-se com o linguajar original e supercriativo com que apresenta seu mundo. Entretanto, longe de desvelar totalmente seu universo insólito, lança novos véus sobre a sua poesia – ou prosa poética, como ela prefere denominar – e instiga-nos a querer conhecer mais dessa alma inquieta e cativante, que indaga sobre os acontecimentos mais triviais como se estivesse estreando sempre um novo mundo.



Além de sua página pessoal, Lelena administra um charmoso e democrático blog, o Mínimo Ajuste, que conta com a participação de vários colaboradores e se destaca pela diversidade de temas e gêneros publicados.



Com vocês, Lelena Terra, a nossa queridíssima Bípede Falante:



RV – Há esperança para nós? Pergunto isso porque seus textos são repletos de melancolia, uma leveza éter e nuvem, de onde vêm essas imagens que são suas marcas textuais? (Ediney Santana)

L – Claro que sim. Esperança é a confiança no improvável. Palavras do Edgar Morin! E o improvável não é o impossível. Nós vamos, querendo ou não, entre céus com nuvens ou sem, contornando o nosso planeta e aprendendo as suas nuances. Uns vão em nuvens fofas rodeados por outras nuvens. Outros vão em meio a raios e trovões, mas todos estão em movimento mesmo que as velocidades sejam distintas e nem todos chovam uma boa água.

RV – Seus textos trazem uma carga reflexiva muito grande, temos espaço neste tempo de “descartabilidade” emocional para esses mergulhos em si e no outro? (Ediney Santana)

L – Ediney, não penso que os tempos sejam de descartabilidade emocional. Muitos casais das décadas passadas não se descartavam, tampouco se amavam de verdade. Passavam a existência juntos por obediência às leis dos homens e as de deus e às das moedas. A tal livre e espontânea vontade era bastante relativa. O espaço para a reflexão não está dentro do tempo, da cronologia. Está na mente de cada um. Na mesma Grécia, existia Atenas e existia Esparta. Não é?

RV – É verdade que os Blogs estão perdendo espaço para o facebook e twitter? (Carlos Eduardo Maia)

L – Não sei se é verdade, mas tenho a sensação que o facebook e o twitter atrapalham o universo dos blogs. Estou usando o meu facebook para promover o meu e os blogs que acompanho. Parece que a resposta está sendo positiva. Nos blogs, podemos nos aprofundar. Assusta-me essa dinâmica de que não se pode mais parar para sentir e aprender de verdade. É fácil confundir a superficialidade dessas outras ferramentas com agilidade e conteúdo e dar-se por satisfeito.

RV – Você tem alguma posição ideológica? (Carlos Eduardo Maia)

L – Depende em que sentido. A pergunta está muito ampla. Não sou nem nunca fui, por exemplo, filiada a um partido político, mas tenho simpatia por algumas ideias verdes e não maduras. Não gosto de me agarrar a uma ideia ou a um ideal conferindo a eles uma condição de verdade inquestionável e menos ainda de me comprometer com uma cobrança formal de conduta e raciocínio imposto por grupos. Acho nocivo ao pensamento fazer parte de um rebanho. Os rebanhos costumam não ter senso crítico e esquecer do valor de quem não está neles ou é diferente. Em suma, prefiro me perder e arcar com a minha lã negra a ter de seguir um pastor e um cajado.

RV – Acredita num mundo melhor é possível? Ou tudo isso é tão impossível? (Carlos Eduardo Maia)

L – Acredito. Tenho confiança no desenvolvimento humano. Sei que ele é lento e desequilibrado. Percebo o quanto ele é vertical. A humanidade não caminha no mesmo passo. Uns mal saíram da idade da pedra e ainda querem devorar os vizinhos, outros estão séculos à frente fazendo milagre de ateus para que todos se sintam em casa no planeta. E não estou a falar em estilo de vida, em conforto, em riquezas materiais. Estou a falar na capacidade de reconhecer e estimar a existência do outro, de conseguir esquecer um pouco do próprio umbigo para cooperar com os dos outros e dar a eles bem-estar, estima e respeito sem que sejam sacrificadas as individualidades.

RV – O filósofo Walter Benjamin, num de seus tratados filosófico-poéticos, fala de uma tal "Rua que acolhe a incoerência da Vida"... Como se estivesse querendo dizer que a “surpresa” e o “imponderável” são partes integrantes e essenciais na construção do homem em seu dia-a-dia...

Compreendo que para Viver é preciso resgatar a Poesia da Vida, esse pêndulo que oscila entre o que é efêmero e o que é eterno... mas, feliz ou infelizmente, vivemos um tempo onde tem se a impressão que a simplicidade foi banida da história humana, da vida humana, do cotidiano das pessoas; um tempo onde a racionalidade, a lógica e o consumo pelo consumo transformaram-se em verdades definitivas; um tempo em que a prosa tomou lugar da poesia; um tempo em que o simples, o espontâneo, a reflexão, o encanto, a solidariedade, o êxtase, a fraternidade, o mistério, a graça, o efêmero, o amor parecem mesmo estar condenados ao esquecimento eterno. Refletindo sobre tudo isso, pergunto:



Como poeta e com sua visão poética: que convite você faria a cada um de nós para trazer, através de suas poesias, a poesia da vida? A poesia que trará de volta o encanto cujo canto poetizará novamente a nossa existência e revolucionará o mundo a partir do trivial e das coisas simples que acontecem no cotidiano? A poesia que realizará a arte nas ruas e o urbanismo lúdico para nós e para o outro? A poesia como forma de compreensão sem que cedamos à facilidade de explicações definitivas para acolhermos a surpresa? (Samuel Moura)

L - Não sei se a poesia da vida tem de ser resgatada. Não sei se é esse o verbo em questão porque não acredito que ela tenha sido perdida. Acho que ela ainda está sendo encontrada. Por mais turbulentos que sejam os tempos modernos, ainda prefiro viver hoje do que em qualquer época do passado. Durante a idade média, por exemplo, não havia o conceito de infância e de privacidade, quanto mais de intimidade. Era comum as crianças de uma família receberem o mesmo nome. A morte de uma não abalava a estrutura do grupo. Não havia o olhar paterno e materno sobre elas. O amor ainda estava sendo implantando. As famílias se relacionavam de modo formal, sem apego, quase sem ternura. O encantamento, a poesia, a literatura, a arte quase não se personificavam. Eu entendo o seu ponto de vista, a sua sensação de desconforto dentro dessa mecânica materialista e descartável da sociedade capitalista, mas não acho que ela seja um fruto da perda da poesia e tampouco penso que a prosa não seja terna e inspiradora. Nem a poesia nem a prosa tem de ser isso ou aquilo. Para mim, elas estão acima dos nossos rótulos. Podem é ser, como escreveu Hemingway no Paris é uma Festa: verdadeiramente boas ou francamente más. A poesia da vida está de mãos dadas com a prosa da vida bem embaixo do nosso nariz desde que a gente nasce. É pegar ou largar!

RV – Lelena, eu, que a conheço pela net apenas, tenho a impressão de que você é um dínamo, em perpétuo movimento. Isso é verdade? Como você usa a sua energia, e como ela transparece na sua literatura? (Janaína Amado)

L – Tenho uma mente inquieta e um corpo normal com tendência a um bom sofá. Faço exercícios para ter saúde, me alimento para ter saúde. Nada em excesso. Não estou sempre saltitando de lá para cá e tenho dificuldade para me desligar e descansar. Sou um tipo de pessoa a quem se pode acionar o off, mas que não tem como se tirar da tomada, e a tomada é a minha cabeça. Estou sempre observando, ouvindo, olhando, faiscando. Escureço, mas não apago a luz. A minha energia é mental. E ela se reabastece por meio da arte e do afeto. E muito por meio da literatura. Ler me aciona a vontade de existir. Escrever me faz existir.

RV – “Retira os sons das letras, retiras as letras das palavras, retira as palavras da boca e da velocidade das mãos, retira as mãos do teclado e do que não é de verdade e não restarão mais que os verbos exaustos, tombados e ditos em vão.” Depois de ler este texto seu, surge-me a pergunta:

O que a escrita representa em sua vida? (Sandrio Cândido)

L – Não posso viver sem ela. Por muito tempo, acreditei que não poderia viver sem ler. Mas a verdade é que sem escrever é que fico sem voz e sem vida. A escrita pontua a minha respiração, faz a minha fotossíntese, organiza-me, perdoa-me, ajuda-me a perdoar, estimula-me, transforma-me.

RV – Como surgiu a idéia e por que o título de Bípede Falante para o blog? (Sandrio Cândido)

L – Contexto da época: eu estava doente ( doença das que matam) e portanto estava em um repouso longo e sem conviver com as pessoas e com a vida que há da porta da rua para fora. Não tinha energia para andar, estava triste e magrinha, muito magrinha. A magreza em pessoa! Então, resolvi abrir um blog e resolvi sem grande entusiasmo. Abrir para escrever um pouco e entrar em contato com a civilização. Pensei em dois nomes: Caniço Pensante e o Bípede Falante. O Caniço por causa dos quilos a menos e da cabeça sempre inquieta e o Bípede por causa das duas pernas, origem da minha doença, presas ao repouso porque a fala teria de me levar aonde elas não podiam. Optei por ele porque eu achei que ele me enquadrava melhor, enquadrar no sentido de me colocar no meu lugar, ou seja, de reconhecer o quanto eu estava limitada e precisava trabalhar a minha humildade.


RV – Lelena, o que mais te "convida" a escrever, o amor ou a dor? (Celso Chorik)

L – Eu gostaria de responder o amor, mas a minha escrita, na maioria das vezes, passa pela dor ou por sentimentos associados a ela, como: a impotência, o desamparo, a decepção, o corte do que poderia ter sido e não será. Escrever, para mim, é uma válvula de escape com poderes criativos e de compreensão em busca de algum tipo de alívio ou de cura, mais ou menos como se faz em uma terapia em que a gente fala e fala e fala até a voz doer. Eu escrevo para me ouvir em silêncio e para acalmar o que me fere, feriu ou poderá ferir, ainda que eu pense que algumas dores sejam eternamente incuráveis.

RV – A Bípede Falante e a Bonequinha de Lixo se encontram na frente do espelho? (Herculano Neto)

L – A Bípede e a Bonequinha de Lixo são inseparáveis. A Bípede é uma criatura que anda sobre as duas pernas da minha leveza, o que nesse mundo de quadrúpedes não é tão pouco, e a Bonequinha é um ser costurado com a minha alma e com o que em mim foi injetado, com todos os conflitos e invasões que sofri, ela é um mix do que em mim segue inteiro e do que está em retalhos. Quando eu abri o meu blog, eu coloquei como frase de apoio "uma bonequinha de lixo". Durante uns três anos, essa frase esteve nele. Talvez, volte. Não sei. Sei que essas duas criaturas são muito puras e estão perto do que eu imagino ser a minha essência. Eu, às vezes, vejo a humanidade como um grande caldeirão de lixo. Um aglomerado perecível e confuso entre vaidades e competições. O que nos torna interessantes e valiosos ou não é se o lixo de cada um é reciclável e útil ou se é apenas mais um peso morto a intoxicar a natureza humana. Então, as minhas duas criaturas não se encontram em frente ao espelho porque elas convivem na minha substância mais profunda e me provocam de dentro para fora.

RV – Há uma sequência de fotografias no teu blogue com as seguintes legendas: “é outono”, “é primavera” e “é verão”. A evidente ausência é quase incômoda. Se falta realmente uma estação, qual inverno você oculta no teu álbum de retratos? (Herculano Neto)

L – Pois eu não tinha percebido a ausência do inverno. Poderia, em um primeiro impulso, dizer que foi um esquecimento, mas deve haver algo por detrás, sim. Talvez, essa ausência seja porque eu me encolha, quase hiberne, quando sinto que o frio está por perto e porque eu sofra de uma melancolia sazonal . Talvez, seja porque neste inverno, em específico, passei por uma transformação ou a finalizei e ainda não sei bem que rosto está aqui nos meus olhos. E talvez seja porque o inverno tenha sido o meu começo, o meu mau começo. Nasci em julho e em uma cidade de dar inveja a uma máquina de fazer gelo, mesmo em uma Brastemp, e fui morar em uma casa artificialmente aquecida.


 RV - O que seria perfeito apenas com um mínimo ajuste? (Herculano Neto)

L – Com um mínimo ajuste acho que ficaria perfeita a liberdade de expressão. É essa a idéia do blog: que todos tenham opinião, visão de mundo e sejam quem quiserem ser sem que se percam o respeito e a simpatia pelos demais.

RV – Qual a importância das pessoas para seus poemas? (Dade Amorim)

L – Eu não me vejo como uma fazedora de poemas. Tudo o que eu escrevo, eu escrevo como se prosa fosse. Raramente consigo a proeza de quebrar as linhas. Se tento descer uma palavra, caem as minhas idéias. Não sei se é inibição ou se é excesso de respeito, porque tenho enorme respeito e admiração pelos poetas, criaturas raras. Então, o que posso dizer, em um sentido amplo, é que as pessoas são o foco absoluto da minha energia, a matéria da minha curiosidade, do meu afeto e do sentido que dou a minha vida.

RV – Você acredita em poesia que se ligue em coisas, paisagens, a aparência das coisas? Isso mexe com você? (Dade Amorim)

L – O que mais me toca em qualquer texto é a presença dos conflitos humanos. E penso que eles podem estar, sim, escondidos e disfarçados em qualquer objeto, coisa, lugar. "No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do meu caminho", não tinha, não há? Então, com quantas pedras pode se afundar um ser ou apedrejar uma nuvem? Com quantas folhas de papel posso enciumar ou desprezar a minha caneta? A poesia não conhece fronteiras.

RV – Você costuma trabalhar muito seus poemas, ou eles costumam aparecer já quase prontos? (Dade Amorim)

L – Escrevo à moda Chico Xavier, psicografando de tão rápido! Meu processo é catártico. Vou despejando, não raro, vomitando as palavras. Deixo as linhas andarem. Depois, dependendo do objetivo, começo ou não um garimpo. Nos posts para os blogs, quase não mexo. Grande parte é escrito na janela de postagem. Em contos e no livro em que estou trabalhando, faço longa e cansativa revisão. Imprimo, risco e leio e voz alta centenas de vezes. Faço isso até ficar enjoada. Aí, deixo, por um tempo, o texto em questão em silêncio e, quando nos reencontramos, sempre me torno mais lúcida.

RV – Você concorda que a literatura é a melhor maneira de se espiar o cérebro dos homens, que é mais eficaz que a ciência e a medicina? (Djabal Maat)

L – Eu uso a literatura para espiar primeiro o meu cérebro e depois os outros. Estabeleço com ela um diálogo imediato e uma relação de confiança absoluta e a uso em causa própria, de certa forma, como um espelho. Vou aos livros vasculhar os meus eus e os seus avessos. É o território em que se diluem os meus tabus, os meus medos, todos os preconceitos, e que surgem as perguntas e as respostas capazes de me transformar. Se ela é mais eficiente que a medicina e a ciência, eu não sei dizer. Sei que é mais íntima, mais inventiva e mais abrangente.

RV – Um dos aspectos que mais me prendem em tua escrita é a maneira como te expressas. Por que escreves exatamente dessa maneira? Tens alguma preocupação em influenciar os teus leitores? Se tens, em que sentido tentas influenciá-los? (Cirandeira)

 L - Não sei. Não sei por que sou como sou. Sei que me trabalho para ser. Não me considero pronta nunca. Estou sempre lapidando o meu melhor e tentando refazer e me desfazer do que me é mais medíocre. Então, não sei por que escrevo como escrevo. Escrevo como sinto, com a intensidade que sinto. Não me preocupo com os leitores. Não se trata de descaso. Trata-se de ter uma escrita pulsional, sentimental. Há quem me compreenda. Tem quem me ache perdida. No final da década de 90, fiz a oficina de contos literários do escritor Assis Brasil na PUC aqui de Porto Alegre. O curso é de um ano, e o objetivo é trabalhar a escrita de contos. Portanto, os alunos têm de passar por diversas técnicas de narrativa até estarem prontos para dizer chega. Aí cada um passa a escrever do seu jeito. O meu surgiu lá.
RV – Quando estás escrevendo, costumas deixar o texto fluir livremente de tua inspiração, ou apagas e corrige o tempo todo? (Cirandeira)

L – Deixo fluir. Deixo as palavras livres. Raramente apago enquanto estou escrevendo. Há situações em que assim que vejo uma preto no branco imediatamente outra a atropela, aí, faço uma alteração. Mas é raro. A revisão vem depois que dei o texto por encerrado e, dependendo do que for, pode ser uma revisão exaustiva, de dias, semanas, meses!

RV – Entre os inúmeros escritores que já leste existe algum que te influenciou? Por acaso, existe algum que não suportas de jeito algum? (Cirandeira)

L – Raduan Nassar! Tenho os três livros dele. Li várias vezes cada um. Do Lavoura Arcaica, não me separo. E o que me atinge profundamente em cada um não é a história, é a coragem com que as personagens fazem uma travessia dentro de si.

RV – A maioria dos textos que você posta no blog é prosa poética. Às vezes tenho vontade de recortá-los em versos, versos que, é claro, ali já estão, à espera da "tesoura auditiva" dos leitores mais atrevidos. Você se considera poeta? (Tuca)

L – Tuca, pegue seus ouvidos de tesoura e corte-me em quantos pedaços desejar! Eu não me considero poeta. Considero-me uma falante sensível e inspirada. Uma criatura de fala literária e, por tabela, de escrita. Faço análise há mais de dez anos, e Freud nem tudo me explica mas amplia a minha autoleitura e o meu vocabulário! E faço assim desse jeito, explorando as palavras, acarinhando.

RV – O que mais me chama a atenção em seus textos é o fluxo vertiginoso, o encadeamento surpreendente das imagens, como se o inconsciente tomasse as rédeas da escrita, subvertendo qualquer ordem e medida pré-estabelecidas. É isso, você costuma recorrer à escrita automática? (Wilden Barreiro)

L - Esse é mais ou menos o meu processo. Você, em sua pergunta, quase o descreveu. Minha escrita é a organização do meu inconsciente e do meu consciente dentro de um território livre, mas ela não é exatamente uma escrita automática porque ela surge depois de um bom tempo de maturação. Ela vem como uma hemorragia, as palavras surgem em um encadeamento veloz, mas o núcleo, a emoção do que está a ser traduzido, foi anteriormente investigado e compreendido por mim. Então, deixo que ela venha voraz, porém, sei com toda a clareza sobre o que eu estou escrevendo. Não estou falando que exista um roteiro. O que existe é a vontade clara e inadiável de falar sobre algo em específico.

RV – Lelena, depois que você escreve seus textos, em algum momento você já teve o desejo de analisar a sua escrita? Seus textos (que muitas vezes parecem jorrar do inconsciente) já revelou algo de Lelena desconhecido para ela própria? (Tânia Contreiras)

L – Reviso a minha escrita conforme o objetivo, mas não tenho a intenção de analisá-la do ponto de vista subjetivo, de decifrar a história oculta que ela guarda. E não tenho porque, em parte, ela, ainda que possa parecer um pouco enigmática para quem a lê, já é o resultado da minha prévia análise. Eu faço análise freudiana há mais de dez anos. Imagino-me na reta final (pura imaginação porque a minha analista não me disse nada a esse respeito) porque me sinto quase sem segredos para mim mesma e bastante capaz de agir e de me enfrentar. Durante toda essa última década, me mapeei. Fui me cartografando, medindo os meus eixos, percorrendo o meu planeta coberto de céu. Com a análise troquei o céu azul e o noturno pela flexibilidade e pelo movimento das nuvens. Nuvens que podem ser só um tantinho de água evaporada em um dia solar como também granizo dentro da fúria de uma tempestade. Mas prefiro as primeiras!

RV – A tua escrita tem uma marca indelével e registra pormenores inusitados do cotidiano, como é essa relação da Lelena com a palavra. Quais os ingredientes para essa porção mágica? (Assis Freitas)

L – Sou péssima com receitas. Já preparei um belíssimo jantar colocando açúcar em todos os pratos. O que eu percebo é que a minha escrita está ligada à curiosidade, à sensibilidade e à capacidade de observar. Sou superatenta. Atenta de verdade. E eu gosto das palavras. Gosto das grafias, dos sons, dos significados. Gosto de ver o movimento que elas carregam, da agilidade. Há tanta entrega nelas. Gosto muitíssimo de verbos. Adoro os que começam com a letra D: desancorar, desarmar, destinar, despir. Por quê? Não faço ideia! Percebi essa estima lendo os livros do Mia Couto. Há um bocado de Ds por lá.

RV – Quais as habitantes que povoam o universo feminino da literatura sobre a qual a Lelena se debruça? (Assis Freitas)

L - É estranho, mas não sou muito ligada às habitantes do universo literário feminino. Nem nas autoras nem nas personagens. As minhas personagens marcantes, em geral, são masculinas. O velho Karamazov e os seus três Karamazovizinhos. O André do Lavoura Arcaica. O Bandini do Espere à Primavera. Não tenho uma mulher impactante. Há um pouco da Big Loira, da Dorothy Parker, um tantinho bem pequeno (já foi maior) da Lolita, do Nabokov, uma certa Macabéia. Não sei. E quanto às escritoras também acabo de perceber que as leio pouco. Passando os olhos pelas estantes, tenho: Doris Lessing, Paulina Chiziane, Clarice Lispector, Rosa Montero. A minha resposta é uma conclusão: preciso, urgentemente, reformar a minha sacada de saias. Pois mal consigo debruçar-me sobre ela!

RV – Caetano tem uma canção que fala sobre a dor e a delícia de ser uma mulher. E a mulher que também escreve? (Assis Freitas)

L – Sinceramente, acho um desafio ser mulher. De certa forma é ser como um eterno útero. A gente tem de estar o tempo todo pronta para acalentar o mundo, para alimentar o mundo. O mundo dos filhos, o dos homens, o das famílias. O mundo interno e o material e o dos outros. E temos de fazer isso como se nada fizéssemos, com sutileza, com ternura e com dor, como quando os nossos corpos se expandem e abrem as costelas até os limites da carne para gerar uma criança. Deve ser por isso que eu escrevo, para arar a minha terra e me manter humana e fértil.

RV – Eu não poderia deixar de te perguntar sobre as nuvens. Tu te encantas mais com nimbos, cirros, estratos ou cúmulos? (Assis Freitas)

L – Cúmulos! Tufos brancos acessíveis aos olhos à primeira vista. Nuvens de bom temperamento soltas no céu.

RV – Lelena, como você, sou graduada em jornalismo, mas comecei a flertar com a poesia ainda menina, e o fato de lidar com a linguagem objetiva do jornalismo atrapalhou muito a fluidez da minha escrita mais literária, mais poética. A Lelena jornalista e a Lelena escritora, poeta, já tiveram alguma rusga? Uma atrapalha a outra ou cada uma tem o seu espaço? (Tânia Contreiras)

L – Se tivemos! Uma vez, um editor disse-me, sem rodeios, já eliminando frases de uma matéria, que eu deveria escrever ficção. Eu tinha me esmerado, dado todo o meu gás. A pauta era sobre o desenvolvimento infantil, sobre as nuances da infância, então, imaginei, pensei: vou amaciar um pouco, tornar tudo mais divertido e interessante. O corte foi fundo. Não sobrou palavra sobre palavra do meu excesso. Quando vi, o meu trabalho estava despersonalizado, servindo mesmo para embrulhar o peixe de amanhã. Talvez, esse tenha sido um momento definitivo. Umas duas semanas depois, eu estava dentro de um avião, olhando nuvens pela janela, e a minha cabeça começou a escrever e a escrever, e um conto foi se formatando e o meu desejo crescendo, saindo fora de controle e, ali, eu comecei a me entender, a perceber a minha necessidade literária e a perder o espírito de repórter. Não consigo escrever tendo que ter mente as seis perguntas de um lead. Ter de escrever pensando em o que, quem, quando, onde, como e por que não consigo mais.

RV – Lelena como foi seu primeiro contato com a poesia? (Luisa Maciel)

L – Minha mãe era professora e pintora, e o meu pai era um doido varrido por livros. Portanto, na minha casa, havia uma biblioteca colorida, repleta de títulos. Mas quase não havia poesia. Nenhum dos dois apreciava. O meu encontro com ela, encontro significativo, foi quando eu estava na oitava série e uma professora pediu que cada aluno escolhesse uma e a reescrevesse conforme o seu interesse. Escolhi E agora, José?, do Drummond, e a reescrevi conversando com o Monteiro Lobato, que foi o escritor da minha vida de menina. E escrevi perguntando a ele o que eu faria agora que estava crescida. Como se eu estivesse. Achava-me! A gente acha cada tolice quando ainda não cresceu.

RV – De onde vem essa paixão por nuvens? (Luisa Maciel)

L – As minhas nuvens. De onde vêm as minhas nuvens? Elas surgiram tão devagar, aproximaram-se com tanta cautela que eu não percebi a chegada. Quando vi, estava a olhar para o céu, a fechar um pouco os olhos para vê-las melhor como faço com quadros e com o que acho bonito. Foram chegando comigo estirada na grama do sítio, comigo viajando, comigo na praia, nas ruas, em qualquer lugar. E chegaram de mala e cuia! Agora, é raro o dia em que não fotografe uma.

RV – Conte-nos um pouco da história da Lelena escritora e de seu relacionamento com a escrita. (Luisa Maciel)

L – Lelena escritora? Um primeiro contato: sexta-série. Professora Vera. Sempre de faca na bota de tão zangada. Uma vez por semana, uma composição sobre qualquer assunto. As minhas: o dia em que um elefante desviou de seu caminho para não ferir uma formiga; a viagem da girafa branca da paz etc. Nada de escrever sobre as férias, sobre a família, o desfile de sete de setembro. Tudo isso tendo como pano de fundo os livros do Monteiro Lobato. Depois, anos e anos sem escrever ficção. O porquê não lembro. Talvez, eu tenha sido duramente censurada. Apenas a leitura no bolso me acompanhando. O curso de jornalismo, um ano no de letras, dois no de direito (haja criatura confusa) até chegar à Oficina de Criação Literária do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil e aos grupos de revisão da Léa Mazina, crítica literária. Caminho sem retorno. Nunca mais consegui viver sem escrever. Pode ser uma linha. Uma palavra, mas tiram-me a mão como aconteceu agora nessas três últimas semanas e me sinto sem voz, incomunicável, infeliz.

RV – Seu blog é um dos mais criativos da “blogosfera” e você não se atém muito a fórmulas previsíveis. A Lelena gosta de desordem ou de mistura? (Rossana Mazza Msieiro).

L – Para ilustrar o meu estilo, o que tenho de mais perfeito é a minha escrivaninha. Ela tem nove gavetas. Quatro em cada lateral e uma no meio. Dessas nove gavetas, posso descrever o que há em oito. Entretanto, há uma em que habitam cobras e lagartos. O caos é total. E ele está ali de propósito. Faço questão de mantê-la fora da ordem para que eu me lembre, mas lembre mesmo, que nem tudo depende de mim, que imprevistos acontecem e que estar no controle seja do que for é algo relativo quando não é impossível. Quanto à mistura, adoro. Aqui em cima da minha escrivaninha tem, por exemplo, um prato de prata coberto de pedras que eu roubo das terras do mundo, duas girafas convivendo com uma boneca tailandesa, livros de desenho, livros sobre a Audrey Hepburn, todos os meus livros do Raduan, dois porta-canetas, as minhas pernas de bípede ilustradas pelo Tuca em um porta-retratos etc.

RV – Sua poesia é por vezes melancólica e densa, entretanto o bom humor é uma marca registrada dos seus textos que por vezes beira o “escracho”. Na vida, você é uma pessoa engraçada? (Rossana Mazza Masieiro).

L – Sou engraçada, sim. Mas tenho os meus humores e tenho também os meus companheiros de riso, porque há pessoas receptivas ao bom humor e há aquelas com quem é impossível brincar. Demorei um pouquinho para pegar a malícia. Com quem é sempre possível rir é com as crianças. Uma que outra é mais emburradinha, mas mesmo com essas dá para abrir o bocão e gargalhar. É só sentar no chão e ter um pouquinho de boa vontade que a alegria vem.

RV – Como você consegue manter o blog, cuidar da família bípede, desenhar e ainda dar conta de ler todos os livros daquela enorme lista? (Rossana Mazza Masieiro).

L – Como eu consigo levar a minha vida? Um tanto de organização, bastante insônia, algumas prioridades quase grudadas na porta da geladeira, pouquíssima televisão e bastante vontade, grande força de vontade, que, segundo a minha analista, tenho enorme vocação para ir fundo em tudo o que faço.

RV – Você está escrevendo um livro? Sobre o que é? Como você define seu trabalho literário? (Lisarda Baila Cumbia)

L – Estou. Tenho um engavetado há anos que se chama Lá em Casa. Ele gira em torno de um funeral. Como ele está em stand by, outra hora falo sobre ele. O que eu estou escrevendo agora e que está chegando na reta final é sobre um relacionamento a partir da Internet. Não tem ainda título. O narrador é em primeira pessoa. É uma mulher apaixonada, quem sabe, obsessiva, por um homem casado. E mais é melhor não dizer que posso começar a mentir sem querer. Na minha edição do Cem Anos de Solidão, há uma introdução em que o Eric Nepomuceno fala que era quase inútil perguntar ao Garcia Marques sobre o que ele estava escrevendo porque o que ele contava sobre os livros dele nunca correspondia com o que estava neles.

RV – O pseudônimo Bípede tem boa fortuna na sua escrita; lemos "bipedice" "a bípede criatura" "o senhor bípede" ou "um bípede livro". Minha pergunta é: você publicaria um livro como Lelena Camargo ou como Bípede Falante? (Lisarda Baila Cumbia)

L – Não sei ainda com que nome publicar os meus escritos. Bípede Falante está fora de questão. Escolhi Lelena Terra para os desenhos. Talvez, use também para eles. Não sei. Aceito sugestões. O pessoal aqui me conhece por Marta Camargo quando se trata de escrita. Mas eu não tenho medo de mudar.

RV – O uso do seu heterônimo – não gosto de pensar no termo "pseudônimo" pela conotação de falsidade – permete a você um estranho jogo em que pode ser autobiográfica escrevendo em terceira pessoa; a pergunta é: como você chegou a isso: pelo caminho de teatro, da brincadeira, da psicanálise...? (Lisarda Baila Cumbia)

L – Pela psicanálise e pela brincadeira. Escrever-me na terceira pessoa, além de ser divertido, dá-me a distância e humildade necessária para me perceber melhor. É um processo meio esquisito, mas funciona. É como uma conversa entre Lelenas, em que cada uma pode falar em um ouvido até chegarem a um comum acordo.

RV – Uma blogueira argentina, Silvia Zappia/Rayuela, uma vez, admirativamente, chamou-lhe "Musa!". Concordo com ela e daí pergunto: você imaginou, ao dar início à sua aventura blogueira, da extensa e afetiva recepção da sua escrita? E, além disso, o êxito de uma convocatória como a do Mínimo Ajuste? (Lisarda Baila Cumbia)

L – Nunca imaginei que efeito poderia ter a minha escrita. Montei o blog para facilitar a minha recuperação quando eu estava doente, como válvula de escape da minha solidão forçada, do isolamento em que eu estava. Os leitores foram surgindo ao pouco. Eu apareci aos poucos. Durante um bom tempo estive escondida atrás da Bípede. E aos poucos comecei a conversar via blog. Quanto ao Mínimo, nem sei dizer. Devem ter aceito porque são todos doidos, doidos, doidos de adorar!

RV - Algo te faz perder a linha? (Cris de Souza)

L – Injustiça e prepotência. Quer ver-me ver zangada, fure uma fila em que estou ou humilhe alguém em desvantagem. Compro a briga!

RV – O que deixaria a bípede falante sem palavras? (Cris de Souza)

L - Sem palavras em que sentido? Estou tentando me lembrar de algum episódio em que elas tenham me faltado. Está difícil! Acho que sempre fui falante. Um dos meus apelidos de menina era catorrita. Lembrei agora de que quando vi a queda das torres gêmeas não consegui dizer um oh. Eu tinha acabado de dar mamadeira para o pequeno bípede, e o senhor bípede ligou, agitado, dizendo: ligue a TV. Passei a manhã inteira vendo o desenrolar da tragédia praticamente muda. A violência em massa me tira a fala.

RV – O bom humor é uma arma branca? (Cris de Souza)

L – O bom humor é um desintegrador de armas. Ele é uma bandeira branca de paz. Ele é como um grande campo de força, como um vírus capaz de bloquear o inimigo, refazer o inimigo e até de conquistá-lo.

RV – Lelena, tive uma agradável surpresa com seus desenhos, e até por questão de afinidade gostaria de perguntar sobre eles. Eles não parecem episódicos. Você desenha há muito tempo? Teve algum tipo de estudo nessa área? Fale um pouco sobre esse seu lado. Por que corpos envolvidos por estruturas quase abstratas? (Marcantonio Costa)

L – Não desenhava desde que deixei de ser uma bípede pivete. Minha mãe era pintora e adorava desenhar figuras humanas. Todas as noções que tenho sobre proporção, expressão, perspectiva, movimento, harmonia, composição etc. aprendi com ela. Sou autoditada. Como dizia o Quintana: ignorante por conta própria. O que eu imagino que aconteceu comigo agora (não tenho bem certeza do porquê de eu estar desenhando) foi que ganhei um sketch book de um amigo no ano passado, um dentista que está a pintar, e que só abri para escrever no início deste ano. Mas como senti o papel tão macio, comecei uns rabiscos. Mostrei a ele e ganhei, então, um bloco de Canson, alguns lápis, borrachas e um apontador. Ou seja, fui colocada na obrigação. Comprei alguns livros de como desenhar a anatomia. Daí para cá, tornou-se tudo tão prazeroso. Adoro desenhar. Ah, e o porquê dos corpos entre estruturas! Não sei. É possível que as estruturas representem o meu lado Pedro Pedreiro, a minha mão-de-obra interna e a minha construção interna em meio às agressões e os tormentos que vêm de fora.

RV – De modo geral, desde que passei a acompanhar o seu blog, percebo que você costuma postar dois tipos de texto: aqueles que a gente poderia chamar de prosa poética incidental, verdadeiros poemas horizontais; e aqueles que parecem descrever situações pessoais, narradas numa escrita inventiva e livre, quase automática, e nos quais aparece a personagem A Criatura (creio que você mesma descrita na terceira pessoa). Essa diferença é consciente e intencional? Qual a motivação desses textos da Criatura? Você os escreve mesmo de um fôlego só? Essa opção pela terceira pessoa é uma forma de relativizar a experiência pessoal, de, digamos, torná-la menos confessional e mais literária? (Marcantonio Costa)

L – A diferença é consciente e intencional, sim, e eu os escrevo de uma vez só. As bipedices escrevo livre de qualquer recurso, lixando-me para a gramática, para a língua portuguesa, para o que for. Escrevo sem sofrimento. Na maior parte das vezes para debochar de mim e rir depois com o Terráqueo, meu irmão, que é o campeão de saber sobre o que eu estou falando. Elas são uma espécie de exercício de sublimação das situações patéticas em que me envolvo. Já os outros posts, a minha tal prosa poética, vem do meu lado melancólico, dolorido, marcado, vem da minha bonequinha de lixo, dos meus pedaços que tive de emendar. Porque eu sou também uma bonequinha de lixo e isso, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não me diminui ou me faz sentir inferior. Apenas me situa com mais clareza dentro da minha história, me mostra com mais clareza a condição de fragilidade e vulnerabilidade que também estão no meu pacote de existir.

RV – Qual a sua ambição em relação à escrita e que função ela desempenha na sua vida? Pensa em escrever ficção? Há experiências já feitas nessa área? (Marcantonio Costa)

L - Eu pretendo escrever até que a morte me separe das palavras. Pretendo editar alguns livros. A escrita tomou posse de todas as minhas versões. Todas escrevem. E eu não consigo nem me imaginar sem um lápis ou um teclado por perto. A minha experiência vem da minha formação, do curso de escritores da Oficina de Criação Literária, do Assis Brasil e das revisões com a Léa Mazina. Aprendi muito com ambos. Aprendi a ler melhor, a escrever melhor e a ser uma pessoa mais generosa.

RV – O Rio Grande do Sul tem uma tradição de bons escritores. A que você atribui isso? Ao chimarrão? (Roberto Lima)

L – Deve ser por causa da mala cheia de livros e da cuia cheia de ideias e ervas. Ervas das boas! Falando sério, não penso que a gente tenha nada em especial. Essa tradição não passa de um mito. Temos, tivemos, escritores incríveis como o Érico Veríssimo, que penso ter sido, mas um sido disparado na frente, o nosso melhor escritor. De resto, somos todos iguais nesse Brasil sem fim.

RV – Lelena, qual a pergunta que a Bípede Falante faria a Lelena, se elas se encontrassem frente a frente e separadamente e qual seria a resposta dada? (Tânia Contreiras)

L – Lelena, por que você tropeça tanto nas próprias pernas? Você tem os pés tortos ou é uma inclinação para a esquerda quem me cutuca? Bípede, estou tão cansada. Pergunta para a Bonequinha que hoje sou eu quem está um lixo!

Participaram desta entrevista:

Assis Freitas, Carlos Eduardo Maia, Celso Chorik, Cirandeira, Cris de Souza, Dade Amorim, Djabal Maat, Ediney Santana, Herculano Neto, Janaína Amado, Lisarda Baila Cumbia, Luisa Maciel, Marcantonio Costa, Roberto Lima, Rossana Mazza Masieiro, Samuel Moura, Sandrio Cândido, Tânia Contreiras, Tuca e Wilden Barreiro.

28 comentários:

  1. Lelena, AMEI te conhecer mais um poquinho, muito bacana tuas respostas! Tuca, show, como sempre, sua arte... Meninos e meninas, grata pela participação de todos.
    Beijos,

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  2. Tania, eu adorei o meu quadro agora também Tuca e estou super comovida com o seu gesto e boa vontade em organizar uma entrevista longa como essa. Eu agora vou me ler para ver se eu concordo comigo rs rs :) beijos e obrigada!

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  3. Eu apenas posso dizer que a sua profundidade como ser humano assusta e... fascina.
    Beijo

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  4. Pode concordar, bípede. Acabo de ler aqui novamente (já o tinha feito no outro). É pura lucidez... você pensa longe, é preciso inventar mais nuvens.
    Abr.,
    José Carlos

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  5. Lelena, adorei a tua entrevista. Para mim foi a confirmação da configuração da pessoa que eu já imaginava seres. E concordo com GED quando ele fala da tua profundidade como ser humano!

    Um beijo grande,
    estava com tanta saudade! :)

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  6. Lelena, foi uma delícia te ler e aprender contigo tanta coisa boa. Você é singular e tem brilho. A arte de Tuca ficou ma-ra-vi-lho-sa, colocando tua arte junto. Como ando mesmo atrapalhada, esqueci de colocar a abertura lá no Roxo...rs...mas vou colocar. Beijão.

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  7. Mais que uma entrevista isso foi uma "sabatina" e vc tirou nota 10 com louvor!!! Poxa, isso é coisa de velha... rsrsr. Mas fiquei encantada com sua lucidez, com o turbilhão de sentimentos que se pressente em vc, com essa sensibilidade em carne viva. Vc tem luz própria e não permita que nada a ofusque. Beijokas e minha admiração.

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  8. que bom fazer parte desta conversa contigo, lelena.
    brindemos a palavra que nos aproxima e
    brindemos, tambem, tania contreras, que na sua infinita generosidade aproxima os iguais, propiciando o diálogo e o milagre do encontro.


    evoé!
    abração do

    roberto.

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  9. Lelena, essa entrevista te retrata tão bem. Verdadeira, sensível, atenta ao outro, culta, inteligente, refinada, e principalmente afetiva. Bjs.

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  10. Parabéns para as 'gurias', Bípede e Tânia Contreiras, por esse ping pong de maravilhosas bipedices. Se a nossa amiga tivesse escolhido o título "caniços pensantes" não estariamos aqui e agora falando e comentando sobre as bipedices, mas sobre "canicices" -- o que seria um tanto inusitado e esquisito.

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  11. Maia, obrigada pela participação. Canicices seria mesmo esquisito. Não que bipedice não seja :) Mas a palavra soa mais ambígua.
    beijo

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  12. Terráqueo, obrigada querido irmão. Eu ADORO você :)
    beijo

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  13. Roberto, tim tim!!! :)
    O senhor perdeu o trem mas não perdeu a viagem e me fez pegar até a mala e a cuia!
    beijo

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  14. Lua, nossa, quantas palavras carinhosas :) Super obrigada! Você também é assim, mais que isso, você é enluarada :)
    beijoss

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  15. Tania, você que é incrível organizando essas entrevistas. Adorei participar :) Obrigada de verdade. E a arte do Tuca ficou mesmo fabulosa. Eu me sinto a Monalisa no quadro! :)
    beijoss

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  16. Querida Ci da minha vida, obrigada :) Você também é uma pessoa muito especial para mim, uma pessoa muito rara e admirável! Muito!!!
    beijoss

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  17. José Carlos, para as nuvens nem o céu é o limite :)
    Obrigada pelo comentário.
    beijo

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  18. GED, obrigada pelo assusta e fascina. Juntos, eles ficam adoravelmente esquisitos :)
    beijo

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  19. Lelena, querida, me emocionei ao ler tua entrevista, é a Lelena que eu conheci, e reconheço no texto, profundo, introspectivo, inteligente e lindo. Amei revê-la!!! Um bj enorme. Lana

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  20. Tão bom, tão bom, que se fosse "mais bom" não ia prestar!
    Bípede nota 1000!!!

    bj
    Rossana

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  21. Admirável tua entrevista - os perguntadores também me ensinaram. Bjos.

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  22. Li de um fôlego só, saboreando perguntas e respostas, adorei. Parabéns à organizadora, aos perguntadores e à entrevistada que, como sempre, mostrou sua inteligência refinada, originalidade e habilidade incomum com as palavras. Bjs :)

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  23. Lucia, que boa vontade ler assim de uma vez só. A entrevista está qualquer coisa gigantesca. Quando fui respondendo, fui avisando a Tania que ela estava saindo fora de linha, de pauta, de controle, mas não houve jeito. Não consegui escrever menos :) Fico feliz que você goste. Você é muito especial para mim. beijoss

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  24. Quitéria, obrigada :) O pessoal é muito inteligente e sensível. Todos têm blogs incríveis.
    Beijoss

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  25. Rossana, adorei o seu comentário :) Estou rindo com o seu se fosse melhor não iria prestar!
    beijoss

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  26. Lana, querida amiga de tantos anos, você não imagina como tenho boas lembranças das nossas peripécias vacarianas. Sinto muito a sua falta!
    beijossss :)

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  27. Lelena, ADOREI a entrevista. Você é mesmo uma artista e uma pessoa sensível, especial. Sigo te admirando. Bjs

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  28. querida Lelena, ADOREI! Imensamente!
    a confirmação de tanto do que muitas das suas palavras deixam adivinhar; o reiterar do que alguns dos seus gestos significam...
    inquieta, bondosa e brilhante! obrigada.
    beijo

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