quinta-feira, 3 de novembro de 2011

POBRE DO RIO GRANDE II

Eu peço licença ao José Antonio Pinheiro Machado para usar o título de uma magistral crônica sua, publicada em Zero Hora de 23 de outubro. Nosso querido Anonymus Gourmet, como é conhecida esta figura única de nosso meio, referia-se às mancadas de nossos dirigentes políticos em relação às providências visando à realização da Copa das Confederações, infelizmente para sempre perdida, e já sinalizava uma advertência às ações em curso relativas à preparação para a Copa do Mundo. Explicou tintim por tirintintim a gênese de nossa arrogância, sempre baseada naquelas façanhas que deveriam servir modelo a toda a terra. Esta foi a minha leitura. E agora eu tomo emprestado o título da crônica do Pinheiro Machado para comentar a vinda de Ronaldinho para jogar contra o Grêmio ( meu time ), que resultou na acachapante e merecida derrota do Flamengo. Isso no que concerne ao esporte em si. Mas lemos por aqui tantas crônicas esportivas referindo uma revanche pessoal contra aquele jogador, que só fazem reverberar este espírito incorrigível do gaúcho, baseado, sobretudo, numa memória revanchista. Mais do que o resultado do jogo a favor do Grêmio, prevalecia o desejo de uma vingança moral, ainda que tardia, contra o jogador ingrato, cria tricolor que escolheu jogar no Flamengo e não no Grêmio, isso há mais ou menos um ano. Como se ele não poderia ter exercido o direito de optar pelo time em que deveria jogar após ter sido consagrado um dos maiores atletas do mundo. Escolheu o Flamengo, para não se dizer aqui que escolheu o Rio de Janeiro. Sabemos muito bem quantos cientistas, artistas, atores e escritores deixam o Brasil para prestar seus serviços no exterior, onde são mais bem acolhidos e mais bem pagos; ou quantos atletas de todas as modalidades vão para a Europa em busca de fama e da própria realização. Ora, por que razões haveria Ronaldinho de ficar aqui no Rio Grande quando alhures tinha uma oferta que mais lhe convinha ? Bem, é verdade, diz-se, que toda esta celeuma deve-se em parte ao fato de que o craque blefou enquanto andava em tratativas com os dois times sem decidir-se por nenhum. Mas, que eu lembre, ele não tinha empenhado palavra nem aqui nem acolá, e buscava uma posição que lhe fosse mais conveniente. E que jogue a primeira pedra aquele que, frente a uma decisão transcendental da qual depende seu futuro, não haja no seu próprio interesse. Enquanto ficamos aqui lambendo as chagas de feridas antigas, alienados de ações concretas, relevantes e urgentes, esquecemos que vai correndo o tempo que nos levará (?) à Copa do Mundo, em 2014, ou seja, o amanhã logo ali. Estamos preparados para receber estrangeiros com quem teremos de nos comunicar em outras línguas ? Nossos serviços serão condizentes com a demanda do importante evento ? Pergunto porque, além de devermos assegurar boas instalações em todas as áreas, teremos que nos ajustar a muitas circunstâncias, a começar pelos preços hoje em dia globalizados, que lá fora estão bem mais em conta do que os daqui, e não é porque o dólar está em baixa cotação ainda, ou porque o euro vive numa zona de risco, mas porque os nossos preços são mais caros na base de cálculo, isso sem falar na pobre qualidade de nossos serviços em geral, indiscutivelmente discutíveis. Basta viajar um pouco para se ter uma vaga certeza disso.

Um comentário:

  1. Infelizmente, não estamos e você está coberto de razão. Vai ser um fiasco :(
    beijoss

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