Tenho aprendido com o tempo que a mediocridade é um pântano habitado por medos famintos, ávidos por devorar o brilho dos olhos e a singularidade da alma. Que grande parte daquilo em que juramos acreditar pode ser somente crença alheia que a gente não passou a limpo. Que pode haver algum conforto no acordo tácito da hipocrisia, mas ele não faz a vida cantar. Que se não tivermos um olhar atento e generoso para os nossos sentimentos, podemos passar uma jornada inteira sem entrar em contato com o que realmente nos importa. Que aquilo que, de fato, nos importa, pode não importar a mais ninguém e isso não tem importância alguma. Que enquanto não nos conhecermos pelo menos um pouquinho, rabiscaremos cadernos e cadernos sem escrever coisa alguma que tenha significado para nós.
Tenho aprendido com o tempo que quando julgamos falamos mais de nós do que do outro. Que a maledicência acontece quando o coração está com mau hálito. Que o respeito é virtude das almas elegantes. Que a empatia nasce do contato íntimo com as nuances da nossa própria humanidade. Que entre o que o outro diz e o que ouvimos existem pontes ou abismos, construídos ou cavados pela história que é dele e pela história que é nossa. Que o egoísmo fala quando o medo abafa a voz do amor. Que a carência se revela quando a autoestima está machucada. Que a culpa é um veneno corrosivo que geralmente as pessoas não gostam de ingerir sozinhas. Que a sala de aula é a experiência particular e intransferível de cada um.
Tenho aprendido com o tempo coisas que somente com o tempo a gente começa a aprender. Que o encontro amoroso, para ser saudável, não deve implicar subtração: deve ser soma. Que há que se ter metas claras, mas também a sabedoria de não se transformar a vida numa sala de espera. Que a espontaneidade e a admiração são os adubos naturais que fazem as relações florescerem. Que olhar para o nosso medo, conversar com ele, enchê-lo de cuidado amoroso quando ele nos incomoda mais, levá-lo para passear e pegar sol, é um caminho bacana para evitar que ele nos contraia a alma.
Tenho aprendido que se nos olharmos mais nos olhos uns dos outros do que temos feito, talvez possamos nos compreender melhor, sem precisar de muitas palavras. Que uma coisa vale para todo mundo: apesar do que os gestos às vezes possam aparentar dizer, cada pessoa, com mais ou menos embaraço, carrega consigo um profundo anseio de amor. E, possivelmente, andará em círculo, cruzará desertos, experimentará fomes, elegerá algozes, posará de vítima para várias fotos, pulará de uma ilusão a outra, brincará de esconde-esconde com a vida, até descobrir onde o tempo todo ele está.
♥Ana Jácomo♥
http://anajacomo.blogspot.com/2009/10/com-o-tempo_03.html
Cheiro De Flor Quando Ri
Como é bom ler Ana Jácomo. Suas palavras estão cheias de uma sabedoria cativante. Elas sempre encontram eco em alguém. Tudo muito bem dito. Tudo na fórmula certa. Um convite ao importante. Um brinde a vida. "A felicidade vibra na frequência das coisas mais simples..." São nessas palavras e na rica simplicidade do seu escrever que a minha felicidade, aquela que é apenas uma das muitas felicidades espalhadas por aí, vibra e se anima um pouquinho. Porque sempre há de se buscar mais beleza para alimentá-la. Suas palavras estão cheias de uma sabedoria cativante. Como sempre, tudo muito lindo e verdadeiro! O mundo precisa de gente, que escreva com sinceridade sobre todos os sentimentos... Gente que facilita o nosso acesso às coisas mais complexas que se escondem no fundo d'alma.
Imagem: Google Com amor e carinho,
♥Sílvia Costardi♥
É, de facto, um belíssimo texto.
ResponderExcluirBárbaro!
ResponderExcluirJá comentei na origem, refaço meu comentário parabenizando Ana, que em tudo tem razão, até na imagem simples que escolheu. Nem sempre a imagem de arte, serve. é o texto que brota da alma que encanta e ensina.
+++++PARABÉNS!
Beijos
Mirze
Tempo não é vento. A gente que use bem :)
ResponderExcluirbeijoss :)