quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Das árvores, poema

As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas, multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fossem.

As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram a terra e o sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.

Antonio Gedeão (Rômulo Vasco da Gama de Carvalho)
Lisboa - 1906-1977

7 comentários:

  1. E seja o vosso falar sim, sim, e não, não. Ordem Cristã.

    Lindo post, grande verdade.

    Abraço

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  2. Belíssimo post!

    No dia da Mãe Arvore. Ela merece!

    Beijos

    Mirze

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  3. Saber que precisamos das àrvores para a nossa sobrevivência.
    Justa e bela a homengem.

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  4. Tenho uma ligação muito forte com árvores, desde criança...já até plantei uma, e acompanhei
    todo o seu crescimento. Ficou linda! Pena que tive de mudar de casa e não pude levá-la comigo :)
    Obrigada Aclim, Mirze e Mariana

    beijos procês

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  5. Cir, António Gedeão tem poesias incriveis.
    Poeta maior da lingua portuguesa.
    Beijo

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  6. Eu teno fixação por imbondeiros.
    Aliás sempre ando na berma das tardes com um imbondeiro debaixo do braço.
    Beijo

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  7. GED, aqui no Brasil ainda temos alguns embondeiros ou baobás como é conhecido por aqui.
    O Estado de Pernambuco é o que possui o maior
    número da espécie, que está quase em extinção!
    Concordo contigo: Gedeão tem belíssimos poemas!

    um beijo

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