sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ponto, de vista


Penso que o ensino nas escolas pouco evoluiu desde que concluí o ensino fundamental e médio, e lá se vão... muitos anos. As crianças continuam sendo bombardeadas por conteúdos excessivamente teóricos, com uma profundidade e detalhamento desnecessários, sem conexão com a vida cotidiana, obrigando-as a decorarem um sem número de informações absolutamente inúteis, guardadas na memória volátil, apenas para fazer a prova e tirar uma boa nota ou atingir a média.

Costumo ilustrar essa opinião com uma pergunta que minha filha me fez quando tinha 10 para 11 anos:

- Mamãe, pra que eu preciso saber que a língua do caracol se chama rádula?

Eu não soube responder, vocês saberiam?

Não seria mais interessante se as crianças fossem para a escola e assistissem palestras sobre temas atuais, que as ajudassem a compreender o mundo que as rodeia; se elas fossem preparadas para as relações interpessoais, através do desenvolvimento da solidariedade, empatia, cortesia; se fosse dada mais importância à redação, ao estudo da língua, à origem das palavras, em vez de força-las a decorar regras gramaticais que logo vão ser esquecidas;  se a teoria fosse sempre vinculada a uma aplicação prática do dia-a-dia?

Estou lendo uma prova de Biologia de minha filha, que está cursando o primeiro ano do ensino médio, que pergunta o seguinte:

A teoria celular proposta por Schleiden e Schwann em 1839 afirmava que todas as células vivas têm membrana nuclear e núcleo individualizado. Esta afirmativa é falsa ou verdadeira? Justifique sua resposta.

Tempo para pensar...

Talvez em algum momento do passado eu tenha sabido a resposta, não posso afirmar com certeza. Neste exato momento eu não faço a mínima idéia se a afirmativa está correta ou não. Tenho um palpite, mas não saberia justifica-lo.

Vou transcrever a resposta de minha filha na prova:

“Falsa. As células procariontes das bactérias e cianobactérias não possuem membrana nuclear e seu núcleo é desorganizado, disperso no citoplasma. Além disso as células procariontes possuem poucas organelas.”

E agora? Ela acertou ou errou a reposta? Nada de google...

Sua resposta foi considerada correta e ela ganhou os dois pontos que a questão valia.

Tenho quase certeza que se eu repetir a pergunta hoje (a prova foi aplicada em 22/03/11) ela, provavelmente, não saberá a resposta. E essa pergunta nem é das piores, se formos ver as perguntas de física ...

E aí eu me pergunto, que utilidade tem um ensino dessa forma, que prepara o aluno para responder questões complexas de diversas matérias e entrega para a sociedade jovens que não sabem escrever, não sabem ler, precisam de calculadora para fazer contas simples, excessivamente preocupados com ter em vez de ser, consumistas, que colocam a aparência acima da saúde, que aprendem, momentaneamente, a obter a equação horária dos espaços de um ponto material que inicia o seu movimento (no instante zero) no espaço 20 m de uma trajetória, com velocidade de módulo 5 m/s contrária à orientação da trajetória, e aceleração constante de módulo 4 m/s² a favor da orientação da trajetória, mas não sabem para onde ir?

É claro que a responsabilidade de alguns desses problemas não é exclusiva da escola, mas acho que ela não tem contribuído como poderia para preparar nossas crianças no sentido de torna-las seres humanos comprometidos com o próximo, com o meio ambiente, social e politicamente responsáveis, enfim seres integrais em todos os sentidos.

A maioria das crianças que eu conheço vai à escola porque é obrigada e não pelo prazer de estudar, deve haver alguma coisa errada nessa equação, pois não há nada mais estimulante do que aprender.

Quantas gerações mais serão necessárias para que se perceba que há algo errado com essa forma de educar nossas crianças? O mundo mudou, a informação hoje está disponível através de uma rápida pesquisa na internet, através do celular e outros dispositivos portáteis que armazenam centenas de livros. Para que ficar decorando informações inúteis que estão disponíveis na velocidade de um click? Seria muito mais útil orientar o acesso a essas informações de forma segura, através da indicação de sites confiáveis e ensinando a fazer uma leitura crítica para a produção de textos que não se atenham ao simples “copiar, colar”.

Vejo as escolas gabando-se de que aprovaram tantos alunos no vestibular de medicina, outros tantos em engenharia, direito etc  Gostaria de ve-las divulgando que seus alunos desenvolveram um projeto para ajudar uma comunidade carente, que escreveram um livro  ou lideraram uma campanha contra a violência, contra a corrupção, contra a falta de serviços básicos gratuitos de saúde e educação, que estão preocupados com o bem comum e não apenas com seus próprio bem estar.

Utopia? Ingenuidade? Talvez. Mas ainda espero assistir uma mudança de rumo nessa trajetória cujo movimento, espero, não seja do tipo MCU – Movimento Circular Uniforme  (deu pra perceber que Física não é minha matéria favorita?).


2 comentários:

  1. Lucia, tem uma doutora em educação e literatura aqui de Porto Alegre que tem uma frase muito boa. Ela diz que "apesar da escola, a criança aprende".
    Beijosss

    ResponderExcluir
  2. Concordo inteiramente com a doutora, porque a maior parte das coisas que aprendí ATÉ HOJE, foi fora da escola!

    beijos, Lúcia

    ResponderExcluir