segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"O animal agonizante" ( trechos )




É importante traçar uma distinção entre o morrer e a morte. O morrer não é um processo ininterrupto. Se a gente tem saúde e se sente bem, é um processo invisível. O final que é uma certeza nem sempre se anuncia de maneira espalhafatosa. Não, você não consegue entender. A única coisa que você entende a respeito dos velhos quando você não é velho é que eles foram marcados pelo tempo. Mas compreender isso só tem o efeito de fixá-los no tempo deles, e assim você não compreende nada. Para aqueles que ainda não são velhos, ser velho significa ter sido. Eis uma maneira de encarar a velhice: é a época da vida em que a consciência de que a sua vida está em jogo é apenas um fato cotidiano. É impossível não saber o fim que o aguarda em breve. O silêncio em que você vai mergulhar para sempre. Fora isso, tudo é tal como antes. Fora isso, você continua sendo imortal enquanto vive.


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(...) Não é o sexo que é corrução - é o resto. Sexo não é só atrito e diversão superficial. É também a maneira como nos vingamos da morte. Não se esqueça da morte. Não se esqueça da morte jamais. É verdade, também o sexo tem um poder limitado. Eu sei muito bem quais são os limites desse poder. Mas me diga uma coisa: existe poder maior?


Philip Roth, Nova Jersey (EUA), 1933

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