segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Um Poema: Correspondência

Tenho um sol íntimo
que corresponde ao astro-rei.
A minha aurora interna se encontra
com a aurora real,
e o esplendor é imenso!

Alcanço o meio-dia
e os meus medos se achatam
como sombras pisoteadas
pela verticalidade dos dois sóis
alinhados:
sol
e
sol.

Mas tenho que cumprir
um ciclo de declínio,
e meu amarelo interno
em ocre entardece.
As asas da luz quedam como pálpebras
que não sustentam o peso dos cílios escuros.

O céu internado em mim
importa matizes sanguíneos
vazados do crepúsculo exterior:
o azul é uma cor fraca
derrotada pela escuridão.

Meu sol íntimo agora
deve estar nascendo
em outro hemisfério
do qual nada saberei.
De lá ele ilumina uma lua interna
correspondente à lua real,
e que também não tem luz própria,
uma terra erma e prateada.

Algum dia o meu céu noturno interno-real
corresponderá ao azul
desse outro hemisfério virtual?
























Gaspar David Friedrich - Silêncio


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5 comentários:

  1. um sol íntimo só pode ser maravilhoso!

    beijos

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  2. Me lembrei que para estar perto do Sol...
    passamos a noite toda no breu...
    aí você pode pensar na luz das velas...
    das lamparinas...da luz elétrica...
    mas...para a escuridão da angústia...
    não existe como remediar...
    só passando por ela para...
    enfim...chegar à Luz...
    Beijos
    Leca

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  3. Marcantonio, o poema tem um sol íntimo, e você tem um talento indescritível e ainda bem que extrovertido :)!
    bj

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  4. Marcantonio
    Acredita que em mim está a acontecer um eclipse solar?
    Ciclo de declínio...

    Excelente!
    bj
    Rossana

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  5. Dentro de nós, universos, esses astros paralelos nos regulam, iluminam e escurecem.
    Um lindo poema jogando luz sobre o que não vemos, só vivemos.

    Abraço grande.

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