domingo, 7 de novembro de 2010
"A hora da Estrela"
— E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
— Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de idéia.
— E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
— Macabéa.
— Maca — o quê?
— Bea, foi ela obrigada a completar.
— Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.
Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse.
— pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...
— Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande divida de honra.
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro, canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
— Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?
Trecho do livro de Clarice Lispector "A hora da Estrela",1997.
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a hora de um estrela que nunca foi estrela e talvez nem gente de verdade
ResponderExcluirExcelente lembrança Alexandre.
ResponderExcluirClarice Lispector forever...
Beijos
Carla
Clarice forever [2]
ResponderExcluirMaravilhosa demais!
Alee...
ResponderExcluirsou muito suspeita para falar de Clarice...
e de Macabéa...uma felicidade triste...
"— Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?"
O silêncio...
A ruptura...
Esse trecho é lindo mesmo...
beijos
Leca
Meninos e Meninas...
ResponderExcluirQue bom que gostaram, foi ótimo dividir esta passagem do livro com vocês.
Acho triste ler algo e guardar pra si.
Bjs e abraços,
Alexandre Pedro
tão pobre que só comia cachorro quente =X
ResponderExcluiradoro este trecho, assim como o final maravilhoso que Clarice nos fornece
...pois é...difícil escolher o melhor trecho...enfim, Clarice.
ResponderExcluirValeu pela participação,
abraço
Alexandre Pedro