quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"A fiandeira do dia"...


Noite de lua, boa pra parir,

boa pra pintar a boca,

boa pra doidar, fazer tempestade

em copo d'água. Boa pra loba,

pra cachorro, boa até pro cão,

ele.

Na mata a noite aclara, saio pra ronda,

reviro, conto estrelas com a ponta dos dedos,

ninguém além, insetos noturnos,

vampirinhos entre as folhagens.

Rainha a mata é minha, aranha

teço os fios negros do longo caminho

e o rio que surge é espelho,

me vejo sou, a outra,

sou a velha que faz mil anos

colhe o fruto que ainda se chama noite

e colhe também o sol, recolhe junta

esse fruto púrpura que desmancha o véu

das trevas, apruma o fio de luz,

Itálicosustenta o firmamento côncavo rebento,

desfia a escuridão, funda a terra,

rio seco, soco temporão

é flor no estômago do tempo

que passa esse tempo.

- Vai me diz pra quê passa, vai!

Desviro desanoiteço.



Jussara Salazar, Caruaru(PE), poeta, artista plástica, designer. Livros publicados: "Inscritos da Casa de Alice", "Baobá", "Poemas de Letícia Volpi", "Natália". Tem livros publicados também no México, Chile, Argentina, Espanha e EUA.

3 comentários:

  1. Inteligente, engraçado e com ritmo. Resumo: muito bom.

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  2. Ela faz poesia como se estivesse conversando, de uma forma bem direta. Gosto demais "boa até pro cão, ele..."!?

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