Noite de lua, boa pra parir,
boa pra pintar a boca,
boa pra doidar, fazer tempestade
em copo d'água. Boa pra loba,
pra cachorro, boa até pro cão,
ele.
Na mata a noite aclara, saio pra ronda,
reviro, conto estrelas com a ponta dos dedos,
ninguém além, insetos noturnos,
vampirinhos entre as folhagens.
Rainha a mata é minha, aranha
teço os fios negros do longo caminho
e o rio que surge é espelho,
me vejo sou, a outra,
sou a velha que faz mil anos
colhe o fruto que ainda se chama noite
e colhe também o sol, recolhe junta
esse fruto púrpura que desmancha o véu
das trevas, apruma o fio de luz,
sustenta o firmamento côncavo rebento,
desfia a escuridão, funda a terra,
rio seco, soco temporão
é flor no estômago do tempo
que passa esse tempo.
- Vai me diz pra quê passa, vai!
Desviro desanoiteço.
Jussara Salazar, Caruaru(PE), poeta, artista plástica, designer. Livros publicados: "Inscritos da Casa de Alice", "Baobá", "Poemas de Letícia Volpi", "Natália". Tem livros publicados também no México, Chile, Argentina, Espanha e EUA.
Inteligente, engraçado e com ritmo. Resumo: muito bom.
ResponderExcluirAdorei a parte boa para doidar!!! :)
ResponderExcluirEla faz poesia como se estivesse conversando, de uma forma bem direta. Gosto demais "boa até pro cão, ele..."!?
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