terça-feira, 31 de agosto de 2010
"Monólogo de Segismundo" Declamado Por Dan Stulbach
Nossa amiga bípede que fala postou o "monólogo de Segismundo" do Pedro Calderón de La Barca (1600-1681). Pois esse monólogo foi declamado por Dan Stulbach no filme Tempos de Paz, dirigido pelo Daniel Filho (ele também faz parte do elenco) e que conta também com Tony Ramos.
A história é mais ou menos a seguinte:
Ao funcionário da imigração do porto do Rio de Janeiro, Clausewitz, que vivenciou a tragédia, falou com forte sotaque polonês: Sou agricultor, estou aqui porque o Brasilll precisa de maos para a lavoura! O Brasilll precisa de maos para a lavoura!
E por arranhar o português - o que ninguém fazia - inclusive declamando Drummond, esse ser incomum se encrencou. Os funcionários, que se entreolhavam, não tinham dúvidas: ele parecia subversivo.
E as novas diretrizes para os tempos de paz ainda não chegaram, as regras até então disponíveis são para os tempos de guerra. E a guerra recém acabou e os navios traziam imigrantes para colonizar o Brasil. Afinal, o Brasil precisa de mãos para a lavoura.
Cabia, portanto, ao chefe do setor interpretar e decidir caso a caso.Os que entram e os que devem seguir viagem.
O suspeito do Clausewitz foi levado para o sótão - ou para o porão.
Estranho muito estranho, suas mãos são suaves, como as de uma criança. Mãos desse tipo, como todos sabem, nunca conheceram o peso da enxada. Clausewitz só pode ser um mentiroso. Que crime ele cometeu além de ter nascido?
Porque, ao final de tudo, Clausewitz, era um ator e que grande ator.
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Maia, a tradução que consegui não é tão bonita quanto a que ele recita. É mesmo muito intensa essa cena. É muito intenso esse texto.
ResponderExcluirEsse Dan Stulbach é mesmo um grande ator. Virei fã dele depois desse filme que recomendo.
ResponderExcluirLinda a cena, excelente o ator.
ResponderExcluirE que bom esse blog.
Um homem
ResponderExcluirNa presença de outro,
Confrontando-se com ele mesmo,
E com o outro,
E outros seus iguais,
Ou talvez não!
Comparando-se a pedras e animais…
Não entendido…
Um incómodo, estranho…
Igual?
Que mesmo parecendo
Não é, nem são…
Iguais?
Não a ele, diferente, diferentes,
Bem diferente dos outros
Afinal o que é que ele é?
O que é que eles são?
Uma barreira? Empecilhos?
Entrave ao seu deixa andar?
Ao seu bem-estar?
Não sei, mas…
Porque me obrigam a pensar?
Exigindo liberdade?
Querendo igualdade?
Privilégios, se outros não têm?
Só por ter nascido homem?
Talvez esse seu grande delito,
E o defeito de não querer nem quererem
Ser assim…
Igual, iguais, aos outros…
Que os privilégios, são meus!
E não me obriguem a pensar.
FMN, você está a fazer poesia sem perceber! Que belo comentário!
ResponderExcluirAdorei :)
Todas as manhãs,ao acordar, ligo a TV e deixo lá enquanto me preparo para sair. Dessa vez, eu estava cansado de ver e ouvir tanta desgraça nos jornais matinais. Passei rapidamente os canais e tive a sorte de ser preso por uma das cenas de Tempos de Paz. O diálogo entre meus amigos Dan e Tony, o cenário, a construção da cena... tudo fazia de mim um prisioneiro. Eu estava atrasado para o trabalho, chovia muito e eu sabia que aquilo iria me atrasar ainda mais. Porém, fiquei. Fiquei de pé, como se assim eu pudesse agilizar o desfecho da cena... Nossa! Meu Deus! Que atraso maravilhoso! Quando Dan lançou o seu monólogo não deu para resistir. Que texto sublime, desenhado de emoção, duras e doces reflexões,pleno de significações... Eu, que sou um amante da palavra, fui tomado por uma emoção indescritível. Chorei de emoção, de alegria por estar diante de uma obra que tomava conta de mim como uma uma música clássica que enche o coração e o faz bater mais forte e intensamente, chorei de orgulho e de prazer por ter o privilégio ter uma pequena parte da minha manhã preenchida e plena de arte. Chorei de felicidade por estar diante de uma poesia composta por imagens. Não menos bela e poética foi a atuação de Tony, que quieto, calado, atento se deixou invadir e se aprisionar pela força da palavra bem dita e bendita. Os dois foram perfeitos... como então não querer tê-los como amigos? Se antes desse filme eu os via como atores, agora os vejo como amigos. São meus amigos sim, meus grandes e admiráveis amigos...Eles queiram ou não.
ResponderExcluirCaro José. Tua manhã foi feliz, a minha foi a tarde...sentado no sofá, ladeado por dois gatos, um persa preto de nome Shiva e outra de pelos pretos e brancos, chamada de Penélope, deixavamos as horas passar, sem ter nada que fazer. E de repente em um canal qualquer de tv, abresse uma janela e começo a ver "Tempos de Paz"...um filme muito bem feito e o encontro do "agricultor polonês" com o "ex-torturador" e principalmente o monólogo feito por Dan Stulbach é fantástico. Nasci dois anos depois de terminar a IIª Guerra Mundial, mas trago ainda muitas lembranças dos tempos de "paz". Esta mesma emoção que tiveste, também as tive. Somos privilegiados por tal espetáculo.
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