Ter-te-ia dito se aqui te tivesse visto hoje, por entre as pestanas cheias de sono e as faces coradas de Verão, mas tu já cá não estás e então digo-te na mesma. Levei a música que me fizeste para a praia. Não a fiz, dirás e tens toda a razão. Às vezes acontece, termos razão e os outros darem-na toda e ainda assim, continuarem a dizer coisas sem razão nenhuma. É o caso. Hoje levei para a praia a música que fizeste. Não te zangues!
As praias pela manhã comovem-me. Pode não te parecer, mas comovo-me com coisas assim, muito pequeninas. As ondas atrevidas ás 9 da manha num areal perfeito, o pai jovem, com um filho pequeno pela mão, uma avó e um castelo de areia para um neto. A musica que fizeste no meio disso tudo. São precisas poucas coisas para se encontrar o sentido de tantas. Coisas muito pequenas são a água, coisas muito simples são o sal. Complicamos. Eu complico muito. Estar agora a escrever-te, ter ido ali para te contar isto, faz-me muita confusão, por exemplo. Devia bastar-me o momento exacto em que a musica tocava pela cara. Um vento atrevido a desfazer-me caracóis. A musica de um estranho e as razões pelas quais a escolheu. A minha vida tão preenchida de há meses, refém de memórias que agora parece pertencerem aos outros. O sono que não chega à noite a vir como um bicho manso, e encaixar-se nas orelhas e na curva do pescoço. Não eras tu que ali estavas, era apenas a musica que me fizeste, a musica que me fizeste e o sono e ainda assim, a esta hora venho cá dizer-te que, bom que foi.
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