Depois de muitos anos, ele adentrou no velho casarão descascado, cenário de tantas festas e de um jardim florido, cultivado com muito esmero, pela outrora dona da casa. Antes de chegar na porta, foi surpreendido por uma criatura horrenda, toda vestida de cinza que, alvoroçada, andava em círculos ao redor da casa, sem conhecer o seu lugar, espalhando sujeira por onde se movia. Ele achou estranho e começou a persegui-la. Assustada, ela imediatamente correu para os fundos do jardim, em direção ao pátio de trás da casa. Surpreendentemente, ao invés das árvores, azaléias e beijos, tão presentes em sua memória, ele encontrou presas, famintas e sedentas, sob um chão árido de terra batida, mais uma dúzia dessas estranhas e horríveis criaturas, totalmente vestidas de branco. Em homenagem ao velho senhor, decidiu alimentá-las e dar-lhes água. A coitada da criatura, ao vê-las se fartando, quis voltar para o cativeiro, e aproveitando que ele abriu a porta, entrou, aproximou-se do grupo, e tentou servir-se. Foi quando elas começaram a machucá-la, pinicando-a com força. Desesperada, ela encontrou forças para voar por cima da cerca e voltar para o jardim. Achando graça do ocorrido, ele pegou uma quantidade ainda maior de milho e deu para a pobre criatura, que para a inveja das demais passou a se banquetear sem concorrência alguma. Mais tarde, em visita ao velho senhor, que jazia deitado esperando a morte no hospital, ele ficou sabendo que ela morava no jardim, pois como tinha problema de relacionamento não podia cohabitar com as outras, e que se chamava Marylou. Havia quem dissesse que era amaldiçoada, que era o bichinho de estimação de uma bruxa malvada que passara a assombrar o casarão nos últimos anos. Até o semi-morto riu quando sua irmã, descrente com o gênero feminino, disse: - Que coisa horrível, até no mundo das galinhas elas são assim. Invejosas!
Muito bom! Só me toquei que era uma penosa quando li o nome.
ResponderExcluirAs penosas não são fáceis.
ResponderExcluirObrigado.
Terráqueo, não havia me dado conta que o post agora era do Mínimo ajuste!:) Pensei, o moço tá delirando por conta dessas galinhas, rsrsr.
ResponderExcluirNo meu caso tudo bem, estava há uns meses sem comê-las e hoje não resisti a tentação, acho que a criatura horrenda sou eu!!!!
Patricia,
ResponderExcluirA criatura horrenda agora ronda o mínimo ajuste.
Você é uma criatura beliíssima.
Bj.
Terráqueo que pena da penosa. "Assustada, ela imediatamente correu para os fundos do jardim, em direção ao pátio de trás da casa. Surpreendentemente, ao invés das árvores, azaléias e beijos, tão presentes em sua memória, ele encontrou... a assombrar o casarão nos últimos anos." Agora, estou num dilema: Sererão horrendas ou saborosas :)?!
ResponderExcluirGenial! Obrigada!
Sílvia
Silc,
ResponderExcluirAdoro uma galinha assada e um ovo cozido, mas tento não pensar de onde eles vêm. Muito obrigado pelo seu elogio.
Gostei. Bicho é igual a gente, tem problema de realacionamento.
ResponderExcluirObrigado Gerana.
ResponderExcluirOi Terráqueo, mesmo já tendo feito um comentário lá no "Contos Marginais", gostaria
ResponderExcluirde acrescentar que "a criatura horrenda", na
realidade, não tem nada de horrenda, ela é,
isso sim, uma vítima. Acredito que tenhas dado
esse título (talvez...!?) para criar um clima de suspense, ou de curiosidade. Tudo bem. Mas
horrendo mesmo é verificarmos o quanto existe
de crueldade entre os seres vivos, pensantes ou não. E isso a gente consegue captar muito bem em tua narrativa. As aves em geral, e as galinhas em particular, povoaram o meu imaginário de infância de uma forma lúdica. Ainda hoje gosto de vê-las ciscando no terreiro, masmo que seja em fotos ou filmes. Elas me transmitem o lado telúrico de um tempo
que está desaparecendo de uma maneira galopante!
Beijooo
Ahaahah, dei boas risadas. Até mesmo elas, as criaturas horrendas, têm problemas de relacionamento. Uma dia fui com meu sogro comprar ração para as galinhas. Ele me contou exatamente isso.
ResponderExcluirNão sei, não, mas não confio muito em quem gosta de galinhas!
ResponderExcluirCara Cirandeira,
ResponderExcluirO título de horrenda foi para apimentar a cocó, que no fundo é um bicho até engraçado. Agora bonitas não são. Só ficam bem apresentadas quando assadas. Daí eu as adoro. Quem diria, as remanescentes dos dinossauros viraram comida de primatas desenvolvidos.
Maia,
As galinhas efetivament desenvolvem um relacionamento "inter-penoso" e as rejeitadas penam no galinheiro. Até os animais tem essa horrenda característica de discriminar os diferentes.
Bípede,
Acho quem escolhe uma galinha ou peixe como bichinho de estimação não deve no mínimo estar muito interessado em desenvolver uma relação afetiva com os bichinhos.
Beijos.