sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Wislawa Szimborska




OS PENSAMENTOS QUE ME VISITAM NAS RUAS MOVIMENTADAS
Rostos. Bilhões de rostos na face da terra.
Dizem que cada um é diferente dos que já se foram
e dos que virão um dia.
Mas a Natureza – quem é que a entende?
– cansada do trabalho que nunca acaba talvez repita
suas ideias antigas e ponha-nos rostos já usados outrora.
  Pode ser Arquimedes de jeans que passa ao seu lado,
a czarina Catarina com roupa de brechó,
um dos faraós de pasta e óculos
. A viúva de um sapateiro descalço
  vinda de uma Varsóvia pequenina ainda,
um mestre da gruta de Altamira levando as netas para o zoológico,
um Vândalo cabeludo a caminho do museu
para se deliciar com os mestres do passado.
Os que tombaram há duzentos séculos,
há cinco séculos, há meio século.
Alguém levado em carruagem dourada,
alguém levado em vagão de extermínio.
Montezuma, Confúcio, Nabucodonosor, suas babás, suas lavadeiras
 e Semíramis que só fala inglês.
Bilhões de rostos na face da terra.
Meu, seu, de quem – você nunca saberá.
  Talvez a Natureza tenha que ludibriar
para dar conta dos prazos e da demanda
e pesque até o que estava submerso no espelho da deslembrança.
 
 
  Tradução de Henryk Siewierski 

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