segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Destruição

Henri Cartier-Bresson
 
 
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se veem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
 
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
 
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
 
E eles quedam mordidos para sempre,
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
 
 
Carlos Drummond de Andrade,  em  Lição de coisas.

3 comentários: