Todos os anos, são as lojas que primeiro anunciam a sua chegada. Todos os anos, vitrines luminosas piscam–piscam as suas cores, e a luminosidade dos shopping centers anunciam, na decoração do Natal, os seus apelos.
O
 Natal vem chegando e nos surpreendendo pelo avanço do tempo, pois, 
assim, antecipado nas vitrines, sentimos que o trenó de Papai Noel a 
cada ano se torna mais veloz, e os seus sinos anunciam a passagem da 
própria vida, nos braços do tempo.
O
 tempo é mágico e nos surpreende: mesmo sabendo que ele é sempre o 
mesmo, insistimos em repetir que, como um vento, o ano passa e sua 
velocidade, sentida quase como um lamento, nos convida a pensar, a 
rever, a revisar.
Mas
 o tempo nunca altera a sua velocidade. O que muda é a nossacontagem. 
Quando bem vivido, é lento; dentro dele cabe tudo aquilo que nos 
transformou, nos emocionou. No entanto, preso no acaso de nossas 
monótonas repetições, parece não ter saído do lugar. Quando nele 
confiamos e o amamos, ele nos traz decisões e as soluções tão almejadas.
 Contudo, quando o tememos, parece não nos trazer presentes, mas a dor 
da sua perda e de todas as ausências.
Tempo
 é sempre o mesmo e permanece invariável, maleável à nossa contagem, 
como a massa de modelar da nossa vida ou a matéria prima para os nossos 
sonhos. Tempo é Um. E como o Um iniciamos a contagem. No entanto, há 
muito tempo, entre os gregos, o tempo era Dois: duas palavras para 
expressá-lo, duas formas de compreendê-lo, duas maneiras de contá-lo e 
dois deuses para representá-lo - Khronos e Kairós.
Khronos
 surgiu no princípio dos tempos e foi formado por si mesmo. Unindo-se a 
Ananka ou Inevitabilidade, gerou a Terra, o Mar e o Céu. Permanece sem 
corpo, como um deus, conduzindo a rotação dos céus e o eterno caminhar 
do tempo. Como força, é capaz de devorar os próprios filhos, tornando-se
 um deus temido por todos. 
Kayrós
 é um pequeno deus, que se parece com um elfo. É representado por um 
belo jovem seminu, com asas nos ombros e nos tornozelos. Kayrós sempre 
corre segurando a sua lança. Sua cabeça contém uma única mecha, a marca 
da sorte de uma oportunidade:
Os
 gregos, como fazemos nós, contavam com Kairós para derrotar o tirano 
Kronos - o tempo da tão temida morte, do fim de todas as coisas. 
Khronos
 é o tempo cronológico, ou sequencial; é o tempo que se mede, que se 
perde, que se ganha. É o tempo que passa. Kairós é o tempo 
indeterminado, o tempo no qual algo especial acontece, o momento 
oportuno. É o tempo em potencial, tempo eterno, tempo de Deus. Kairós 
tem a duração de um movimento, uma criação. Khronos é o 
monótono,repetititivo e veloz tempo dos homens
O
 Tempo comanda os movimentos do Universo, marcando seu ritmo. Em sua 
forma Khronos, aprendemos a contar, a retroceder, a avançar. É em 
Khronos que conhecemos o passado, o presente e o futuro. Em sua forma 
Kairós, porém, o tempo possui asas nos pés, para que nos lembremos da 
eterna leveza do agora. Kairós é tempo do momento afortunado, tempo que 
tudo transcende, manifestando-se no eterno presente, instante após 
instante.
Os
 shoppings centers, as vitrines, os calendários e quase todos nós 
vivemos a maior parte do tempo em Khronos, contando o tempo que falta 
para a morte, para o fim das dificuldades que vivemos ou para a chegada 
das situações que desejamos. Esquecemos de Kairós, que passa levemente 
por nossos rostos com a leveza do vento, mostrando-nos que o agora é o 
único momento oportuno e é onde está a verdadeira vida.
E
 quando a decoração de Natal nos surpreende pela veloz passagem do tempo
 é como se nos deixasse uma mensagem: “Apresse o seu trenó, pois agora 
seu tempo é pouco para tudo aquilo que você esperou, nesse tempo, 
viver”.E isso acontece porque Khronos adora criar expectativas, por 
viver com medo da finitude. Khronos é muito triste e, por isso, conta e 
reconta. Kairós sonha e é feliz. Enquanto Khronos conta, Kairós sonha
Kairós,
 de um lugar dentro de nós, convoca, convida-nos, apela : “avance, 
confie , entregue-se a essas nuvens e deixe-me conduzir seu trenó”.
Por
 isso, se olharmos mais uma vez a decoração de natal, podemos escutar um
 outro tempo que nos fala . Um tempo que está além da simples idéia de 
finitude e nos avisa que é este - é este, e apenas este- o tempo único, o
 tempo oportuno, o Agora onde está a vida verdadeira.
Suspeito que, quando conhecermos verdadeiramente o amor, Kairós derrotará Khronos. Pois, já sentimos: um dia de amor, um instante de um acontecimento extraordinário ou um momento de extrema felicidade é o que faz o tempo parar, É quando, humildemente, Khronos se afasta e o tempo,lindamente ,se desgoverna, pára, avança , retrocede .Creio que um único dia de amor , ou um instante de plenitude equivale a mil dias na monótona contagem de Khronos numa vida superficial e incompleta
Suspeito que, quando conhecermos verdadeiramente o amor, Kairós derrotará Khronos. Pois, já sentimos: um dia de amor, um instante de um acontecimento extraordinário ou um momento de extrema felicidade é o que faz o tempo parar, É quando, humildemente, Khronos se afasta e o tempo,lindamente ,se desgoverna, pára, avança , retrocede .Creio que um único dia de amor , ou um instante de plenitude equivale a mil dias na monótona contagem de Khronos numa vida superficial e incompleta
Olhemos,
 então, mais uma vez a decoração do Natal, e vamos escolher. Podemos a 
tudo ver com os olhos de Kairós ou de Khronos. E então ,ali, 
encontraremos: o verde de nossos campos cuidadosamente cultivados ou da 
nossa imaturidade. Os frutos belos, brilhantes e coloridos ou esmaecidos
 e sem cor das ações que agora colhemos. As luzes que piscam revelando 
nossa instabilidade ou nossa mais profunda alegria. O vermelho do nosso 
amor ou das paixões que nos consomem. O impávido pinheiro que se revelou
 a partir de uma semente ou a árvore desgastada de nossas falsas 
conquistas.
Olhe bem: ali, logo ali, estarão os anjos em pequenas estatuetas vazias ou aqueles luminosos que foram libertos de dentro de nosso peito na forma de Generosidade, Compaixão, Solidariedade, Tolerância , Respeito às diferenças. O Noel de nossos sonhos ou o velhinho triste e cansado de nossas expectativas frustradas. As renas que nos conduzem e a elas nos entregamos ou em quem não confiamos e lutamos pela direção.
Olhe bem: ali, logo ali, estarão os anjos em pequenas estatuetas vazias ou aqueles luminosos que foram libertos de dentro de nosso peito na forma de Generosidade, Compaixão, Solidariedade, Tolerância , Respeito às diferenças. O Noel de nossos sonhos ou o velhinho triste e cansado de nossas expectativas frustradas. As renas que nos conduzem e a elas nos entregamos ou em quem não confiamos e lutamos pela direção.
Ali
 estão o presépio da nossa família, os laços vermelhos e dourados que ao
 longo do ano fizemos ou tudo aquilo a que nos amarramos. O trenó do 
nosso tempo ou de nossa saudade. 
Escute
 outra vez: ali tocam os sinos que nos convidam a sentir o nascimento de
 uma criança viva e linda dentro de nós. Nascimento que a todo ano se 
repete a nos lembrar a mais bela mensagem de amor que já se ouviu entre 
no Céu , no Mar, ou na Terra. Uma mensagem que marcou uma nova contagem,
 que inaugurou um novo tempo para a humanidade e que , por um momento, 
acredito, até fez Khronos e Kairós darem-se as mãos para recolher uma 
estrela que marcasse esse momento extraordinário, e servisse de guia e 
de inicio da contagem de nossa era. E para que pudéssemos compreender 
que é possível viver o tempo do extraordinário de Kairós, submetidos à 
contagem de Khronos,que rege nossas vidas.
Acredito
 que se olharmos outra vez, até na decoração do Natal haveremos de 
encontrar a nossa estrela que poderá trazer o muito do encantado que 
existe dentro de nós. Ela terá a beleza da verdade quando se tornar, 
dentro de nós, muito mais do que simples decoração.
Então
 que venha, que venha com o Natal, que venha um novo tempo, e que , mais
 do que do Natal uma decoração, que seja , que seja, um Natal ... de 
coração...
Feliz Natal!
Susana Meirelles
http://gentecomcaradevento.blogspot.com.br/ 

 
Sou ainda mais triste no Natal.
ResponderExcluirEu também.
ResponderExcluirBelíssima reflexão dessa moça! Belíssima!
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